Catar – O domador Tite e seus reservas adestrados terão uma missão confortável, hoje (2), contra Camarões, às 16h (de Brasília), pela terceira rodada do Grupo G, no principal circo da Copa do Mundo do Catar – o Estádio Icônico de Lusail.

Presente em todas as edições, o Brasil jamais perdeu para adversários africanos em mundiais. Provavelmente, não será dessa vez. Em vez de soltar os bichos para cima dos Leões Indomáveis, o treinador escolheu manter as feras enjauladas para a partida de segunda ou terça-feira contra Portugal, Gana, Coreia do Sul ou Uruguai pelas oitavas de final. A fase eliminatória promete ser a mais dura no século para a Seleção, e o comandante quer as principais peças descansadas.

Depois de usar 19 dos 26 convocados até a segunda rodada, Tite deverá mandar a campo como titulares hoje quatro dos sete jogadores que aguardam pela estreia no Catar: o goleiro Ederson, o lateral-direito Daniel Alves, o zagueiro Bremer e o volante Fabinho. Faltarão apenas o goleiro Weverton, o meia Everton Ribeiro e o centroavante Pedro – este último briga por uma vaga com Gabriel Jesus, mas tende a iniciar na reserva. A outra dúvida é quem será o segundo volante: Fred ou Bruno Guimarães.

Além de descansar os principais nomes, a escalação reserva é uma forma encontrada pela comissão técnica de valorizar o grupo. Afinal, embora classificado, o Brasil ainda tem uma missão nesta etapa inicial da Copa: garantir a liderança do grupo. Para atingir a meta sem depender do resultado do confronto entre suíços e sérvios, é preciso ao menos empatar com Camarões.

Ederson, aliás, será o primeiro goleiro reserva utilizado desde Rogério Ceni contra o Japão nos minutos finais da goleada por 4 a 1 contra o Japão na última rodada da fase de grupos de 2006, na Alemanha. À época, assumiu as traves durante o jogo no lugar de Dida. O último suplente a iniciar a partida foi Walter, substituto de Batatais em 1938, na França. 

Por sinal, o Mundial da Alemanha foi a última vez em que o Brasil encerrou a primeira fase com 100% de aproveitamento. Em 2010, empatou com Portugal. Quatro anos depois, não saiu do 0 a 0 com o México. Na edição passada, tropeçou na Suíça na estreia por 1 a 1. Depois de vencer a Sérvia (2 a 0) e a Suíça (1 a 0), a Seleção Brasileira buscará alternativas contra Camarões em uma espécie de prova final para saber com quem exatamente poderá contar a partir do mata-mata.

O risco de perder a invencibilidade para os africanos é calculado. “Só posso mensurar quantos atletas posso utilizar em sequência com eles produzindo em campo. É uma oportunidade de alto nível para eles competirem. É um risco? Sim, mas uma oportunidade para mostrarem toda sua qualidade”, valoriza Tite. 

Rodrygo é o principal alvo. O jogador do Real Madrid virou definitivamente uma alternativa a Neymar se o camisa 10 não se recuperar até o mata-mata. Foi dele o passe para o gol do volante Casemiro na vitória contra a Suíça na última segunda-feira pela penúltima rodada. “O campo fala, a bola fala. Algum de vocês entendia que o Rodrygo pudesse ser usado tanto quanto foi? A bola fala. Tenho que oportunizar”, elogiou Tite. 

Enquanto o técnico foca nos reservas, o auxiliar Cleber Xavier projeta com cautela as voltas dos lesionados Danilo, Alex Sandro e Neymar. Não há otimismo nem pessimismo, mas muito suspense. “Eles estão em processo de evolução, a gente traz o foco para o jogo de Camarões e, depois, entramos no processo de decisão. Já tem um projeto bem elaborado para o retorno desses atletas”, comentou, sem dar pistas. 

A pendência pode ter a ver com o adversário nas oitavas. Na pior das hipóteses, o Brasil pode ter pela frente adversários tradicionais como Portugal ou Uruguai. Na melhor, Gana ou Coreia do Sul, contra os quais a Seleção jogou neste ciclo para a Copa do Mundo. Um duelo com Cristiano Ronaldo ou clássico sul-americano podem antecipar etapas.

Aparentemente alheio ao adversário, Tite evitar apontar o melhor adversário nas oitavas de final. “Não procuro ficar voltando a essa situação. Tem toda uma comissão técnica se aprofundando nisso”, desconversou, referindo-se aos observadores liderados pelo ex-zagueiro Ricardo Gomes, em link constante com Cleber Xavier. “A Tunísia, que nós vencemos (no período preparatório), venceu a França. Para o próximo jogo, tem uma equipe acompanhando”.

Camarões vai ao jogo decisivo com a inglória missão de vencer o Brasil para sonhar com a classificação. Além do desafio histórico de bater a Seleção numa Copa do Mundo, será preciso torcer contra um triunfo suíço diante dos sérvios em jogo marcado para o mesmo horário, no Estádio 974, em Doha. E mais: a vaga no mata-mata só viria nos critérios de desempate.

A maior preocupação camaronesa, no entanto, é encontrar maneiras de derrotar o time alternativo brasileiro. O técnico Rigobert Song, que chegou a enfrentar o Brasil como jogador na Copa de 1994, esconde a escalação, mas promete uma equipe ofensiva e sem medo de encarar as estrelas que estarão do outro lado do campo.

“Conhecemos muito bem esse time do Brasil e as dificuldades. Não queremos pensar em como eles vão nos atacar, mas em como nós vamos atacar. Não me interessa o que eles vão fazer e nos preparamos para jogar uma partida digna. É como uma final. Vai ser um jogo muito importante e faremos de tudo para vencer e ver o que vai acontecer”, disse o histórico personagem do futebol local.

A inspiração vem de 20 anos atrás, quando Camarões conseguiu a única vitória em seis jogos contra a Seleção Brasileira. Foi em 2003, quando Samuel Eto’o marcou o gol do triunfo por 1 a 0 na Copa das Confederações disputada na França. Song estava em campo.

Epassy; Fai, Castelletto, N’Koulou e Tolo; Anguissa, Hongla (Toko-Ekambi) e Kunde; Mbeumo, Aboubakar e Choupo-Moting

Técnico: Rigobert Song

Ederson; Daniel Alves, Éder Militão, Bremer e Alex Telles; Fabinho, Bruno Guimarães (Fred) e Rodrygo; Antony, Gabriel Gabriel Jesus (Pedro) e Gabriel Martinelli

Técnico: Tite

Motivo: terceira rodada do Grupo G da Copa do Mundo

Local: Estádio Icônico de Lusail, em Lusail, no Catar

Data e horário: sexta-feira, 2 de dezembro de 2022, às 16h (de Brasília)

Árbitro: Ismail Elfath (EUA)

Assistentes: Kyle Atkins (EUA) e Corey Parker (EUA) 

VAR: Alejandro Hernández (Espanha)