Ainda não entendi o que propõem os governos do Brasil, Colômbia e México como solução para a crise política na Venezuela que se arrasta há uma semana desde que foi anunciada a vitória de Nicolás Maduro em uma eleição claramente roubada.
Querem negociar com Maduro e a oposição para que Maduro siga no poder ou para que ele saia e assuma o presidente eleito pela maioria dos venezuelanos? O eleito foi Edmundo Gonzales, segundo 70% a 80% das atas obtidas pela oposição.
Maduro diz o contrário: que o eleito foi ele, só não mostra as atas de cada urna com o número de votos atribuídos a cada candidato. Se mostrasse, e se elas confirmassem o que ele diz, não haveria crise. Com isso, ganhariam ele e o país, por ora convulsionado.
E por que Maduro não mostra as atas? Simples: porque elas o desmentem. Isso deveria bastar para, no mínimo, anular o resultado da eleição fraudada e convocar outra sob novas regras e fiscalização de órgãos internacionais. Não seria o ideal, concordo.
O ideal seria convencer Maduro a governar até janeiro, como manda a lei, e em seguida passar o poder a Gonzales, o presidente legitimamente eleito. Mas o ideal nem sempre é possível. E então? O que o Brasil, Colômbia e México têm em mente?
Bolsonaro só teve quatro anos para tentar se eternizar no poder como era seu desejo. Uma vez reeleito, endureceria o regime com a ajuda de um Congresso de direita e reacionário, como o que temos hoje, e com uma Justiça acuada como estaria. Bolsonaro fracassou.
Maduro teve tempo de sobra para construir a ditadura que insiste em chamar de democracia popular e socialista, e que de popular e socialista não tem nada. As ditaduras têm vergonha de se assumir como tal. A de 64 no Brasil levou quatro anos para tirar a máscara.
Em 2015, quando Maduro perdeu a maioria no Congresso, ele tratou de dissolvê-la com a ajuda da Suprema Corte, já sob seu controle. Aos poucos, foi apertando o torniquete sobre os demais poderes formais e informais da dita República Bolivariana.
Cooptou a Polícia Nacional e as Forças Armadas, subjugou a maioria dos partidos e censurou a imprensa. Seus governos desastrosos empurraram a Venezuela, dona das maiores reservas de petróleo do mundo, para o abismo onde ela se encontra.
Acenar com o quê para Maduro conformar-se em ir embora ao invés de entrincheirar-se para o combate que só piorará a situação do país? Com uma anistia ampla, geral e irrestrita para os crimes cometidos por Maduro? Como irão reagir os venezuelanos?
A verdade é que as chances de a Venezuela, um dia, vir a se democratizar estão unicamente nas mãos do seu povo e de mais ninguém.