InícioEditorialLula e o G20 (por José Sarney)

Lula e o G20 (por José Sarney)

O Presidente Lula marcou um gol olímpico com a realização no Brasil da Cúpula do G2O. Antes da Cúpula, a reunião do G20 Social foi um sucesso, com a extensão dos objetivos do Grupo para enfrentar os problemas sociais e, para isso, conseguiu mesmo que se realizasse um evento paralelo com representantes de líderes de movimentos populares, tendo como foco o problema da fome, produzindo um documento para ser entregue à Troika, formada pelo atual presidente (Brasil, 2024), pelo ex-presidente (Índia, 2023) e pelo futuro presidente (África do Sul, 2025), conforme organização da Governança do Grupo.

Concretizou-se no Brasil a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, com a adesão de 148 membros fundadores: 82 países do Grupo, mais 24 Organizações Internacionais, nove instituições financeiras internacionais e 31 fundações filantrópicas e organizações não-governamentais.

A necessidade de união e cooperação de países com os mesmos interesses e a urgência em enfrentar crises globais fez com que os países adotassem esta fórmula do Grupo. Foi no final dos anos 90, após as crises econômicas mundiais, que se iniciou um fórum multilateral de discussão da economia mundial, entre ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais. Posteriormente, em 2008, após a grande crise da bolha imobiliária americana, chefes de Estado e de Governo passaram a se reunir para discutir a estabilidade econômica global. Inicialmente G7, com a reunião dos países mais industrializados — Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá –, o grupo recebeu doze países emergentes, totalizando 19, mais a União Europeia como vigésimo membro; depois, com a União Africana, são 21 países, chegando ao formato atual do Grupo dos 20.

A reunião do Rio, no G20 Social, foi importante porque aprovou, de forma inédita, uma decisão que fugiu totalmente às origens do G20, que era debate de economia e finanças, para exigir que o mundo se debruce sobre um problema mundial, o mais terrível deles, a fome.

A inclusão do problema da fome no G20 foi essencialmente iniciativa do Brasil, e pessoalmente do Presidente Lula, que sempre o teve entre as suas pregações e preocupações. Quando eu era Presidente da República, tratei desse problema da fome nas Nações Unidas, em 1985, e denunciei esse crime contra a Humanidade: manter milhões de pessoas em extrema miséria.

Outro ponto positivo da reunião do G20 Social foi lembrar, no excelente discurso de Lula, a tragédia e a crueldade das guerras atuais e dizer que “o mundo está pior”.

Não podemos ignorar que só é possível a mudança da atenção para os problemas sociais, em que 82 países firmam um documento final, graças à globalização e aos avanços que o mundo atravessa com a civilização digital. Esta possibilitou um melhor relacionamento entre os chefes de Estado e de Governo. Recordo que já no meu tempo de Presidente (e estávamos apenas começando), quando tínhamos qualquer problema grave de interesse internacional, pegava o telefone e ligava para Alfonsín, Sanguinetti, Aylwin Azócar (ainda candidato no Chile), Mario Soares, Felipe González, Pérez de Cuéllar etc. E resolvíamos o problema e estreitávamos relacionamento e ficávamos amigos. Até hoje mantenho amizade com os que estão vivos.

Parabéns ao Presidente Lula que pouco a pouco coloca na agenda mundial a responsabilidade dos países ricos para a solução dos problemas ambientais, do problema da pobreza e da necessária ajuda aos países pobres.

Outro assunto abordado pelo Presidente, para que não fosse esquecido, diz respeito aos organismos internacionais que envelheceram, pois remontam à Segunda Guerra Mundial, como a ONU, o BID, o Banco Mundial e, sobretudo, o Conselho de Segurança, que não tem a presença da América Latina, da Índia, da África do Sul, e à falta do debate entre todos os países do mundo interessados no assunto. Hoje, nada de maior frustração do que as Resoluções das Nações Unidas que não são cumpridas, são apenas peças de intenções.

Estes problemas estão na pauta da política exterior, e o Presidente Lula adotou todos eles como bandeira.

O Brasil, assim, mantém a sua tradição de diplomacia respeitada e de excelente qualidade — desde Rio Branco até hoje, conduzida pelo grande diplomata Mauro Vieira, competente e de grande experiência.

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