Um dos principais representantes da esquerda soteropolitana na Câmara Municipal, o vereador Silvio Humberto define que a “eleição é emoção e razão”. Filiado ao Partido Socialista Brasileiro, o legislador remonta seu histórico que o liga aos movimentos sociais, em especial o movimento negro, e define que a conexão com a militância gera debates mais complexos na política.
“Você precisa entender que a eleição é emoção e razão, então você precisa falar o que alcança o coração das pessoas e que arrasta as mentes das pessoas. Então, eu diria que um debate importante, esse que nós trazemos com relação à igualdade racial, isso tem lugar, isso tem centralidade e isso precisa ser entendido. Como gera interseccionalidade [em Salvador] com as outras pautas, e esse é o problema”, ressalta.
Silvio Humberto defende que, mesmo quando o município clama pela mudança, a ausência das militâncias no debate público e nas ruas abre espaço para um “pragmatismo excessivo” no eleitorado, impulsionando figuras políticas que crescem a partir disso.
“Tem uma reflexão grande sobre o que fazer dentro da própria esquerda, uma reflexão sobre os nossos métodos, sobre as nossas práticas, de chegar na base. Eu acho que tem um debate aí entre a ideologia versus o pragmatismo excessivo. Então tem um debate em torno da ideologia que é reafirmado nesta eleição, a militância, então eu acho que tem algumas reflexões que são importantes”, afirma.
Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
Em entrevista ao Bahia Notícias, o vereador ressalta que o “embate” entre figuras ideológicas — como são chamados os políticos ou figuras públicas vinculadas a organizações ou movimentos sociais de esquerda ou direita —, e as fisiológicas — termo utilizado para definir figuras políticas que não tem vínculo firmado com nenhuma “bandeira” ou espectro político definido — não se limita ao cenário municipal ou estadual.
“Isso tem sido discutido em todo o Brasil, com esse avanço da direita, parte da extrema-direita, e a esquerda tendo que se repensar a forma como dialoga e se comunica com a massa. Então a gente tem que olhar que elementos precisam ser agregados no nosso discurso e também nas nossas práticas que venham gerar um polo de atração maior para o eleitorado, porque a gente não pode ficar em dissonância com o eleitorado”, conta.
Essa dissonância se mostra nos resultados das urnas. Em 2024, a oposição voltou a perder espaço na Câmara Municipal de Salvador, saindo de 12 para 9 cadeiras, além do desempenho frágil na disputa do Executivo, onde o atual prefeito Bruno Reis (União), se reelegeu com 78,67% dos votos válidos.
Mais uma vez, o vereador defende que o calcanhar de Aquiles da esquerda baiana está na comunicação. “Eu acho que a gente tem uma pluralidade. Eu acho que precisa melhorar a forma como nós estamos nos comunicando e insistindo nessa comunicação”, aponta.
Quando questionado sobre a renovação da Câmara, tendo como exemplo a saída do colega, o vereador Edvaldo Brito (PSD), aos 86 anos, e a chegada de novos nomes, entre eles, o vereador mais jovem da Casa, Sandro Filho (PP), de 19 anos, Silvio Humberto conta que, apesar da importância da renovação e juventude entre os eleitos, é imprescindível que haja a renovação de ideias.
“A renovação, eu acho que é importante porque nós não estamos sentados num trono. Se tem uma cadeira que democraticamente, a cada período, à medida que a população tem ciência do que foi feito, das propostas e resolve apostar em outro nome, isso é o jogo natural dentro desse processo democrático. Agora, temos que aguardar o desempenho, porque nem sempre pelo fato de ser novo, quer dizer que as ideias são novas”, afirma.
Apesar das ressalvas, ele ressalta a necessidade de trabalhar com as juventudes. “Essas questões que a gente precisa trazer, como o de pensar cultura e desenvolvimento, ‘como é que você gera trabalho e renda?’, ‘como é que você pensa políticas públicas na nossa cidade, envolvendo a juventude, com a juventude?’. Isso leva a uma renovação. Então, você não pode pensar que elas podem ser só no período eleitoral, onde você é convocado a cada quatro anos ou de dois em dois anos. A gente precisa pensar em ações permanentes”, conclui.
Confira a entrevista: