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Bairro do Tororó vive onda de furtos com portões arrancados, invasão de casas e até de sauna 

É na madrugada, entre 4h e 5h, que tudo acontece. Portões dos edifícios são arrancados, paredes são escaladas e casas invadidas, pontos comerciais são arrombados. Desde o início do ano, o Tororó, um dos bairros históricos de Salvador, vive uma onda furtos – uma média de seis ocorrências por semana, segundo os moradores. Eles dizem que os crimes são praticados por usuários de drogas, estimulados pelos inúmeros ferros-velhos instalados no Centro da cidade e no seu entorno. E a situação é tão preocupante, que as câmeras de segurança viram enfeites. 

“Ninguém está aguentado! Todo o dia a gente tem pelo menos um relato de que eles (criminosos) entraram em algum lugar. Um prédio teve os portões arrancados duas vezes em 24 horas! Dois dias antes quatro deles circularam por aqui, fingindo que estavam pegando lixo para reciclar, mas na verdade estavam observando tud, fazendo uma levantamento da área.   A gente acredita que foi um deles fez isso. O prédio tem câmeras, logo na entrada e é bem visível, mas mesmo assim não intimidou. Eles estão nem aí”, declarou Valnei de Jesus Almeida, líder comunitário, que fez referência aos furtos ocorridos no Edifício Cidade Remanso nos dias 30 de abril e 01 de maio.  

O prédio em questão fica na Rua da Capelinha, conhecida como a Capelinha do Tororó. Nas imagens que foram disponibilizadas à reportagem, um homem carrega um dos portões de alumínio. “Ele levou um (portão) da entrada principal e o outro que liga a garagem ao play. O inacreditável foi a audácia! Não levou tudo de uma vez. Em um dia arrancou um e no dia seguinte, puxou o outro. Tudo depois das 4 da manhã”, contou o autônomo Márcio Sandes, 50, que duas tias que moram em um dos apartamentos – uma de 79 e outra de 91 anos.

O edifício não tem porteiro e contava com acesso livre à escadaria do prédio. “Passei dois dias aqui dormindo na casa delas. Não podia deixá-las sozinhas”, disse o sobrinho. No primeiro dia em que o ladrão agiu, um morador escutou o barulho. “Foi de alguém se jogando contra alguma coisa. Provavelmente foi isso que ele (ladrão) fez, usou o próprio corpo contra a estrutura e depois sair arrancando. Quando o morador apareceu na janela, já viu o cara levando o portão. Já no segundo dia, ele agiu que ninguém viu. Com o feriado, aqui ficou ainda mais deserto e chovia bastante”, contou Sandes. 

O conserto dos portões – hoje de ferro – custou aos moradores R$ 4 mil. “Não pude sequer fazer uma cotação de preços. Tive que resolver o problema às pressas, porque estávamos todos vulneráveis”, contou a subsíndica, a aposentada Elizete Carvalho, 63. No entanto, o medo de um novo ataque é grande.  “No roll de entrada temos mais componentes feitos de alumínio, como grades, as tampas que protegem os medidores de energia e água. Estamos todos preocupados porque do início do ano para cá, estamos tendo vários casos de furto como nunca tivemos. A polícia (Militar), quando vem, só passa e vai embora”, declarou a subsíndica. Ela disse que o condomínio registrou queixa na 1ª Delegacia (Barris). “Mas até agora, ninguém estava aqui. Vocês (reportagem) são os primeiros que nos procurou”, emendou a subsíndica. 

Sauna  
O nome Tororó tem origem indígena, que significa, na língua tupi “jorro de água” ou então “rio barulhento”. Vizinho dos bairros Engenho Velho de Brotas, Garcia, Barris, Nazaré e Boa Vista de Brotas, o Tororó tem o Apaxes do Tororó, o mais antigo bloco de Carnaval que traz como inspiração os povos indígenas desde 1968, levando alegria e dando ênfase no trabalho de preservação dos povos originários. “Parte da história da cidade está aqui e não vemos o cuidado merecido como em outras regiões da capital, como a Barra? Falta segurança aqui também! ”, disse o líder comunitário Valnei de Jesus. 

