A aluna de 15 anos de uma escola particular de Águas Claras que gravou um vídeo viralizado nas redes sociais assumindo-se racista negou as acusações e disse que a publicação trata-se de um mal-entendido. As imagens, feitas dentro das dependências do colégio, na segunda-feira (23/5), circulam desde terça (24/5) na internet e ganharam repercussão.
Segundo a adolescente, a gravação foi feita em resposta a uma confusão envolvendo uma aluna de outra escola particular de Águas Claras, que é negra. Um colega da estudante responsável pelo vídeo disse que a garota falou mal dela em um grupo privado de WhatsApp — a menina nega a versão.
“Eu postei um storie no Instagram de uma roupa que eu estava usando para sair. Essa menina já tinha falado mal de mim em outras ocasiões, mas, desta vez, ela tirou um print da minha publicação, compartilhou em um grupo de WhatsApp e criticou o meu visual. Falou que eu era brega demais e parecia uma vaqueira”, detalha a adolescente que gravou o vídeo.
Segundo a aluna acusada de racismo, ela chegou a mandar mensagem para a jovem negra na tentativa esclarecer a situação. “Não era a primeira vez que ela falava de mim. Eu comentei com os meus amigos que, se ela falasse das minhas roupas, eu ia comentar das tranças dela, que eu achava malfeitas e não eram bonitas. Mas eu não fui racista. Critiquei o estilo dela, assim como ela comentou sobre o meu”, alega.
No vídeo que circula nas redes sociais, a aluna ri, em tom de deboche, enquanto diz que o colega também era racista. Ele aparece sentado ao lado dela nas imagens e não nega a acusação. Em seguida, ela afirma que ele é “responsável pela confusão” iniciada no domingo. Segundo ela, esse colega foi o responsável por mandar mensagem para a outra aluna dizendo que “caso falasse o que pensa , seria ‘presa’ por injúria racial”.
“Ele disse que queria colocar fogo no parquinho, que queria ver nós duas brigando. Só que eu não falei absolutamente nada sobre injúria racial. Eu nunca ia falar isso de uma mulher negra”, defende-se a menina. Os dois alunos do vídeo foram suspensos pela escola.
A estudante afirma que nunca foi racista e que o vídeo foi uma resposta irônica às pessoas que começaram a chamá-la de “racistinha”. “Foi um simples deboche, ironia para quem me chamou assim. Porém, começaram a propagar ódio e a história virou uma bola de neve ao ponto de inventarem que eu a chamei ela de macaca e dito que o cabelo dela era podre”, relata.
O desentendimento ganhou tamanha proporção que a garota que a acusou de racismo teria ido para a frente da escola da estudante com um grupo de alunos para “cobrar” uma resposta dela. “Eles cercaram a saída da escola, algumas pessoas disseram que iriam me bater. A coordenadora teve que me colocar no carro dela e me deixar em casa”, relembra.
Segundo a aluna acusada de racismo, a situação tem preocupado ela e a família, uma vez que teve a imagem exposta de forma negativa nas redes sociais. Ela alega ter recebido diversos ataques e teme que essas pessoas descubram onde ela mora. “Estou muito chateada com isso tudo. Dá até medo de sair na rua. Espero poder conversar com a menina e entender o lado dela nessa história”, comenta.
Além da gravação, a aluna do vídeo e outra colega de sala foram acusadas de preconceito nas redes sociais. Em outro post, uma delas diz que a cidade de Taguatinga é um lugar de pobre. E que a colega não deixaria a aluna do vídeo morar com a “pobretaiada” de lá. Em outra publicação, a colega afirma que odeia todas as minorias, exceto autistas.
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“Eu desabafei na minha conta do Twitter que eu não queria me mudar para Taguatinga, porque estava tendo essa conversa com a minha mãe há algum tempo. Porém, isso já foi resolvido, inclusive devo morar lá de fato. E eu não fui responsável por ofender nenhuma minoria ou dizer que a região era lugar de pobre, essas coisas foram comentários de outras pessoas no meu post”, explica a aluna.
Tudo, segundo a adolescente apontada por injúria racial, não passava de uma brincadeira debochada, não um crime. A adolescente que se sentiu ofendida com as “brincadeiras” diz que a família pretende procurar, ainda nesta semana, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) para registrar um boletim de ocorrência.
O que diz a escola
Procurado, o colégio informou que procurou compreender todo o caso, ouvindo os alunos envolvidos e conversando com a família sobre o ocorrido. Veja a nota:
“Esclarecemos que, ao tomar conhecimento da situação, a direção da escola se empenhou em compreender todo o caso, apurando os fatos,
ouvindo os alunos envolvidos e conversando com as famílias sobre o ocorrido.
Nesse contexto, aplicamos as medidas disciplinares previstas em nossa política e, em parceria com responsáveis pelos alunos, também estabelecemos ações empáticas, condizentes com nossos projetos que trabalham respeito e harmonia em sala de aula.
Estamos certos de que a chave para seguirmos no melhor caminho é abrir canais para diálogo e ter participação ativa das famílias na formação dos jovens cidadãos”.
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