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Golden hour: entenda a importância da amamentação na 1ª hora de vida do bebê

Logo no primeiro minuto de vida, Joaquim, 5 meses, foi amamentado. Aconteceu do jeito que sua mãe, a bancária Tina Garcia, 30 anos, tinha planejado. “Sabia da importância e estudei sobre o assunto, por isso, fui muito criteriosa com a equipe que iria realizar meu parto”, conta ela, referindo-se à primeira mamada tão breve.  

Mas não é apenas o primeiro minuto. A primeira hora de vida de um bebê é tão importante que é chamada pelos profissionais de saúde de “Golden Hour” – a hora de ouro ou hora dourada. Esse primeiro contato entre a mãe e a criança representa um novo vínculo e pode ser crucial para a amamentação no futuro. 

É por isso que, nos últimos anos, a orientação das entidades de saúde é que a primeira mamada seja justamente nesse período – não é por acaso o nome “Agosto Dourado”, que batiza a campanha de incentivo ao aleitamento materno liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Nessa hora dourada, mãe e bebê vão se reconhecer. Nem sempre ele já começa a mamar – em alguns casos, pode só lamber o peito. Em outros, pode abocanhar ou sugar, como explica a  médica pediatra Dolores Fernandez, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

“Essa primeira hora é a hora em que a mãe está ativa e o bebê também, para ser desencadeado todo o processo hormonal, como a produção da prolactina, que vai promover o leite materno, e da ocitocina, que vai promover a descida do leite”, diz ela, que é diretora-geral do Iperba. 

No Brasil, dois em cada três bebês são amamentados ainda na primeira hora de vida, de acordo com uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e divulgada no final do ano passado. No estudo, os investigadores identificaram que as taxas de aleitamento materno têm crescido no Brasil, sendo que quase todas as crianças já foram amamentadas pelo menos uma vez na vida – um índice de 96,2%. 

Muitas vezes, a mamada na primeira hora de vida acontece de forma natural, especialmente no parto normal. Mesmo assim, não quer dizer que não possa acontecer em uma cesariana, em um contato promovido pela equipe médica. 

“Todos os profissionais de saúde envolvidos nesse momento devem prestar atendimentos humanizados que conferem inúmeras medidas benéficas ao bebê e à mãe”, reforça a médica pediatra Milena Menêzes Moradillo, professora da Medicina FTC. Entre essas medidas da primeira hora, estão desde o início precoce do aleitamento até o contato pele a pele do bebê com a mãe.

Tudo isso pode garantir mais proteção contra a mortalidade neonatal, que pode acontecer até os 28 dias de idade da criança. No caso da primeira mamada, esse primeiro contato é importante para garantir um vínculo maior entre a mãe e o bebê. 

“Essas medidas são aplicadas quando o bebê e a mãe estão com condições de recebê-las, ou seja, no caso de intercorrências ou gravidade, ambos deverão ser submetidos a cuidados específicos nas unidades de saúde”, pondera Milena. 

Anticorpos
A partir desse primeiro contato, vai ser através do aleitamento que o bebê ficará protegido contra muitas doenças. “O leite materno tem anticorpos que serão passados. Assim, as doenças que a mãe teve, as bactérias com que ela teve contato, tudo vai ajudar a proteger esse bebê quando ele sai do útero para o meio externo”, explica a pediatra Dolores Fernandez. 

O leite materno passa, então, a substituir o cordão umbilical. Se, antes, o cordão levava toda a nutrição necessária ao bebê através da placenta, isso começa a acontecer através da mama. “Essa primeira hora é extremamente importante para desencadear todo esse processo e garantir que vai se estabelecer um aleitamento mais rápido porque os hormônios começam a ser produzidos”, acrescenta Dolores. 

Em seguida, ainda nos primeiros dias de lactação, o bebê recebe o colostro, que é o primeiro tipo de leite produzido. Quem vê a coloração amarelada e a quantidade menor pode não entender, mas ele tem os mesmos nutrientes que um leite mais maduro, segundo a pediatra Milena Menêzes Moradillo. A diferença é que ele tem mais proteínas, mais anticorpos e menos gordura, para as necessidades desse período da vida da criança.

