O interventor federal no Distrito Federal, Ricardo Cappelli, divulgou nesta sexta-feira, 27, o relatório final sobre os atos ocorridos em 8 de janeiro, em Brasília, quando as sedes dos três Poderes foram invadidas e depredadas. No documento de 62 páginas, Cappelli afirma que os manifestantes conheciam os locais invadidos e dominavam técnicas de confronto. Ao longo do texto, ele detalha desde a formação do acampamento em frente ao Quartel General do Exército, na capital federal; a estrutura do local, com a existência de cozinhas coletivas, banheiros com chuveiro quente, gerador de energia, som mecânico e placas solares, entre outros; e menciona a influência do local como ponto de apoio logístico e local de concentração na véspera no episódio de vandalismo na Esplanada dos Ministérios. “Desde o fim de 2022, ocorreram ações planejadas com o intuito de desmobilização do acampamento, porém foram canceladas por fatores alheios às forças de segurança do Distrito Federal, sendo algumas operações interrompidas já em andamento e com tropas da segurança pública no terreno, por orientação do Exército Brasileiro“, diz trecho do relatório.
No documento, Ricardo Cappelli também afirma que “não houve falta de informações e alertas sobre os riscos da manifestação”, mas que aconteceu uma falha operacional. De acordo com ele, não foi elaborada prévia do planejamento Operacional nem Ordem de Serviço, a ser emitido pelo departamento operacional da Polícia Militar do Distrito Federal sobre os fatos do dia 8. O interventor também alega que “não foi identificado um documento que demonstre a determinação prévia do número exato de policiais militares empregados” no local e cita período de duas horas entre o início da invasão aos prédios públicos e a chegada de reforço operacional. “Houve, portanto, um intervalo de aproximadamente duas horas entre o
início da manifestação e a tomada de providências operacionais de reforço para reprimir as ações em andamento. Ademais, as ações realizadas pelos manifestantes durante o dia 08 foram planejadas e coordenadas, mostrando conhecimento dos locais invadidos e técnicas de confronto”, afirma Cappelli em outro trecho do relatório. Ele também aponta que linha de contenção da Avenida das Bandeiras contava apenas com duas linhas de gradil, “sem travamento entre elas e com distanciamento entre elas acima do adotado como praxe, o que fragilizou a contenção dos manifestantes”.
“É possível afirmar que a falta de efetivo, a atitude passiva e a ausência de qualquer planejamento pelo DOP – Departamento de Operações da PM – expuseram o STF de maneira inaceitável”, completa o documento. Ricardo Cappelli também menciona que o ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, havia recebido um relatório da Secretaria de Segurança Pública do dia 6 que anunciava: “possibilidade de invasão e ocupação a órgãos públicos; participação de grupos com intenção de ações adversas, bem como orientação de que o público participante fossem adultos em boa condição física; participação de pessoas que pertenceriam ao segmento de Colecionadores, Atiradores e Colecionadores (CACs); e possíveis ações de bloqueios em refinarias e/ou distribuidoras”.