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Argentina toma empréstimo, mas que pode pagar a divida são os brasileiros

O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, chega a Xangai nesta terça-feira (30) para tentar obter financiamento chinês – e até brasileiro -, tendo como fiador o Banco dos Brics, presidido por Dilma Rousseff.

Os empréstimos são cruciais para a economia argentina não parar, mas também para o país atravessar os próximos meses de corrida eleitoral. O governo argentino tem o apoio político do presidente Lula por um financiamento do BNDES e por uma ajuda do FMI. O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, chega a Xangai nesta terça-feira (30) para tentar obter financiamento chinês – e até brasileiro -, tendo como fiador o Banco dos Brics, presidido por Dilma Rousseff.

Os empréstimos são cruciais para a economia argentina não parar, mas também para o país atravessar os próximos meses de corrida eleitoral. O governo argentino tem o apoio político do presidente Lula por um financiamento do BNDES e por uma ajuda do FMI.

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires.

O governo argentino sai novamente pelo mundo em busca de dólares, mas, desta vez, o Brasil pode vir a participar do esforço de financiamento do comércio exterior bilateral, condicionado pelo resultado das negociações que começam nesta terça-feira, na China.

“As assistências do Brasil e da China, com o intuito de sustentar suas exportações à Argentina, por meio do uso de moedas locais, são ajudas para o plano do ministro Massa de chegar às eleições sem grandes sobressaltos, sem uma brusca desvalorização do peso no atual contexto de escassez de divisas”, explica à RFI o analista político Lucas Romero, da consultoria Synopsis.

A Argentina vive uma profunda escassez de dólares refletida nas reservas líquidas do seu Banco Central, atualmente negativas em cerca de US$ 1,7 bilhão. Sem recursos para importar, o país pode ter sua economia paralisada.

Por outro lado, sem reservas no Banco Central, a moeda argentina fica vulnerável a uma desvalorização descontrolada, e, consequentemente, uma maior inflação. É alta a pressão por uma desvalorização repentina do peso. Para o mercado, a incógnita é apenas quando, sendo as apostas para o período eleitoral, mais especificamente entre agosto e outubro.

Durante uma corrida eleitoral, com uma economia tão fragilizada, a tendência é que os agentes econômicos busquem o dólar como uma proteção. O risco é de um galope progressivo da inflação que, nos últimos 12 meses, acumula uma taxa de 108,8%, enquanto as projeções privadas apontam para 160% no final do ano, se o atual ritmo se mantiver.

Apoio chinês

Os mercados de capitais estão fechados para a Argentina, mas a China mantém um “swap” bilateral. Esse instrumento financeiro consiste na troca de moedas entre o yuan chinês e o peso argentino.

A Argentina pode recorrer a esse instrumento para importar produtos chineses, sem usar dólares. É um financiamento de Pequim para que a Argentina compre os produtos chineses. Há um mês, Argentina e China chegaram a um acordo em que o equivalente a US$ 5 bilhões podem ser usados para o país latino-americano intervir no mercado, contendo a pressão pela desvalorização do peso. Desse montante, o governo já usou cerca de US$ 2 bilhões em apenas um mês. A Argentina quer agora ampliar esse instrumento em, pelo menos, US$ 3 bilhões, chegando a US$ 8 bilhões. Tudo isso para aumentar o poder de fogo do Banco Central, à medida que se aproximam as eleições primárias de agosto e as gerais de outubro.

Esse plano não visa corrigir definitivamente as distorções da economia, mas apenas conseguir chegar até as eleições sem um colapso econômico.

Brics

O ministro da Economia, Sergio Massa, ficará em Xangai por três dias, antes de seguir para Pequim.

O Brasil aparece na visita por meio da ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) dos Brics, bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Na quinta-feira (1°), durante reunião com Dilma, o ministro argentino deve avançar na possibilidade de o NBD ser o fiador de um financiamento do BNDES brasileiro.

“Se o Brasil puder garantir importações para a Argentina, mesmo quando não há mais dólares no Banco Central argentino para financiar essas importações, ajudará a Argentina a se desviar do principal risco econômico que hoje paira sobre o país”, aponta Lucas Romero.

Ajuda do Brasil O BNDES financiaria empresas brasileiras que exportam para a Argentina. Assim, a Argentina continuaria a importar do Brasil, mas, em vez de pagar as empresas brasileiras imediatamente e com dólares, pagaria ao BNDES, em prazo futuro, e em reais.

É um instrumento parecido com o que os chineses já têm com a Argentina, e que levaram o Brasil a perder para o país asiático parte do mercado argentino. Para esse financiamento, porém, o BNDES precisa de uma garantia de que a Argentina terá condições de horar suas dívidas. E essa garantia, que a Argentina não pode dar, poderia vir do NBD.

Nesse contaxto, a ajuda do Brasil é fundamental. Brasil e China são, respectivamente, os dois principais sócios comerciais da Argentina.

Lula e FMI

O NBD, no entanto, não pode financiar países que não integrem os Brics. Uma saída, explicou o presidente Lula em 2 de maio, seria alterar o artigo 7 do estatuto do Banco para poder socorrer o país vizinho. “É preciso mudar um artigo para que se permita criar um fundo para ajudar os países”, indicou Lula, quando o presidente argentino, Alberto Fernández, foi à Brasília para tentar obter financiamento do BNDES.

“Você [Fernando Haddad] pode ir lá [à China] e explicar a situação da Argentina, sensibilizar o coração de homens e mulheres. Nem queremos que emprestem dinheiro para a Argentina, o que nós queremos é que eles nos deem garantias, porque aí facilita muito a relação do Brasil a Argentina”, acrescentou Lula no Palácio da Alvorada.

A ajuda do Brasil, no entanto, é apenas um paliativo do plano do ministro Sergio Massa. O ponto mais importante será daqui a duas semanas, quando ele deve viajar a Washington em busca de um novo crédito do Fundo Monetário Internacional. Um acordo financeiro com o FMI permitiria ao governo chegar às eleições de outubro sem um colapso econômico.

“A ajuda do Brasil aliviaria uma pequena parte dos problemas da Argentina. O crucial é um acordo com o FMI que permita fortalecer as reservas com dólares. Para isso, crises econômica e cambial não podem sair de controle. A situação argentina é muito precária”, explica à RFI o analista Gustavo Marangoni, diretor da consultoria M&R.

Metas

Outro contexto em que Lula mostra apoio ao país vizinho: “Eu pretendo conversar, por meio do meu ministro da Fazenda [Haddad], com o FMI para tirar a faca do pescoço da Argentina”.

A Argentina, no entanto, não cumpriu nenhuma das metas estabelecidas no atual acordo financeiro, e pretende usar o crédito para intervir no mercado, evitando uma corrida cambial.

“A inflação argentina poderia entrar em uma espiral em função de como evoluir, ou não, a negociação com o FMI”, adverte Marangoni.

Por | Uol

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