InícioEditorialAlunos de direito denunciam empresa que vendeu visita ao STF e “sumiu”

Alunos de direito denunciam empresa que vendeu visita ao STF e “sumiu”

São Paulo — Conhecer o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e outras instituições sediadas na capital do país é o sonho de muitos estudantes de direito. E um sonho que parecia muito próximo de se realizar para alunos de uma universidade em São Paulo, mas que acabou se tornando um prejuízo considerável, além de uma frustração incalculável.

Estudantes da Faculdade Anhanguera, unidade de Itaquera, zona leste da capital paulista, receberam uma palestra da empresa Avance Assessoria, que vende “visitas técnicas” a Brasília. O pacote promocional de uma viagem de cinco dias foi oferecido por R$ 2.700, incluindo passagens, hospedagem, refeições e os passeios monitorados.

“Todo mundo ficou com os olhos brilhando, a gente não sabia o quão possível seria isso”, relatou a estudante de direito Sophia Chicarelli, de 19 anos, ao Metrópoles.

A apresentação, ocorrida em abril do ano passado, foi conduzida por Vagner Olegario, representante da empresa. “Ele explicou os lugares que nós iríamos: o Palácio do Planalto, o STF, o STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Chegou até a relatar que ele teria um contato muito próximo e que nós conseguiríamos ter um bate-papo com o ministro Alexandre de Moraes”, contou Sophia.

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Estudante tenta contato com representante da Avance

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Contrato de viagem a Brasília vendido pela Avance

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Um grupo de WhatsApp foi criado com Vagner e 17 estudantes que teriam comprado a viagem. Por lá, o representante mandava atualizações ao longo dos meses. No entanto, conforme a data de embarque se aproximava, os alunos passaram a se preocupar.

“A gente começou a achar estranho. Ele não contatou absolutamente ninguém, não respondia nenhum dos alunos. A gente tinha fé de que poderia ser um erro”, afirmou Sophia. A esperança dos estudantes acabou de vez no dia da viagem chegou. Vagner, representante da empresa, não havia retornado as dezenas de mensagens e ligações dos estudantes.

“É extremamente triste. Você fica lembrando de cada coisa que foi comprada, cada roupa. Muitas coisas foram deixadas de ser feitas com o dinheiro para se realizar um sonho. É de embrulhar o estômago”, desabafou Sophia.

A frustração foi ainda maior para Francielly Gonçalves, que se planejou para comemorar o 30º aniversário durante a viagem — que deveria ocorrer no período entre 22 e 26 de outubro.

“Dia 23 [de outubro] foi o meu aniversário. Eu falei para as meninas: ‘vamos comemorar em Brasília’. A gente tinha marcado de comprar bolo, um monte de coisa”, lamentou a universitária.

Francielly contou com a ajuda do marido para pagar as parcelas e até sentiu vergonha de contar que não tinha feito a viagem aos familiares e amigos. “Fiquei cinco dias de cama, não sabia o que fazer. Fiquei totalmente depressiva, não conseguia nem olhar na cara dos meus filhos. Eu só queria chorar. Fiquei com vergonha de olhar para as pessoas e falar: ‘ah, foi um golpe’”, afirmou.

Investimento

Vagner só apareceu no dia seguinte à data de embarque combinada. O representante da empresa chamou os alunos para uma reunião virtual, na qual tentou explicar o “sumiço”.

“Ele disse que separou um valor para as passagens, e que, no fim das contas, as passagens aumentaram e ele não tinha o valor total do subsídio. Ele alega que realmente pegou esse dinheiro que ele tinha guardado para as passagens e investiu em uma plataforma online”, disse Sophia.

Já Francielly relatou uma justificativa semelhante. Ela disse que Vagner afirmou durante a reunião que havia investido o dinheiro dos alunos “na empresa”. O representante ainda propôs uma quebra de contrato, isso porque uma cláusula garantia que, caso a viagem não acontecesse, o dinheiro seria devolvido em até seis meses — Vagner disse que só conseguiria devolvê-lo em 10, segundo os relatos.

As estudantes disseram também que a faculdade não prestou qualquer tipo de assistência depois do ocorrido. De acordo com os depoimentos de Sophia e Francielly, não houve orientação por parte dos coordenadores da unidade.

“A gente não recebeu nenhum caminho da faculdade, que foi quem abriu as portas para alguém fraudador”, afirmou Sophia. No contrato assinado pelos estudantes, a Anhanguera é desobrigada de qualquer responsabilidade em caso de problemas.

O que disse o representante da Avance Assessoria

O Metrópoles procurou a Avance Assessoria. Como resposta, Vagner Olegário apresentou um print de conversa de WhatsApp, afirmando que no dia seguinte à viagem. “Convocamos todos os alunos”, os quais ele contabiliza apenas nove, “para explicarmos os motivos do não embarque”, disse.

O representante afirmou que foi oferecida uma “proposta de devolução dos valores parcelados. Dos nove alunos, três aceitaram a proposta. Quanto aos outros seis, ainda estamos aguardando o aceite para inclusão”.

Vagner não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre os motivos do cancelamento e o que foi feito com o dinheiro.

A reportagem não conseguiu contato com a Faculdade Anhanguera. Nos canais disponíveis no site da universidade, o atendimento é direcionado apenas para alunos e pessoas interessadas em matrículas. O espaço segue aberto para manifestações.

O Metrópoles também apurou que alguns alunos registraram boletins de ocorrência na Polícia Civil e outros procuraram advogados para entrar com ações judiciais contra a empresa.

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