InícioEditorialCurta-metragem fala das relações entre Salvador, suas periferias e o boxe

Curta-metragem fala das relações entre Salvador, suas periferias e o boxe

Documentário terá exibições gratuitas até o dia 30

“Por que Salvador revela tanta gente boa no boxe?”. Após as medalhas olímpicas conquistas por Hebert Conceição e Bia Ferreira nas Olimpíadas de Tóquio-2021, o jornalista e cineasta Victor Uchôa ficou com essa pergunta na cabeça. 

Do mestre Luiz Dórea, às lendas como Popó, Robson e Hebert Conceição, Bia Ferreira e promessas como  Júnior Demolidor – este último já sob a tutela de Dórea -, Salvador e o boxe têm uma relação íntima, que vem das veias de suas comunidades e sua gente. Tão íntima que gera lendas e explicações como “somos bons por causa do Carnaval e da corda do Chiclete com Banana”.

No curta-metragem Contragolpe, que será lançado nesta quinta-feira (28), Uchoa quer mostrar que tudo isso faz sentido e que vivemos na capital mundial do boxe. A ideia do doc é resgatar as origens do sucesso de boxeadores locais. A partir das 20h, o filme terá exibição online gratuita no  site da produtora responsável e fica disponível para o público até o próximo dia 30 de abril.

Atrás da explicação

O diretor confessa que nunca praticou boxe, mas sua família tem relação íntima com a modalidade. Além de ter origem na Cidade Nova, mesmo bairro de Popó, onde cresceu ouvindo tios e amigos contando que pegavam baba com o campeão mundial, ele teve uma pessoa em sua família que virou lenda entre os seus: Dilton Uchôa, pugilista da mesma geração de Dórea, que fazia sucesso no boxe nos anos 1980. E, além disso, foi jogador profissional no Vitória.

O diretor vai ao encontro dos personagens que compõem a cena do boxe local para tentar responder por que a cidade virou berço de grandes boxéis. De fato, das oito medalhas que o Brasil já conquistou no boxe olímpico, metade foi com pugilistas de Salvador, inclusive as duas de ouro (em 2016 e 2021). E, na seleção brasileira, seis dos 11 profissionais são da capital baiana.

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Ideia do filme nasceu após reportagem feita pelo diretor sobre o mesmo tema (Foto: Nana Brasil/Divulgação)

“Não é novidade que Salvador é um celeiro de boxeadores, tendo revelado também o tetracampeão mundial, Acelino Popó Freitas. Mas, para entender o sucesso esportivo, é preciso apurar o olhar sobre uma modalidade que toma as ruas, ocupa praças, vielas e até mesmo a areia da praia. Aqui, a chamada nobre arte vira luta do povo”, afirma Uchôa.

O diretor confessa que nunca praticou boxe, mas sua família tem relação íntima com a modalidade. Além de ter origem na Cidade Nova, mesmo bairro de Popó onde cresceu ouvindo tios e amigos contando que pegavam baba com o campeão mundial, ele teve uma pessoa em sua família que virou lenda entre os seus: Dilton Uchôa, pugilista da mesma geração de Dórea, que fazia sucesso no boxe durante os anos 1980. E, além disso, ainda era jogador profissional no Vitória.

“É meio clichê, mas é um fato: o boxe é mais do que um esporte. É um movimento de resistência, das pessoas encontrarem oportunidade para sair dessa vida difícil, principalmente nos bairros mais populares, fuga da violência e poucas possibilidades de ascensão social”, descreve Uchôa.

No curta, o diretor vai ao encontro dos personagens que compõem a cena do boxe local para tentar responder por que a cidade virou berço de grandes boxéis. De fato, das oito medalhas que o Brasil já conquistou no boxe olímpico, metade foi com pugilistas de Salvador, inclusive as duas medalhas de ouro (em 2016 e 2021). E, na seleção brasileira, seis dos 11 profissionais são da capital baiana. 

Victor Uchôa é o diretor do filme (Foto: Yasmin Cunha)

“São atletas que passaram por dificuldades, ralaram muito. Não tem jeito: os campeões saem é da favela”, pontua o treinador Gilvan Bispo, duas vezes escolhido como melhor técnico de boxe do Brasil e que já trabalhou, gratuitamente, com mais de 2 mil jovens em sua academia, no Nordeste de Amaralina.

Uma das histórias que o documentário conta se passa no complexo do Nordeste de Amaralina, do próprio Gilvan. “Tem um momento do filme que a gente acompanhou o primeiro combate de boxe Mico Preto. É muito legal ter esse evento no filme porque é muito representativo. Aconteceu no Vale das Pedrinhas, em março, no meio da rua, numa praça que leva o nome de um pugilista, Mico Preto, que é do Vale das Pedrinhas e morreu há alguns anos. Há uma praça com o nome dele e hoje um evento de boxe no meio da comunidade é muito forte”, detalha Uchôa num pequeno spoiler.

Rumo aos festivais

O projeto, rodado entre fevereiro e março, nasceu de uma reportagem que o próprio Uchôa produziu no ano passado para o portal UOL. Durante o processo de apuração, ele reforçou a ideia de que o boxe em Salvador é um esporte e ferramenta social. E ficou com uma certeza: as medalhas, os cinturões, as finais e toda a história não são por acaso.

“O boxe em salvador funciona com essa ferramenta. Quase todo bairro popular tem uma academia, que tem um projeto de aulas gratuitas para os jovens da comunidade porque muitas vezes os professores foram de projetos quando jovens, são dessa geração de Dórea, de Dilton, de Popó, que viveram as noitadas no Balbininho. Não é por acaso que, no final das contas, vemos as medalhas e os títulos mundiais. É uma cultura que está consolidada nas vielas, nos becos da cidade, especialmente nesses bairros mais periféricos”, finaliza.

Depois da exibição  nos quatro primeiros dias de estreia, o curta sai do ar. Mas tem um objetivo: Uchôa pretende circular com Contragolpe em festivais de cinema em Salvador, na Bahia, no Brasil e no mundo, para que ele seja exibido na telona. Mais do que um desejo do próprio diretor, Uchôa conta que quer conseguir essa oportunidade para que os personagens de sua produção possam se ver numa sala de cinema.

“Espero que entre nas mostras e festivais de Salvador, especialmente para que as pessoas que estão no filme possam se ver numa tela de cinema e tenham essa experiência de se ver. Quero muito que tenham essa oportunidade”, afirma Uchôa, também diretor do curta Tempo (2018), que passou por vários festivais e foi premiado em alguns.

O projeto foi contemplado pelo Prêmio Riachão – Projetos de Pequeno Porte, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, destinado pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

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