A Câmara Municipal de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, aprovou nesta quinta-feira, 2, com 21 votos x 0, a abertura do processo de cassação do vereador Sandro Fantinel. A decisão por unanimidade acontece após o político questionar a repercussão do resgate de empregados em situação análoga à escravidão em vinícolas gaúchas e aconselhar produtores e agricultores da região a “não contratem mais aquela gente lá de cima”, se referindo aos funcionários vindos da Bahia, principal Estado de origem dos trabalhadores resgatados. Em suas falas, apontadas como xenofóbicas, ele também sugeriu que as vinícolas prefiram empregados argentinos que são, segundo ele, “limpos, trabalhadores e corretos”. “A única cultura que eles [baianos] têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Que isso sirva de lição. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente”, afirmou.
Ao proferir seu voto a favor da admissibilidade do processo de cassação, a vereadora Estela Balardin (PT) reafirmou que as declarações do colega não representam a cidade e a Câmara Municipal. “Espero que esse processo ele sirva para que o vereador repense as suas palavras. Ele sirva para que a nossa sociedade repense qual que é a nossa estrutura?”, afirmou. O vereador Lucas Caregnato (PT) anuncia voto também favorável reforçando que o processo deve ter um carácter pedagógico. “Diariamente e cotidianamente precisamos construir, caminhar para uma sociedade antiracista, antifascista, livre de xenofobia e de todos os preconceitos. Voto sim”, concluiu. Com o resultado unânime, será criada a comissão processante, formada por três vereadores, para dar prosseguimento à possível cassação do vereador Sandro Fantinel.
Como a Jovem Pan mostrou, nesta quarta-feira, 1, o Patriota anunciou a expulsão do político da legenda. O partido diz ter assistido “com indignação e repulsa” o discurso proferido pelo vereador, em que ele diz que baianos “só vivem tocando o tambor” e sugere que produtores e agricultores gaúchos contratem argentinos porque são “limpos, trabalhadores, corretos”. “O discurso, proferido na tribuna, está maculado por grave discriminação e desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem, ao trabalho”, diz comunicado do Patriota. A legenda afirma ainda que Sandro Fantinel feriu “a seres humanos tristemente encontrados em situação degradante” e disse que o “momento é de ter compaixão, respeito e assegurar direitos violados”. “Esta profunda discordância entre a atitude do vereador e os princípios do Patriota torna inconciliável sua permanência em nossos quadros“, acrescentou.
As declarações de Santinel também foram repudiadas pelo governador Eduardo Leite (PSDB-RS), pelas Defensorias Públicas do Rio Grande do Sul e da Bahia e também pela Câmara Municipal de Caxias do Sul. Em nota, a Casa já havia afirmado “não compactuar com nenhuma manifestação de preconceito, discriminação, racismo ou xenofobia”. “Ressaltamos que foi um posicionamento individual do parlamentar. Não traduz o pensamento e os valores da instituição e nem da totalidade dos vereadores”, diz o comunicado.