InícioEditorialConheça as duas únicas cidades baianas onde Bolsonaro superou Lula nas urnas

Conheça as duas únicas cidades baianas onde Bolsonaro superou Lula nas urnas

Se dependesse da Bahia, Lula (PT) já estaria eleito à Presidência do Brasil com 69,73% dos votos contra 24,31% de Jair Bolsonaro (PL). Dos 417 municípios, no entanto, dois votaram às avessas no último domingo (3). Em Luís Eduardo Magalhães, no Oeste, o atual presidente somou 28.942 votos (54%) ante 22.196 (41%) de Lula. Em Buerarema, no Baixo Sul, o conservador marcou 4.907 votos (53%) contra 3.581 (38%) do petista.

Com apoio consolidado do agronegócio, o perfil do eleitorado de Bolsonaro não é diferente nos dois municípios que mais votaram no chefe do Executivo. A cidade de Luís Eduardo Magalhães possui a sétima maior economia da Bahia, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O município é o maior exportador do estado a partir da produção de soja (569.904 toneladas na safra 2019/2020), de algodão (78.024 toneladas) e milho (133.650 toneladas). 

Já Buerarema, conhecida como a “Terra da Farinha” devido à produção artesanal de farinha de mandioca pelos agricultores familiares da região, tem na produção agrícola do cacau e mandioca a força econômica da cidade.

Na maioria municípios baianos o petista ganhou com ampla vantagem. Apenas dois registraram um certo equilíbrio, porém com vitória de Lula: Itamaraju (49% x 46%) e Teixeira de Freitas (49% x 46%), ambos no extremo sul do estado.

Na última eleição presidencial, no segundo turno de 2018, Bolsonaro venceu em quatro cidades baianas: Luís Eduardo Magalhães (58,80%), Buerarema (55,26%), Itapetinga (53,69%) e Teixeira de Freitas (50,97%).

Luís Eduardo Magalhães
O município do Oeste da Bahia, cujo nome foi em homenagem ao filho do ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, foi emancipado de Barreiras em 30 de março de 2000. Em 2018, Bolsonaro recebeu 20.810 votos (54,55%) no primeiro turno e 22.509 votos (58,80%) no segundo. A cidade tem ao menos 36.785 eleitores aptos conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Para o agricultor Paulo Closs, 64, e residente em Luís Eduardo Magalhães há 41 anos, a preferência por Bolsonaro acontece não porque há teor bolsonarista na cidade, mas pela identificação com campanhas anticorrupção. Além da preocupação com a posse de um gestor honesto, Paulo afirma que existe no agronegócio atenção com o desenvolvimento do país, dado que a produção no município é elevada para exportação e os produtores precisam de mercado externo para demanda. 

“Estamos vivendo quatro anos de paz no campo. Não aguentava ter fiscalização, éramos sugados constantemente. Ministério do Trabalho, Meio Ambiente, tudo indo para fazenda para fiscalizar e multar ao invés de mostrar meio [para consertar]”, observa.

“As pessoas do agro não são partidárias, não têm amor por candidato. As pessoas do agro têm preocupação com a nação, com o país”, acrescenta. 

Em vídeo publicado nas redes sociais no início de setembro, a empresária do agronegócio Roseli D’Agostini orienta que agricultores “demitam sem dó” os funcionários que votarem em Lula. Após o Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurar inquérito para investigar se o caso se trata de assédio eleitoral, a ruralista assinou Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o MPT e publicou em suas redes sociais pedido de desculpas.

Conforme acordo, ela também custeou campanha de esclarecimento em emissoras de rádio de Salvador e do interior do estado alertando empregadores sobre a ilegalidade de interferência na liberdade do voto. Amigo de Roseli, Paulo defende que falas saíram em momento de emoção e demissão por voto é caso inventado pelos adversários. Ele lembra que em 2002 chegou a votar em Lula. “Existia um projeto, plano de governo perfeito se realmente tivesse sido posto em prática. Depois vimos que fomos enganados e fomos para outros lados com outras frentes políticas, mas nossa bandeira é o patriotismo, o Brasil”. 

