InícioEditorialAquele(a) artista que eu gosto vai se manifestar ou ficar em cima...

Aquele(a) artista que eu gosto vai se manifestar ou ficar em cima do muro?

Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO

Entra eleição, sai eleição e a pergunta sempre volta: aquele(a) artista que eu gosto vai se manifestar ou ficar em cima do muro? A minha cantora favorita (ou meu cantor) apoia o meu candidato ou não? A participação de artistas no campo político institucional não é exatamente novidade e há continuamente uma expectativa sobre essas presenças pela capacidade de engajamento e mobilização que são capazes (ou não) de promover. 

No Brasil, artistas foram importantes agentes contra a ditadura militar e em defesa da democracia, se engajaram nas Diretas Já, se empenharam em campanhas eleitorais de diferentes partidos e candidatos(as). Participaram de showmícios, quando eleitores(as) podiam escutar suas músicas favoritas para além dos discursos. Eventos posteriormente proibidos pela Justiça Eleitoral. 

Neste ano, assistimos a uma intensa mobilização em favor dos votos dos jovens. Artistas como Anitta, Taís Araújo, Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, entre outros, se posicionaram, pedindo que jovens entre 16 e 18 anos tirassem seus títulos eleitorais, já que o voto para essa faixa etária é facultativo. Resultado: segundo o TSE, entre janeiro e abril deste ano o país ganhou 2.042.817 novos eleitores com essas idades, um aumento de 47,2% em comparação ao mesmo período em 2018.   

Os exemplos não ficam restritos ao Brasil: quando Donald Trump concorreu à reeleição, fãs de kpop (pop coreano) foram ao TikTok para boicotar seus atos de campanha presenciais. A plataforma que é conhecida pelas dancinhas foi um espaço importante para a mobilização frente a um candidato reconhecido por seus comentários racistas e xenofóbicos. Muitos comícios do presidente republicano ficaram esvaziados e parte disso se deu pelo empenho dos kpoppers.

A participação política de um(a) artista não se restringe às eleições. Produtos culturais são capazes de provocar debates e presenças de artistas permitem ver disputas políticas outras que não a eleitoral-institucional. Afinal, como negar a importância, num país com índices alarmantes de LGBTfobia como o Brasil, de uma das principais artistas pop do país ser uma drag queen e uma artista travesti ter sido um dos principais nomes da edição do BBB de 2022? 

É o engajamento identitário mobilizado por esses(as) artistas que faz com que fandoms se mobilizem em torno de determinadas pautas. A cobrança pela presença dos(as) artistas, que citei no início desse artigo, indica que não é exatamente a declaração de voto que importa, mas as pessoas que se identificam com eles(as) e podem se engajar afetivamente e politicamente em determinadas questões. 

Mais do que o posicionamento pessoal, essas presenças permitem entender que a política não é ambiente restrito a estratégias e contas racionais, nem tampouco está circunscrita às institucionalidades, mas que está atravessada por afetos e se desenrola no cotidiano. Afetos sendo compreendidos enquanto engajamentos que passam pelas identidades. 
Pabllo Vittar, Anitta, Linn da Quebrada e tantas outras artistas têm mobilizado pessoas que partilham com elas modos de ver e estar no mundo, que se sentem atravessadas por determinadas pautas e experiências.

O destaque que dei a essas artistas não se dá de modo aleatório. Analiso que, desde as manifestações de Junho de 2013 – para além daquilo que foi intensamente discutido sobre o questionamento do modo verticalizado de fazer política institucional -, há em cena a presença (visibilidade e ação) de artistas pertencentes às minorias políticas. 

Mulheres, negras e negros, LGBTQIAP+ que, há décadas, estão à frente das reivindicações políticas no Brasil, se tornam ainda mais presentes nos cenários midiático e político atuais. Não é coincidência a eleição destacada de candidaturas de minorias nas eleições municipais de 2020, mesmo que em número ainda insuficiente na comparação com o que hegemonicamente define a política brasileira (masculina e branca). É, nesse contexto, que um yukê acaba tendo mais força do que determinadas palavras de ordem. 

*Thiago Ferreira é doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA e pesquisador associado ao Centro de Pesquisa em Estudos Culturais e Transformações na Comunicação.

Você sabia que o Itamaraju Notícias está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.

Últimas notícias

Biden classifica mandado de prisão contra Netanyahu como “ultrajante”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se pronunciou sobre os mandatos de prisão...

Descubra as fantasias íntimas dos famosos

Certos fetiches deixaram de ser tabus ao serem abordados em filmes como 'Cinquenta Tons...

Lucas Lima se manifesta e ironiza suposta dívida de condomínio

Lucas Lima decidiu usar as redes sociais para se manifestar sobre uma suposta dívida...

Hackers usam IA para fraudar reconhecimento facial

Uma nova e sofisticada ferramenta de deepfake está circulando na dark web, permitindo que...

Mais para você