Por pouco ele não deu de cara com os criminosos há três semanas. “Tentaram entrar na minha casa, mas neste dia estava acordado. Não conseguia dormir. Assistia televisão quando escutei alguém forçando a portinhola. Era umas 4h. Quando fui ver o quem era, correram. Vi uns dois em disparada. Eles agem no final da madrugada, porque as pessoas ainda estão com o sono pesado e dificilmente acordam, ainda mais num período chuvoso”, contou. 

No dia 12 de abril, a Sauna Planetário 11, Rua José Duarte, a principal do bairro,  foi invadia duas vezes pela mesma pessoa: uma mulher. Na primeira investida, por volta das 4h, ela teve acesso através de um basculante do sanitário de uma suíte e levou uma tv LCD de 40 polegadas. Na segunda invasão, fazendo o mesmo trajeto, a ladra pegou várias bebidas do bar, entre whisky, vodca e espumantes. Câmeras de segurança registaram a mulher carregando a televisão. O proprietário registrou o fato na Delegacia Digital. 

Ferros-velhos
Há três semanas, o comerciante Paulo César Dantas Souza, 54, não acreditou no que viu. Paulo mora num prédio, a poucos metros da sauna. Um homem escalou o andar térreo, onde ele tem uma venda, e já estava praticamente dentro de sua varanda, quando o seu cão o expulsou o criminoso, pouco depois das 4h30. “Tinha esquecido a janela aberta e acordei com o cachorro agitado. Quando cheguei, o cachorro estava latindo e o ladrão já tinha pulado. Vi ele correndo. Esta não foi a primeira vez que tentam invadir a minha casa e o meu estabelecimento. Está muito difícil de viver assim”, declarou. 

Em frente à casa dele, está a Barraca da Cris. “O dono não aguentou. Foi roubado três vezes em menos de um mês e desistiu do negócio. O lance todo é que os furtos são praticados por usuários. Levam para essas casas de ferro-velho pra comprar droga”, disse o comerciante. “O grande problema é que o Centro é cheio desses locais. Só no entrono do Tororó tem vários. Isso não aconteceria se não houvesse quem comprasse objetos quem foram furtados”, complementou o líder comunitário Valnei de Jesus. 

A incidência da prática criminosa é tamanha, que em alguns prédios há cadeados nos portões para evitar nosso furtos, como é o caso do Edifício Joana Angélica, ainda na rua principal do bairro. “Arrancaram com tudo no ano passado e agora o síndico colocou essa corrente para dificultar”, disse o porteiro. A situação é a mesma no Edifício Alice, em frente a um centro espírita, na Rua do Amparo do Tororó. “ A gente espera que não se repita. Nós, moradores, estamos sem segurança. A qualquer momento corremos o risco de sermos abordados por ele na entrada ou saída. A vontade que tenho é de sair daqui” , disse uma mulher, da varanda. 

Assaltos
E os furtos não são o único problema de quem mora no Tororó. Os assaltos também são frequentes, principalmente quem reside no final da Rua José Duarte. Um dos pontos cruciais é uma via de paralelepípedo que dá acesso à Rua Monsenhor Rubens Mesquita, que liga o bairro à Estação da Lapa. Segundo os moradores, bandidos agem disfarçados de entregadores. “Eles vão e vem de moto  que ninguém pega. Assaltam aqui e usam a rua como rota de fuga. As pessoas aqui já andam assuntadas quando veem um desses motoqueiros com as bags nas costas. Alguns vizinhos desceram e quando chegaram na ponta foram roubados, porque eles (bandidos) ficam esperando também a oportunidade”, relatou o líder comunitário Valnei de Jesus. 

A cerca de 50 metros dali, está a Rua Barbosa de Baixo, outro ponto perigoso. É uma escadaria, que dá acesso ao Vale dos Barris. Aqui, os ladrões estão a pé. “Atacam pela manhã, tarde, noite, chovendo. Pra eles não têm tempo ruim. Vão em cima de velhos, crianças, mulheres grávidas, não liberam ninguém. Geralmente atuam em dupla: um imobiliza e o outro toma tudo”, relatou um senhor. 

A reportagem procurou a Polícia Civil e a Polícia Militar, mas até o momento não há respostas das instituições

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