Marcelo Rubens Paiva (foto em destaque) viu uma de suas missões com a literatura ser cumprida ao descobrir que Ainda Estou Aqui, livro em que relata a vida de sua mãe após seu pai ser morto pela ditadura militar, atingiu públicos mais jovens, com menos de 20 anos, por meio das redes sociais. “A literatura é o testemunho dos vencidos e nós somos os vencidos de 1970”, disse o escritor em conversa com o Metrópoles.
A história do pai de Marcelo, o engenheiro Rubens Paiva, e de sua mãe, Eunice Paiva, voltou aos holofotes com o lançamento do filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles. A produção estreou nos cinemas na quinta-feira (7/11), com Fernanda Torres e Selton Mello nos papéis principais. E com o sucesso em torno do filme, o livro do escritor também ganhou destaque.
A obra, lançada em 2015 pela editora Alfaguara, garantiu o 12º lugar da lista de não-ficção da Nielsen PublishNews, que apura os autores nacionais mais vendidos em livrarias, supermercados e lojas de autoatendimento no país, entre 9 de setembro e 6 de outubro. Já nas redes sociais, jovens viralizaram a obra com críticas e comentários dos relatos de Paiva.
“Achei um barato você me falar que jovens de 20 anos estão redescobrindo [o livro]. Isso me parece muito o que aconteceu na Alemanha com o filme A Lista de Schindler (1993), o jovem alemão estava fazendo fila na porta do cinema porque estava interessado no que aconteceu. Eu acho que o jovem de hoje está querendo saber um pouco da história do país, depois de um período em que a ditadura foi vangloriada e os torturadores foram considerados heróis. Em que pessoas tentaram um golpe de estado inspirados no golpe de 64, pediram intervenção militar ao redor dos quartéis. A juventude quer saber o que aconteceu. Eu vivi, todo mundo da minha geração viveu, mas muita gente mais jovem também viveu. Mas eles [pessoas com menos de 20 anos], não”, opinou o autor.
“Está aí um papel cumprido da literatura. Literatura como missão, como diria o Nicolau Shevchenko. A literatura é o testemunho dos vencidos. E somos nós, os vencidos em 70, que estamos contando nossa versão dos fatos e a juventude está tentando descobrir a história do país através disso”, completou.
Veja a opinião do Metrópoles sobre o filme:
Papel de Eunice Paiva
O livro e o filme Ainda Estou Aqui se passam na década de 1970, quando o Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva – Rubens, Eunice e seus cinco filhos – vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece.
Eunice — cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas — é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.
Era uma mulher que tinha cinco filhos para cuidar, mas tinha uma luta de que ela nunca abriu mão.
Marcelo Rubens Paiva
“Quando eu escrevi o livro, a ideia foi mostrar o papel da minha mãe nessa reconstrução, não só da redemocratização, mas da família. Mostrar como foi uma mulher atuante, porque enquanto meu pai foi preso e morto, minha mãe lutou desde os anos de 1971 pela justiça em relação aos desaparecidos políticos, contra a violação dos direitos humanos, dava entrevistas, viajava, lutou pela demarcação de terras indígenas, foi consultora do Banco Mundial, foi da Constituinte, lutou pelas Diretas Já, pelo reconhecimento dos mortos aparecidos”, apontou.