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Moradores relatam sufoco após deslizamento em Jardim Cajazeiras: ‘Parede rachou’

Mãe e filha de abraçam após casa ser invadida pela lama

O eletricista Valdimir Costa, 22 anos, estava dormindo quando o muro que segurava uma encosta nas proximidades da casa dele cedeu, o barro deslizou, derrubou portões, invadiu casas e causou um alarde na 2ª Travessa Juraci Trindade, no bairro de Jardim Cajazeiras, em Salvador. Pelo menos 12 casas foram atingidas pela lama ou tiveram o acesso bloqueado por conta do deslizamento, mas Valdimir não viu nada acontecer.

Equipes trabalham na retirada do barro e dos escombros (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Enquanto ele dormia, o auxiliar de serviços operacionais Alberto Gabriel Silva, 21 anos, acordava assustado com o barulho do deslizamento. Ele estava em casa com a esposa e a filha, uma bebê de 1 ano e 3 meses, e contou que quando levantou da cama os pés já mergulharam na água. No momento chovia forte e o imóvel foi invadido pela água da chuva e pela lama.

“Estava tudo alagado. Os azulejos da cozinha caíram e a parede rachou. A gente ficou preso porque a lama bloqueou a porta, não dava para abrir. Os vizinhos acordaram assustados e vieram ajudar. Conseguimos sair, pegamos os documentos e algumas peças de roupas, mas a gente ainda não sabe o que fazer”, contou, cerca de 8h após o ocorrido.

A quantidade de água que invadiu a casa foi tão grande que foi preciso abrir um buraco na parede para que ela escoasse. As roupas da bebê e objetos pessoais também foram destruídas pela lama. O imóvel pertence ao pai dele, Alberjam Carvalho, que correu para o local após receber a ligação do filho contando o que aconteceu. “Tenho essa casa há mais de 20 anos e nunca passamos por isso. Foi a primeira vez que ela foi atingida por um deslizamento”, contou.

O filho, a nora e a neta de Alberjam estavam casa azul atingida pelo barro (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Os pedidos de socorro também vieram da casa ao lado, onde a vendedora ambulante Ana Cristina Conceição mora com os cinco filhos. O imóvel dela foi o mais prejudicado. A força do barro deslizando foi tamanha que arrancou o portão e empurrou a estrutura casa à dentro. Vizinhos tiveram que abrir um acesso no meio dos escombros para que a família conseguisse escapar.

Pela manhã, ela observava os homens que trabalhavam na retirada do barro enquanto ninava o pequeno Jonatas, que tem apenas um mês de vida. Desempregada, ela contou que está desesperada. “Consegui pegar documentos e algumas peças de roupa, mas ainda não sei o que vou fazer”, disse.

Ana Cristina e o filho de um mês de vida (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Por volta das 6h, quando os vizinhos já tinham deixado as casas e a comunidade estava agitada aguardando a chegada dos órgãos competentes, o eletricista Valdimir acordou. Ainda sonolento, ele pegou o celular e foi então que viu a notícia de que o barranco deslizou. Ao descer da cama percebeu que a água tinha invadido o imóvel, mas foi somente ao abrir a porta que ele se deu conta do tamanho do problema.

“A lama desceu em direção a minha casa, mas parou na escada. Não chegou a invadir. Eu fui dormir tarde, por volta de meia-noite, e quando o barranco deslizou eu estava dormindo, não ouvi o barulho e nem a agonia dos vizinhos”, disse. Ele contou que estava sendo zoado pelos amigos pelo sono pesado.

Acidente aconteceu durante a madrugada e lama invadiu as casas (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Recuperação
Pela manhã, uma equipe da Defesa Civil de Salvador (Codesal) esteve no local para fazer uma avaliação. O diretor geral do órgão, Sosthenes Macedo, contou que o acidente foi provocado pela obstrução de drenagem, ou seja, o solo ficou encharcado e a água não teve por onde escoar.

“Existia uma passagem no local que foi cortada por populares para receber construções, o que acontece em muitas regiões da cidade, e fizeram uma contenção de bloco cerâmico. Essa contenção não tolerou as chuvas e por conta da precariedade do tipo de construção que foi feito, cedeu. As equipes da Limpurb fizeram o lonamento da área para evitar novos impactos das chuvas e vamos avaliar a situação nos próximos dias”, afirmou.

Foram identificados 12 imóveis atingidos, mas nenhum deles apresenta risco de desabamento. Mesmo assim, agentes da Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esporte e Lazer (Sempre) encaminharam as famílias para o aluguel social. Os moradores devem deixar as casas para evitar novos acidentes até que o local seja liberado.

Apesar do susto ninguém ficou ferido (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Ocorrências
As chuvas em Salvador e Região Metropolitana estão sendo provocadas por uma frente fria vinda do Sudeste. Segundo o Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de Salvador, a tendência é de que elas comecem a reduzir a partir desta quarta-feira (11). O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) está prevendo muitas nuvens com chuvas isoladas nos próximos dias, e as temperaturas vão oscilar entre 22ºC e 30ºC.

Os temporais dos últimos dias provocaram estragos. Nesta terça-feira (10), até à 17h, a Codesal recebeu 124 solicitações. Foram 20 ameaças de desabamento, três ameaças de desabamento de muro, 19 ameaças de deslizamento, oito árvores ameaçando cair, oito avaliações de área, 23 avaliações de imóveis alagados, um desabamento de imóvel, 11 desabamentos de muro, um desabamento parcial, 18 deslizamentos de terra, um galho de árvore caído, oito infiltrações, duas orientações técnicas e um poste ameaçando cair.

A ocorrência mais greve foi o deslizamento de terra no bairro de Jardim Cajazeiras, onde houve o rompimento de via de acesso local e 12 famílias foram orientadas a deixar as casas. As equipes da Codesal estão de plantão 24h e em caso de emergência a população pode entrar em contato pelo 199.

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