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“Ele foi morto pela cor”, diz irmã de universitário baleado pela PM no Costa Azul

Para fugir das estatísticas que retratam o destino de grande parte dos jovens negros no Brasil, Igor Santos Brito, de 29 anos, trabalhava como operador de carga em um turno e no outro horário, era bolsista no curso de logística numa faculdade privada de Salvador. Quando estava em casa, cuidava dos quatro filhos. Porém, tanto esforço não evitou a sina da pela negra. Igor foi morto pela Polícia Militar no bairro do Costa Azul, quando tinha acabado de chegar da aula.  Ele foi enterrado na manhã deste domingo (16), em um clima de revolta. 

“Ele foi morto pela cor. Os policiais chegaram atirando na comunidade. Ele tinha parado para conversar com alguns moradores do bairro, quando a PM veio disparando. Se fosse um grupo de homens brancos, eles não fariam isso. Ele fugia das estatísticas, porque trabalhava, estudava para dar o melhor aos filhos, mas não adiantou”, desabafou a irmã dele, Daiana Brito, 34, durante o sepultamento de Igor, realizado no cemitério Quinta dos Lázaros. 

Enterro de Igor causou comoção neste domingo (16)
(Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

Igor foi baleado na última sexta-feira (14), quando estava numa praça, por volta do meio-dia, na Rua Professor Isaías Alves de Almeida, no Costa Azul. “Os policiais disseram que houve confronto, que meu irmão estava armado, mas não foi nada disso. Ele não anda armado, porque ele não era bandido. Meu irmão era um trabalhador, pai e universitário. As pessoas viram que meu irmão pediu para não morrer, que ele levantou as mãos e falou onde trabalha e que estudava e mesmo assim um dos policiais disse: ‘Atira nele! Foi ele quem matou o velho’. E atiraram”, contou Daiana, fazendo referência à morte do idoso Ruy Miccuri Figueiredo, 75 anos, durante um assalto a um bar no mesmo bairro, no último dia 8. 

“Os policiais queriam dar de qualquer jeito uma resposta à sociedade e mataram Igor porque ele é um preto que vivia numa comunidade do Costa Azul, local de gente de classe média”, desabafo ela. Segundo ela, o universitário conhecia o idoso. “Eram amigos. Eles se falam sempre na rua. Aliás, tudo mudo do bairro conhecia meu irmão e sabia que ele era um lutador, que o sonho dele era vencer na vida”, contou Daiana. 

Durante a ação de sexta-feira no Costa Azul, um rapaz que estava ao lado de Igor também foi morto. Em nota, a Polícia Militar informou que com os dois foram apreendidos um revólver, uma pistola pertencente à Secretaria da Segurança Pública de Sergipe e porções de maconha e cocaína. Os militares faziam rondas pela localidade do Inferninho quando avistaram um grupo de homens armados, que atiram contra os policiais. A ocorrência foi registrada na Corregedoria da PM.

Enterro 
O velório do corpo de Igor começou às 11h30. Muitas pessoas estavam emocionadas, entre elas Ítalo Brito, 24, irmão do universitário, que chegou quando os policiais deixavam o local com os baleados na mala da viatura 2.1106 da Rondesp. ” Insistia para ver meu irmão, mas eles ameaçaram atirar em mim também. Mas ali, da forma como jogaram (os corpos), os dois já estavam mortos”, contou Ítalo, que também que ação contou com participação da viatura 2.1107  No Hospital Geral do Estado, onde a viatura levou os baleados, Ítalo disse que teve a confirmação de “uma execução”. “A médica me disse que meu irmão foi baleado três vezes, que havia perfurações de entrada nas costas dele. Igor foi executado pelas costas, sem chance de defesa”, declarou ele, durante o velório.

Seu Eloi Pereira Brito, 58, pai de Igor, disse que o filho era uma ” joia rara”. “Um menino que nunca me deu trabalho. Educadíssimo. Um filho que todo pai gostaria de ter. Era um pedra de ouro! Ele foi mais pai do que eu, parecia um pato com os seus filhotes. Onde ele ia, levavam os quatro filhos. Eu invejava isso nele. Às vezes, os nossos papéis invertiam, porque tudo o que ele falava, eu acatava, porque sabia que ele só queria o melhor para toda a família”, disse pai emocionado. 

Durante o cortejo houve protesto. “Não, não, não, polícia é pra ladrão!”, gritava em coro parentes e amigo de Igor. A mãe da vítima era a todo momento amparada. “Eles (policiais) disseram que meu filho era ladrão, traficante, querendo manchar a imagem do meu filho pra justificar a barbaridade que eles fizeram! Eu justiça!”, desabafou a mãe de Igor, Zilma dos Anjos Pinto, 50. Ele disse que nesta segunda-feira (17) vai à Corregedoria da Polícia Militar e ao Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). 

Foto: Bruno Wendel / CORREIO

Igor trabalhava desde 2000 numa empresa de transporte de entregas. Ele entrou como conferente e depois foi promovido à operador de carga. Ele estava no segundo semestre do curso de Tecnologia em Logística numa faculdade particular na Avenida Paralela. Apesar de divorciado, sempre esteve ao lado dos quatro filhos , três meninos e uma menina, entre 10 e 4 anos. 

Idoso 
No dia 8 deste mês, o idoso Ruy Miccuri Figueiredo estava em um bar na Rua Professor Lourival Pimenta Bastos, uma região residencial do bairro, com muitos condomínios e pouco comércio. Era noite de sábado quando dois homens chegaram em um carro e um deles desceu para assaltar as vítimas. O bandido deu coronhada em uma mulher 

Ruy estava em uma mesa na varanda do bar, de costas, quando o criminoso chegou. Testemunhas contaram que ele foi atingido ao se virar. O tiro acerto o tórax do idoso. Logo após o disparo, o homem entrou no carro com os pertences das vítimas e os dois fugiram.

Ruy foi socorrido e levado para um hospital da região, onde ficou internado até a terça-feira (11), quando a morte foi confirmada. Amigos do idoso disseram que ele frequentava o bar há muitos anos e era muito querido na região.

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