Cerca de 15 dias depois do parto, o leite maduro começa a ser ejetado. Em sua composição, ele tem proteínas, lipídios, carboidratos, vitaminas, ferro, cálcio, zinco, anticorpos e prebióticos. Todos vêm nas quantidades ideais para promover o desenvolvimento neuropsicomotor do bebê, como reforça a médica.

A pediatra Milena Moradillo explica que, durante a mamada, é preciso ofertar leite de uma mesma mama até que ela seja esvaziada (Foto: Acervo pessoal)

 “À medida que o bebê promove os movimentos de sucção, ocorre a maturação desse leite para o leite de transição, com aumento do teor de gordura e lactose, e redução do percentual de proteínas e prebióticos”, afirma. 

A recomendação da OMS é de que o aleitamento seja feito de forma exclusiva até os seis meses de vida da criança, quando deve ser feita a introdução alimentar – a fase em que o bebê começa a comer outros alimentos além do leite. Antes desse período, a criança não precisa nem mesmo de água. 

“Vale lembrar que, a cada mamada, a genitora deve ofertar um seio até o seu esvaziamento completo. Durante a amamentação, o leite maduro apresenta diferença na sua composição, sendo o leite inicial responsável por saciar a ‘sede’ do bebê, enquanto o leite final é importante para saciar a ‘fome’, garantindo que o bebê fique hidratado e nutrido, visando um ganho de peso adequado”, completa Milena. 

Ao amamentar desde a primeira hora de vida, tanto a mãe quanto a criança têm benefícios, segundo Milena. Para as mães, há redução do risco de hemorragias, de osteoporose, doenças cardiovasculares e câncer de ovário, endométrio e mama. Além disso, o aleitamento ajuda na involução uterina e até favorece a perda de peso. 

Já para o bebê, também há estímulos para o fortalecimento da arcada dentária, desenvolvimento de músculos da face, desenvolvimento físico e intelectual e melhora da digestão. Há menos chances de infecções respiratórias, gastrointestinais, alergias e outras doenças, a exemplo de como anemia, obesidade, diabetes, hipertensão, doença de Crohn e linfoma. “Costumo afirmar que o aleitamento materno é o maior e melhor investimento sem custo do binômio mãe/filho”, pontua a pediatra. 

Conhecimento
Sabendo de tudo isso, para a bancária Tina Garcia, conseguir amamentar Joaquim era importante. Ela fez cursos durante a gestação e contou com uma consultoria de amamentação. Ainda assim, as dificuldades vieram.

Ela teve fissuras nos seios e mastite em uma das mamas, porque o processo de cicatrização foi mais demorado. Nada disso, porém, a surpreendeu.

Desde que Joaquim nasceu, ele tem sido amamentado em livre demanda (Foto: Marina Silva/CORREIO)

“Como li e estudei muito sobre o assunto, sabia que não seria nada fácil. Isso foi muito importante para mim, pois já tinha conhecimento que precisaria enfrentar muitos obstáculos”, explica.

Desde o começo, Joaquim mama por livre demanda e é assim que ela pretende manter, até o dia que o filho quiser.  “Meu plano para o futuro é deixar as coisas fluírem naturalmente.  Continuarei seguindo da mesma forma até o dia que ele não quiser mais. Eu amo amamentar meu filho. Nossa conexão é espetacular”, acrescenta.

A experiência da enfermeira Camila Leocádio Freire, 34, com a filha Maria Helena, de 10 meses, tem sido bem diferente de quando amamentou a primeira filha, hoje com 13 anos. Após um período difícil de adaptação – nos primeiros 23 dias de vida da bebê -, as coisas ficaram mais tranquilas. 

“A primeira mamada foi dentro do centro cirúrgico. Meu parto foi uma cesárea. Ela nasceu às 16h09 e, antes de cortar o cordão, ela já veio para o peito”, conta, sobre o primeiro contato com a filha.  “Foi um negócio indescritível. Foi diferente da minha primeira filha porque, naquela época. Ela foi para os cuidados com a neonatologista, depois para o berçário e só fui ter contato com ela seis horas depois. Agora, em nenhum momento ela foi tirada de perto de mim”, explica. 

