HAVOLENE VALINHOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A jornalista Luanda Vieira, 33, afirma ter sido vítima de racismo em um salão de beleza na rua Oscar Freire, nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. A região é conhecida pelo comércio de luxo.
Vieira conta que foi ao Studio Lorena, no último dia 6, e que estava sendo atendida por uma manicure havia dez minutos quando o cabeleireiro Augusto Lima se aproximou fazendo comentários debochados sobre sua presença no local. “Ele disse para ela [a manicure que a atendia] que olhou de longe e achou que era eu a Miriã: ‘Imagina a Miriã sentada aí’.
Miriã, descobriu depois a jornalista, era outra manicure que trabalhara no salão.
“A questão não foi ele ter me relacionado a uma manicure, mas ele ter feito um show porque tinha uma mulher negra ali. Não foi algo rápido, ele ficou uns três minutos rindo e falando alto, em tom deboche, com a manicure que me atendia, como se eu não estivesse lá. Ela [a manicure] ficou sem graça com a situação. E por que a Miriã não poderia estar sentada ali? Esse é o racismo estrutural: o negro não pode estar em todos os lugares”, desabafa.
A cliente disse que ficou chocada e sem reação durante o episódio, mas que depois avisou à manicure e à recepcionista que faria uma reclamação formal. Ela conta que foi informada de que não havia um responsável pelo salão disponível naquele momento.
“Depois, mandei uma mensagem com a reclamação para o WhatsApp do Studio Lorena e a proprietária me ligou. Ela foi solícita, pediu desculpas, mas, para justificar, disse que não entendia o motivo de o cabeleireiro ter me tratado dessa forma, uma vez que eles têm outros clientes negros, e também me agradeceu pela minha educação em tratar o assunto, mas por que eu não seria educada? As pessoas esperam que a gente faça escândalo, é um absurdo.”
Procurado, o Studio Lorena disse à reportagem que sua primeira atitude foi ouvir a cliente e se desculpar pela situação. A proprietária que falou com Luanda disse que ressaltou na ligação a educação que a jornalista teve “ao dividir tudo o que havia acontecido, por compreender o lugar de dor que ela estava naquele momento”.
Três dias depois do ocorrido, na segunda-feira (9), a jornalista publicou um vídeo relatando o caso em sua rede social. “O meu objetivo com o vídeo não era atingir o salão, mas incentivar, encorajar mais mulheres negras a denunciar o racismo, as pessoas a não ficarem com medo de denunciar o mínimo que seja, porque racismo é crime e ele cresce no silêncio”, conta.
O Studio Lorena disse, em nota, que “na sexta-feira, 6, o Augusto [cabeleireiro], que está com a gente há 11 anos […], agiu de forma que julgamos errada, sim, ao confundir e comparar a Luanda com a Miriã, já que essa conexão se deu por ambas serem negras, altas e usarem o mesmo estilo de penteado e tranças (que era um penteado que a Miriã usava na época que trabalhava aqui com a gente –há 5 anos). Isso nos mostra o quanto precisamos trazer o debate racial com mais afinco aqui para dentro, já que nossa proposta enquanto espaço não é a de fazer comparativos entre pessoas, mas ser um ambiente onde todos se sintam acolhidos e bem.”