De copo descartável à caixa plástica de descarga de vaso sanitário. A água e a areia da praia de Ondina, em Salvador, amanheceram nesta sexta-feira (8) repletas de lixo. A sujeira se acumulou na altura do Instituto Baiano de Reabilitação (IBR). A Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) esteve no local ainda pela manhã para retirar o lixo, mas, por volta das 15h, quando a equipe do CORREIO retornou à praia, já havia uma nova onda de resíduos. O problema não é exclusivo de Ondina. Segundo a Limpurb, em 2021, foram coletadas mais de 8.680 toneladas de resíduos das praias de Salvador.
Ao longo da faixa de areia de Ondina, foi possível identificar que a maior parte do lixo era composta por copos plásticos e embalagens de picolé. Além disso, também havia embalagens plásticas, de margarina e de óleo de motor de carro, por exemplo. O objeto mais peculiar foi mesmo a caixa de descarga de privada.
(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)
(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)
(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)
(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)
Roberto Oliveira, de 57 anos, costuma pescar e mergulhar no local. Ele conta que sempre encontra latinhas de cerveja no mar. “O povo joga lixo na areia e no mar porque não levam uma sacola, não têm educação. A maioria aí é plástico e demora para se decompor”, diz ele. Mas Roberto também acredita que o acumulado de lixo vem de outras praias. “Falam que é do Rio Vermelho, até porque lá tem aquele canal”, acrescenta.
Segundo Roberto, essa quantidade toda de sujeira não é tão comum por ali e aparece mais após fortes chuvas. “Quando cheguei aqui, com esse sol todo, achei estranho”, conta. O vendedor de água de côco Vinicius Santos, de 18 anos, já não achou tão estranho assim.
“Esse lixo acumulado aí já tem uns dois dias. Não é sempre, mas de vez em quando fica essa situação assim. Eu já cheguei até uma vez a ligar para a Limpurb, mas eles não vieram, não é sempre que eles vêm”, diz Vinicius. O vendedor também relata que a sujeira provoca mau cheiro e atrai uma grande quantidade de pombos.
Mas isso não parece incomodar os banhistas. Na tarde desta sexta (8), a praia foi ocupada por quem aproveitou o sol para pegar um bronze e tomar uma cervejinha, intercalando com banho de mar para se refrescar.
Esse foi o caso de Ana Alice dos Santos, de 37 anos. Ela disse que faz um lazer consciente e, depois do passeio, não deixa lixo na praia. “Eu não trago sacola, mas vou guardando as latinhas debaixo da mesa e, no final, pego tudo e jogo no lixo que fica ali em cima”.
O lixo é uma ameaça para animais e banhistas
Um dos perigos é para os animais, que podem acabar se enroscando e ficando presos em materiais ou até mesmo os ingerindo. Além de impactar as espécies marinhas, os resíduos descartados nas praias também interferem na vida dos banhistas, que podem se ferir com determinados objetos ou até mesmo serem contaminados por doenças provocadas pela má qualidade da água.
(Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
Além disso, o lixo no mar afeta também a economia dos municípios, que precisam aumentar as despesas com a limpeza das praias e perdem a receita com o turismo, por exemplo. No setor da navegação e nas atividades pesqueiras, a produtividade tende a diminuir devido à morte dos peixes e à poluição dos oceanos, causada por esse lixo descartado de forma irregular.
Como acontece a limpeza dos 64 km de praias soteropolitanas?
De acordo com a Limpurb, diariamente, 156 agentes atuam na limpeza das praias de Salvador, que é dividida entre os turnos matutino, vespertino e noturno. Sobre o caso da praia de Ondina, a Limpurb afirmou que o local é limpo, diariamente, às 6h20 e que a maioria dos resíduos encontrados são provenientes de descarte irregular e conduzidos pela maré durante a noite.
São dois tipos: a manual e a mecanizada. A primeira trata-se da limpeza e manutenção da faixa litorânea das praias, desde o Subúrbio Ferroviário até a Praia de Ipitanga, com a retirada de resíduos, limpeza e catação nas áreas verdes e esvaziamento das cestas de praia. A segunda é a limpeza da superfície de areia e da aeração mecanizada, através do revolvimento da faixa de areia para remoção de resíduos enterrados.
Os resíduos encontrados na limpeza mecanizada são ensacados e transportados para as chamadas caixas estacionárias, que são contêineres subterrâneos existentes nas proximidades das praias. Os demais, assim como todo o lixo geral da cidade, vão para o Aterro Metropolitano Centro (AMC), localizado na Estrada CIA-Aeroporto, Km 6,5, onde recebem tratamento e destinação final ambientalmente adequada.
A Limpurb informou que, durante o Verão, realizou uma operação especial em diversas praias da cidade, instalando novos kits praias e placas educativas a fim de sensibilizar a população a evitar o descarte irregular de resíduos nesses espaços. Além disso, rotineiramente as redes sociais também são utilizadas para propagar conteúdos informativos e de reflexão acerca da importância de preservar o meio ambiente.
Quanto tempo levam para se decompor?
- Papel – De 3 a 6 meses
- Tecido – De 6 meses a 1 ano
- Pneus – 600 anos
- Vidro – Mais de 1.000 anos
- Borracha – Tempo indeterminado
- Plástico – Mais de 400 anos
- Metal – Mais de 100 anos
- Alumínio – Mais de 200 anos
- Náilon – Mais de 20 anos
- Madeira pintada – Mais de 13 anos
- Cigarros – 3 meses a 20 anos
- Isopor – 8 anos