Hoje, Maria Helena ainda mama em livre demanda, mas também já tem outros alimentos. Como Camila precisa fazer viagens a trabalho com alguma frequência, intercala entre o leite armazenado e fórmulas na sua ausência. Na maior parte do tempo, porém, trabalha de casa e consegue ajustar as mamadas. Ela pretende deixar que a filha escolha até quando vai ser amamentada. 

A experiência de Camila com a amamentação de Maria Helena tem sido diferente da que teve com a primeira filha (Foto: Acervo pessoal)

“Hoje, o estímulo à amamentação é muito maior. Com minha filha mais velha, tive vários processos de mastite e entrei no antibiótico, então tinha que parar de amamentar. Os médicos já passam antibiótico que você pode continuar amamentando. Isso foi bem diferente”. 

Dificuldades
Por vezes, fatores externos podem dificultar ou atrapalhar o aleitamento. Quando o pequeno Arthur, 4 meses, nasceu, a estudante de Medicina Veterinária Verônica Sena, 21 anos, também conseguiu que a primeira mamada do filho fosse na golden hour. Para ela, amamentá-lo foi tanto a coisa mais prazerosa quanto a mais desafiadora que já fez. 

Verônica também conseguiu amamentar Arthur ainda na sala de cirurgia, após o parto (Foto: Acervo pessoal)

“Eu sempre estive presente para ele, aquele momento se tornou só nosso. Eu servi de alimento, de consolo, de calma, de segurança, tudo isso presente durante a amamentação. Amamentar é se doar por completo: é exaustivo, limitador, mas é uma das ações mais fortes e poderosas que pode vir de uma mulher”, diz.

Ela aprendeu tudo que podia antes do parto: fez curso preparatório com a família com uma consultora e seguia páginas no Instagram sobre aleitamento para se atualizar. Assim, logo que ele completou um dia de vida, depois da amamentação no dia anterior, ela soube o que fazer quando percebeu uma fissura em um dos mamilos, que ficou sensível. 

Deixou cicatrizar com o próprio leite e tentou ajustar a pega. Enquanto isso, continuava ofertando leite. “Com alguns dias, o mamilo cicatrizou e eu conseguia amamentar sem dor nenhuma”, lembra. 

Quando Arthur tinha um mês, porém, teve que ficar internado em uma UTI neonatal. Com um quadro de dificuldade respiratória, o bebê estava com suspeita de bronquiolite. “Nesse momento, um chão se abriu na minha frente e eu me desesperei. Chorei muito, nada me acalmava, por aquela cena do meu bebê sendo furado para tirar sangue, sendo transferido para uma salinha da UTI, foi desesperador para mim”, lembra. 

Após a internação de Arthur em uma UTI, Verônica não conseguiu mais amamentar (Foto: Acervo pessoal)

O diagnóstico final de Arthur foi de refluxo, mas, com o psicológico abalado, a produção de leite de Verônica parou. Hoje, o refluxo está controlado e o bebê se alimenta de fórmula. Ela se preparada para começar a introdução alimentar nos próximos meses. 

Apoio
São muitas as razões pelas quais algumas mulheres não conseguem amamentar. Para algumas, o problema é a falta de orientação de um profissional. Nos últimos anos, com o crescimento das consultorias de amamentação, porém, isso tem mudado aos poucos. Ainda assim, há outros fatores que podem atrapalhar, como destaca a enfermeira Juliana Viana, consultora em amamentação do Mama Vida.

Para a enfermeira Juliana Viana, o crescimento das consultorias de amamentação tem feito com que mais mulheres tenham orientação profissional no aleitamento (Foto: Acervo pessoal)

“Outras causas são a falta de apoio do parceiro ou de uma rede  que está ali para ajudar, mas que às vezes vêm com sugestões que acabam atrapalhando. Outro ponto é a introdução do bico artificial, chupetas e mamadeira”, lista.

