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Entenda por que as relações comerciais entre China e Brasil estão cada vez mais prósperas

No rastro do G20, o estreitamento de laços e a ampliação nas relações comerciais com a China figuram entre os resultados mais concretos e promissores para a economia brasileira. Nada menos que 37 acordos bilaterais em diferentes setores econômicos, além de uma declaração conjunta que eleva o status do relacionamento, foram assinados por Lula e Xi Jinping em Brasília, um dia após o líder chinês participar da cúpula internacional no Rio de Janeiro.

A China promoveu maior abertura para a entrada de produtos brasileiros, como uvas, sorgo, gergelim e café, com potencial de negócios de até US$ 500 milhões por ano, segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Mais do que isso, houve um aceno para que empresas brasileiras possam entrar na cadeia de produção chinesa.

Em contrapartida, o Brasil deve vincular projetos de infraestrutura do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) a investimentos de seu maior parceiro comercial. Além da esfera de negócios, a influência chinesa deve aumentar não só no Brasil, mas na região.

O país asiático é hoje o principal destino das exportações brasileiras do agronegócio. De julho do ano passado a julho deste ano, as exportações brasileiras somaram US$ 57,94 bilhões, um aumento de 8,9% em comparação com o mesmo período em ano anterior. Em 2023, houve recorde das exportações, que superaram a casa de US$ 60 bilhões. Este ano a cifra não deve ser tão exuberante, mas também não deve decepcionar: de janeiro a julho deste ano, as exportações agrícolas totalizaram US$ 28,44 bilhões.

Por sua vez, o Brasil importou cerca de US$ 1,18 bilhão, entre produtos florestais e têxteis, do país asiático. Na comparação com as operações comerciais que têm com outros países é possível ter a dimensão dessa parceria: o total que o Brasil exportou à China no ano passado alcançou US$ 104,3 bilhões, o que supera a soma do que vendeu aos Estados Unidos e à União Europeia.

Paulo Vicente, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), pontua que a China depende muito da soja brasileira, além de milho, ferro e outros produtos com menor grau de relevância. “Os americanos, com o protecionismo deles, não permitiram a entrada de nossas exportações, os europeus, idem. Há um preço no protecionismo, que tem o lado bom, mas também, ruim. Não é só proteção, é uma ferramenta que é preciso dosar.”

Não só pelas relações já pavimentadas na exportação de commodities, mas pelas intenções de expansão de parcerias, especialistas passam a contar com um novo cenário no xadrez político-econômico mundial. Especialmente considerando como será o governo Trump nos próximos quatro anos, nos Estados Unidos, e a ameaça de novas medidas de proteção às empresas americanas.

Enquanto a cúpula do G20 no Rio marcou defesa do multilateralismo, Xi Jinping aproveitou para reforçar aliança econômica com o Brasil. (Pablo Porciuncula) (Crédito:AFP)

“A gente já vem numa reconstrução das relações com a China desde a chegada do novo governo. Não que não houvesse relações comerciais durante o governo Bolsonaro, mas é uma tentativa de colocar essas relações num plano mais estratégico, trazendo mais cooperação tecnológica, aumentando o nível de investimentos”, analisa Pedro Brites, professor de Relações Internacionais da FGV. As ambições chinesas não se limitam ao território brasileiro, mas à região.

“Eles estão se aproximando cada vez mais da América Latina, não só do Brasil. Por uma questão também pragmática, eles precisam dos recursos que estão aqui”, pondera o professor da FDC.

Embora a prioridade seja o sudeste da Ásia, pela proximidade regional, as relações com os países encontram-se estressadas. Não à toa, Xi Jinping aproveitou sua passagem pelo continente para inaugurar o maior porto comercial da América do Sul, no Peru. Situado a 80 km da capital peruana, Lima, o complexo peruano Chancay teve o projeto liderado pela companhia marítima estatal chinesa Cosco Shipping Company com investimentos estimados em US$ 3,4 bilhões (quase R$ 20 bilhões). Essa aproximação, como tudo na vida, tem seu lado bom e ruim, pondera Paulo Vicente. “O lado bom é mais emprego gerado aqui, dinheiro chegando. O lado ruim é que vem também uma influência política, eles quererem influenciar na região, que faz parte do jogo. A política é isso.”

Cadeias de produção

Na prática, a ambição de inserir os empresários brasileiros na cadeia de produção chinesa pode encontrar barreiras, segundo o professor da FIA Business School Paulo Feldman. “Acho muito difícil, porque os chineses são muito pragmáticos e instalam parte de suas cadeias produtivas nos países que são muito competitivos naquele assunto e usam países asiáticos como Malásia e Indonésia.”

O custo Brasil é um forte impeditivo, segundo ele, e o País precisa fazer sua lição de casa melhorar nosso ambiente de trabalho, buscar eficiência e reduzir custos de transporte, energia e qualificação da mão de obra. “Aí os chineses virão para cá, mas leva tempo.” De todo modo, montadoras chinesas como BYD e GWM já começam a desembarcar no País, o que abre espaço para essas sinergias que podem se concretizar quando a produção brasileira oferecer mais competitividade.

De modo mais imediato e com impactos muito positivos, o acordo que prevê estímulo às pequenas empresas foi destacado por Feldman. Ele explica que no Brasil o setor é muito atrasado e, sem políticas públicas, enfrenta muitas dificuldades, enquanto na China recebe um tratamento cuidadoso e diferenciado, o que permite um protagonismo dentro da economia chinesa. “Se a China repassar esse know-how, isso poderá ser muito importante e interessante ao Brasil.”

O fator Trump

O grau de maior ou menor proximidade entre China e Brasil vai depender muito de como será o governo Trump, que vai adotar políticas de protecionismo às empresas americanas. O professor da FIA ressalta que Trump não tem boa vontade com o processo de globalização e deve abrir caminhos que favoreçam as companhias americanas, para que possam circular com desenvoltura e dominar quase todos os mercados, como fez em seu primeiro mandato.

Mas, segundo ele, desta vez o mundo está mais preparado e outras lideranças como China e Rússia se apresentam para fazer frente a essas investidas. “O Brasil está numa situação delicadíssima, porque sempre foi um grande aliado dos Estados Unidos, mas acredito que agora terá que procurar se aproximar mais ainda de parceiros como a China, a Rússia, a Índia e outros países emergentes. E o Brasil tem todas as condições para liderar esse grupo.”

Com a possibilidade de Trump adotar tarifas mais elevadas às importações chinesas, é natural que a China passe a procurar outros parceiros, e o Brasil precisa entender isso como oportunidade para estreitar os laços com o país asiático, destaca Hudson Bessa, professor da Fipecafi. No entanto, como impactos imediatos, ele afirma que “os próximos passos da economia mundial vão depender da agenda da economia americana, que vai reduzir o comércio mundial, ser mais inflacionária, elevar os juros e o preço do dólar no mundo e trazer dificuldades para os países emergentes”.

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