Ministro criticou ‘terraplanismo e o negacionismo’ sobre episódio em Brasília e disse que ‘extremistas que não gostam do Supremo’ são odiados pela maioria da população
Rosinei Coutinho/SCO/STF
O ministro Alexandre de Moraes durante julgamento dos réus do 8 de Janeiro
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rebateu as alegações feitas pelo desembargador aposentado Sebastião Coelho da Silva, que acusou a corte de promover um “julgamento político” das ações e apontou a incompetência da Corte para a análise das ações. No início do voto, o magistrado, que é relator do caso, exaltou a gravidade dos ataques, marcados pela invasão e depredação dos Três Poderes, e afirmou que o “terraplanismo e o negacionismo” de algumas pessoas faz parecer que o 8 de Janeiro foi como um “domingo no parque”: “Então, as pessoas vieram, as pessoas pegaram um ticket, pegaram uma fila assim como fazem na Disney. (…) ‘Agora vamos invadir o Supremo, vamos quebrar uma coisinha aqui. Agora vamos invadir o Senado. Agora vamos invadir o Palácio do Planalto’, como se fosse possível. ‘Agora vamos orar da cadeira do presidente do Senado’. Presidente, é tão ridículo ouvir isso que a Ordem dos Advogados do Brasil não deveria permitir, a Ordem dos Advogados do Brasil que é uma defensora intransigente da democracia”, disse o relator.
Moraes também reforçou o termo “golpistas” e falou em trama contra o Estado Democrático de Direito, o governo democraticamente eleito e a próprio Corte. “Todas essas pessoas que são odiadas pela maioria da população. Esses extremistas que não gostam do Supremo são a minoria da população e isso ficou demonstrado nas urnas e fica demonstrado nos atos golpistas em que uma minoria praticou e foi repudiado pela população brasileira, que é séria, ordeira e digna”, completou, em resposta à declaração de Sebastião Coelho da Silva de que os ministros são “as pessoas mais odiadas do país”. “Eu quero dizer, com muita tristeza, que nessas bancadas aqui, nesses dois lados, estão as pessoas mais odiadas desse país. Infelizmente. Quantas fotos tenho com ministros dessa corte? Vossas excelências têm que ter a consciências que vossas excelências são pessoas odiadas desse país. Essa é uma realidade que alguém tem que dizer e vossas excelências têm que saber disso”, afirmou o desembargador aposentado.
Como o site da Jovem Pan mostrou, o plenário do STF deu início nesta quarta-feira, 13, ao julgamento dos quatro primeiros acusados por participação dos atos de 8 de Janeiro. O desembargador aposentado Sebastião Coelho da Silva, investigado por incitação a atos golpistas, é advogado de defesa do Aécio Lúcio Costa Pereira, acusado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de invadir o Congresso Nacional e quebrar vidraças, espelhos, portas de vidro, tótens informativos e obras de arte. Ele também seria o responsável por queimar o tapete do Salão Verde da Câmara dos Deputados. Também serão julgados outros três réus: Thiago de Assis Mathar, que foi gravado pelas câmeras do Palácio do Planalto e, em depoimento, disse que foi a Brasília para participar da invasão; Moacir José dos Santos, apontado como um dos que invadiram o Planalto e acusado de ter destruído itens de alto valor que integram o acervo de objetos artísticos e históricos da União, como o relógio trazido ao Brasil por Dom João VI em 1808 e uma tela do artista plástico Di Cavalcanti; e Mateus Lima de Carvalho Lázaro, que foi preso no dia dos atos com um canivete, que pode ter sido usado na depredação de obras de arte.