Foto: Rosinei Coutinho/Arquivo/SCO/STF
Plenário do STF 06 de dezembro de 2023 | 06:55
O debate sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) e seus ministros nas redes sociais, em 2023, foi marcado por polarização, predomínio da direita e grande presença de posts sobre Alexandre de Moraes.
Esses são alguns dos dados do levantamento da Escola de Comunicação, Mídia e Informação (FGV ECMI), que analisou postagens de 1º de janeiro a 16 de outubro no Facebook, Instagram e YouTube. Nessas redes, os pesquisadores identificaram um maior protagonismo de usuários que veem o STF de modo negativo.
No X (antigo Twitter), a coleta abrangeu período menor, tendo início em 7 de junho e terminando na mesma data. Nessa rede, segundo o relatório, houve um maior equilíbrio nos posicionamentos sobre a corte, com ligeira predominância de críticos.
O levantamento foi feito dentro do “Projeto Mídia e Democracia”, apoiado pela União Europeia.
No Facebook, foram analisadas postagens de deputados federais e senadores mencionando nomes dos ministros e a palavra STF —não foram considerados posts sem menção ao Supremo ou sem menção aos ministros.
Em quantidade de postagens, os partidos com mais destaque são o PL e o Novo (615 e 105 posts respectivamente). Na esquerda, estão PT e PSOL (489 e 127).
Apesar de, na quantidade, ambos os grupos estarem relativamente próximos, o nível de engajamento médio dos conteúdos é superior na direita. Neste aspecto a dianteira fica com o Novo, seguido pelo PL. Já o PT se posiciona em 4º atrás do Podemos, e o PSOL no distante 11º lugar.
O pico de interações dentro dessa análise foi em 14 de setembro, quando ocorria o julgamento dos primeiros réus pelos ataques do 8 de janeiro. O relatório aponta centralidade de Moraes, que é citado em 41% dessas publicações, com maioria de posts de teor negativo, mas também acompanhado de postagens positivas, vindas de nomes da esquerda.
Ao todo foram 1.778 posts publicados por 281 deputados e senadores. Dentre os 10 parlamentares com mais engajamento médio em posts sobre os ministros, apenas 1 é de esquerda: o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ).
O relatório aponta ainda que o Novo se destaca em volume e engajamento no debate sobre o STF, apesar de ter apenas 3 parlamentares no levantamento, enquanto o PT tem 63 e o PL 58.
Marco Ruediger, diretor da FGV ECMI, avalia que há uma campanha permanente de convencimento e mobilização com objetivo de enfraquecer o poder dos ministros. “Isso virou uma espécie de um combate, uma tensão permanente no Brasil”, diz.
Ele considera que é preciso prestar atenção ao fato de que o debate político e a polarização não são observados apenas na sazonalidade do processo eleitoral, mas no dia a dia, de modo constante.
No Instagram, o relatório aponta que 54% das postagens coletadas mencionam Moraes.
Nessa rede, o pico de interações em posts sobre os ministros foi em 9 de janeiro, no total de 5,5 milhões, em onda associada aos ataques antidemocráticos em Brasília.
De acordo com o relatório, também no Instagram, nomes da direita se destacaram –nessa rede, assim como no X e no YouTube, a análise foi geral, e não restrita a políticos.
Também no X, Moraes é mais citado frente aos demais integrantes da corte. No período analisado, enquanto ele teve cerca de 2,3 milhões de menções, Gilmar Mendes, o segundo ministro que mais aparece, teve quase 742 mil citações.
Segundo o relatório, nas menções aos ministros no X, o tom crítico prevalece, de modo geral, mas alguns dos magistrados são citados de modo mais equilibrado: André Mendonça, Cármen Lúcia, Kassio Nunes Marques e Luiz Fux. Tiveram destaque a atuação do STF sobre o 8 de janeiro e o julgamento sobre o marco temporal das terras indígenas.
Diferentes episódios alavancaram as menções aos ministros.
No caso de Luís Roberto Barroso, a participação no Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), quando disse “derrotamos o bolsonarismo”. Já Moraes, citado com constância, teve maior relevo no recorte analisado nas datas do episódio no aeroporto de Roma, que está sob investigação, e no julgamento do 8 de janeiro.
Dias Toffoli, por sua vez, ganhou os holofotes ao declarar imprestáveis provas oriundas dos acordos de leniência da Odebrecht, enquanto o pico de Cristiano Zanin foi na data de sua sabatina e aprovação no Senado.
As menções a Rosa Weber, agora aposentada, foram ao seu auge quando do seu voto pela descriminalização do aborto nas 12 primeiras semanas de gestação.
Também no YouTube a pauta de costumes teve peso. Dentro dos parâmetros coletados pelo relatório, o vídeo sobre o STF mais visto no período de janeiro a 16 de outubro na plataforma —com quase dois milhões de visualizações— tem como título: “Bispo Católico cala ministra do STF Rosa Weber, em audiência pública, vejam o que ele falou”.
Mariana Carvalho, uma das pesquisadoras da FGV ECMI que elaborou o relatório, diz que tanto a esquerda quanto a direita se organizam em polos no debate nas redes, mas ressalta a diferença de alcance entre elas de modo geral, e aponta ainda o movimento para inversão da narrativa sobre o 8 de janeiro.
“No início ele foi muito mobilizado pela esquerda, criticando o 8 de janeiro, criticando os atos antidemocráticos, mas logo em seguida a direita começou a ocupar esse espaço nas redes sobre essa temática, e aí usando como principal alvo o sistema Judiciário”, diz.
Sobre Moraes, por exemplo, Mariana destaca decisões que ecoaram de modo bastante positivo entre a esquerda e em setores progressistas, como o voto sobre a descriminalização da maconha. “Ainda assim a direita tem uma capacidade muito grande de movimentar as redes quando cria esses momentos de crítica”, diz.
Renata Galf/Folhapress