Há, ainda, o problema da falta de políticas públicas que possibilitem o aleitamento exclusivo até os seis meses para todas as mulheres. “Você tem que voltar a trabalhar, mas precisa amamentar até os seis meses. Esse retorno gera ansiedade. E quem vai ficar com nosso filho? É multifatorial, porque é realmente uma luta. Falar de amamentação é falar de luta”, reforça. 

É sempre importante observar o bebê, como orienta a psicóloga perinatal e consultora de amamentação Daiana Almeida, do Gerando Novas Histórias. Há alguns sinais de que a criança pode estar com fome, como ficar inquieto e levando as mãos à boca. Já quando ele está satisfeito, fica mais relaxado e para de sugar. 

“Livre demanda significa amamentar o bebê toda vez que ele tiver necessidade. Fome e sede não têm hora certa para acontecer, principalmente considerando um bebê, que passa por tantas mudanças em tão pouco tempo”, diz.

Oito perguntas e respostas sobre aleitamento materno

Quanto tempo deve durar uma mamada? Como saber se aquela quantidade foi suficiente? Dá para não sentir dor? As dúvidas sobre amamentação são inúmeras. Por isso, duas consultoras de amamentação – Daiana Almeida, do Gerando Novas Histórias, e Juliana Viana, do Mama Vida – responderam algumas das principais questões sobre o tema. 

Quais são os sinais de que um bebê quer mamar? 
“Geralmente, sinais de fome são choro, mãozinhas fechadas com punhos cerrados, balançando os braços ativamente  e aquele reflexo de busca. Ele vira o pescocinho e fica procurando o peito”, diz Juliana Viana. 

Quando o bebê é recém-nascido e mais “preguiçoso”, deve ser acordado para mamar?
“Sim. Bebês recém-nascidos não devem passar muitas horas sem mamar, até ter certeza de que a amamentação está bem estabelecida. Se passar de três horas, já pode colocar no colo, de preferência no pele-a-pele para ir despertando”, diz Daiana Almeida.
 
Tem uma duração ideal para a mamada?
“Não tem. Cada binômio terá o seu ritmo. O importante é observar se o bebê está deglutindo o leite e quando larga a mama parecendo satisfeito”, explica Daiana.

Como evitar o empedramento do leite?
“Evitar empedramento de leite é colocar o leite para fora. O leite fica muito parado ali e acaba criando placas, nódulos que podem contribuir para coisas piores, como uma mastite. Não tem ninguém melhor para drenar o leite do que o bebê. Você pode fazer massagem no peito, estimular o peito inteiro”, orienta Juliana Viana. 

Como saber se o bebê está mamando suficiente?
“Através do ganho de peso e das evacuações. O ganho de peso é avaliado pelo profissional de saúde que o acompanha. As evacuações podem ser observadas em casa, com o bebê fazendo cocô todos os dias e xixi claro, em torno de seis fraldas a partir da primeira semana”, afirma Daiana. 

É normal sentir dor durante a amamentação?
“Não é normal sentir dor além de um incômodo que vai amenizando durante a mamada. Se está doendo muito e durante toda a mamada, precisa procurar ajuda para ajustar a pega, o posicionamento e para avaliar a cavidade oral do bebê”, acrescenta Daiana. 

Como é a ‘pega’ ideal?
“Quanto mais molinha, mais fácil para o bebê pegar a mama. Tem que orientar o mamilo na direção do arco do cupido da boca ou do nariz. Deve esperar o bebê abrir uma boca bem grande para que ele pegue e só assim encaixá-lo no peito, para conseguir pegar a maior parte da aréola. Se pegar somente no mamilo, machuca, causa dor e o bebê pode não extrair a quantidade de leite que deveria”, ensina Juliana. 

O que pode ser feito quando a mãe precisa voltar a trabalhar? Como pode ser feita a preparação do leite?
“Até um ano, o leite é o principal alimento do bebê. Ao voltar ao trabalho é importante fazer um estoque de leite para ser ofertado na ausência, através de copinho aberto ou outros apetrechos que não envolvam sucção de bico. Manter ordenhas regulares durante o dia também é importante para manter a produção. Os bancos de leite ou consultoras de amamentação podem orientar sobre a conservação e oferta desse leite”, acrescenta Daiana.

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