“Tenho um funcionário que trabalha há 18 anos comigo, ele é surdo, mudo e petista […] e nunca interferiu [no trabalho]. Dentro da minha casa eu voto para quem eu quero. o voto é secreto você entra lá dentro e vota em quem quiser”, declara. 

Buerarema
Em Buerarema, o cenário do agronegócio se expande para conflitos com terras indígenas. Desde 2000 indígenas Tupinambá de Olivença iniciaram militância por demarcação de terras da região. Eles esperam pelo marco temporal do Supremo Tribunal Federal (STF), contudo, produtores da região denunciam que a situação é fraudulenta e a comunidade não é indígena. 

Consultor de projetos agrícolas e ambientais, Erlon Botelho alega que a economia na cidade afundou após a movimentação dos indígenas. “O município empobreceu porque houve expulsão dos agricultores, era o que alimentava a economia. Depois dos ‘pseudo índios’ hoje o Buerarema sobrevive do pouco que sobrou”. 

Devido ao apoio dado pelo governo do PT ao movimento dos povos originários, Botelho diz que a população se manifesta a favor de qualquer partido político que esteja na contramão dos petistas. “Desde 2000 que a cúpula federal do PT não ganha aqui e quando perde, perde a chapa toda”, ressalta. “[Os indígenas reivindicaram] 47 mil hectares de terra, pequenos agricultores foram expulsos de suas terras […] e o PT chancela isso”, critica. 
 

Agricultores que fazem parte da produção de cacau afirmam que tiveram terra invadidas Foto: Reprodução / Sindicato Rural de Buerarema

Coordenador do Movimento Unido e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), Agnaldo Pataxó defende que a reivindicação dos indígenas Tupinambá de Olivença não traz consequências para o munícipio. “Esse território está com processo todo pronto para ser demarcado. [Mas] quando atual Presidente da República tomou posse […] devolveu processo para Funai [Fundação Nacional do Índio] e desde a época se encontra paralisado na Funai”, diz.  Depois da demarcação, haverá processo de desintrusão, quando pessoas que não são indígenas devem retirar-se do local.  

A reportagem do CORREIO solicitou dados sobre a movimentação econômica de Buerarema, mas a prefeitura não retornou até o fechamento da matéria. 

Municípios também priorizaram políticos bolsonaristas
Candidatos da chapa bolsonarista ou desassociados da imagem petista são os com maior número de votos em Luís Eduardo Magalhães e Buerarema. Tanto é que o candidato ao Governo do Estado, Jerônimo Rodrigues (PT), nem chegou ao duelo entre governadores nas duas cidades. A disputa foi entre ACM Neto (UB) e João Roma (PL). 

Para o cargo de governador, ACM Neto recebeu 41,62% dos votos (21.266 votos) contra 33,19% (16.957 votos) para João Roma, na cidade do oeste baiano. No município do sul, ACM recebeu 53,17% dos votos (4.733 votos) e o segundo colocado, João Roma, 24,06% (2.142 votos). Na somatória estadual, Rodrigues anotou 49,33% dos votos e ACM, 40,88%.

No Senado, a doutora Raissa Soares (RL), apoiada por Bolsonaro liderou as escolhas nos municípios, com 20.823 votos em Luís Eduardo Magalhães e 2760 votos em Buerarema – neste, a candidata ficou um posto atrás de Cacá Leão (PROGRESSISTAS), com 3223 votos. No estado, quem saiu vitorioso foi Otto Alencar, do PSD, o empresário recebeu 4.218.109 (58,31%) votos válidos.

Entre os 10 deputados federais mais votados em Luís Eduardo Magalhães, quatro são do partido de Jair Bolsonaro, em Buerarema, três. Quanto às 10 candidaturas de deputados estaduais com mais votos, os municípios somam sete candidatos do PL. Nas quatro listas – ao considerar deputado estadual e federal para os dois municípios – o único candidato do PT que marca presença é o Rosemberg, com 158 votos (1,77%) 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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