Vai vendo.
O primeiro pronunciamento de Bolsonaro após a derrota nas eleições foi em 1/11/22, 44 h depois do TSE confirmar a vitória de Lula.
Em nenhum momento de sua fala de 4 minutos reconheceu a derrota.
Ao contrário, defendeu os que contestavam as urnas: “os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”.
Elogiou a direita: “nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade”.
Exaltou seu governo: “somos pela ordem e pelo progresso. Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra” – esquecido dos 700 mil mortos pela Covid, a “gripezinha”.
Negou ser antidemocrático: “nunca falei em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais”. Omitiu o respeito ao resultado das urnas… Questão incômoda para quem sempre apoiou a ditadura e a tortura.
Já discutiam meios de permanecer no poder, cogitando Estado de Defesa, de Sítio ou pela interpretação deformada do art 142, a esdrúxula “intervenção militar constitucional”…
Depois teve a invasão da PF no dia da diplomaçäo de Lula, a armação da bomba para explodir no aeroporto JK. Nas salas palacianas, minutas para não entregar o poder.
Nenhuma palavra sobre a vitória de Lula, a quem se recusou a passar a faixa presidencial.
Para tanto, deixou o Brasil dia 30/12, antes de encerrar seu mandato. Ficou nos EUA, para onde transferiu R$ 800 mil, por três meses, “aguardando os acontecimentos”…
Leia-se: a trama golpista, o caos em Brasília, um decreto de Garantia de Lei e Ordem.
Vai vendo o processo golpista… Por sinal, reconhecido na Paulista! Com a autoincriminação, muito contribui para a investigação.
A extrema direita está feliz com o ato defensivo do último domingo, de fato expressivo. Mas pesquisa nacional Genial/Quest feita entre os dias 25 e 27/2 joga água fria em eventual euforia: 53% dos ouvidos não consideram Bolsonaro “perseguido” (contra 39%); para 47% houve sua participação no plano de golpe (contra 40%) e 51% apoiam sua inelegibilidade (contra 40%).
Encher uma avenida não significa que as ideias força proclamadas no palanque tenham necessariamente adesão majoritária na sociedade.
Chico Alencar (professor e deputado federal, PSOL- RJ)