O Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça Federal oito pessoas por transportar ilegalmente brasileiros aos Estados Unidos. Elas também irão responder por lavagem de dinheiro, em valores que ultrapassam R$ 16 milhões, e por organização criminosa. Segundo a denúncia, de 2019 até 2022, a organização foi responsável pela entrada de, pelo menos, 444 pessoas ilegalmente no país estrangeiro, sendo que quase um terço delas era menor à época da viagem.
De acordo com as investigações, os integrantes da organização cobravam entre R$ 60 mil e R$ 70 mil por pessoa (valores recentemente apurados) para levá-las do Brasil até os EUA. Com o esquema, eles teriam movimentado, de maneira ilegal e não declarada, aproximadamente R$ 16,5 milhões em 45 contas bancárias entre janeiro de 2017 e agosto de 2021.
Na denúncia, apresentada em 20 de março, o procurador da República Reginaldo Trindade afirma que a organização, localizada no estado de Rondônia, “era altamente organizada e de caráter transnacional, atuando no contrabando de brasileiros tendo como rota o México até a entrada irregular nos Estados Unidos”.
Segundo a denúncia, a organização incluía sócios, funcionários e colaboradores da empresa de turismo Voe+Turismo, com sede em Buritis (RO) – a 321 quilômetros da capital Porto Velho -, além de outras pessoas atuantes nos EUA e no México e colaboradores que atuavam nos trâmites burocráticos de emissão de passaportes brasileiros, com o apoio e suporte de ”coiotes”.
Para Reginaldo Trindade, autor da ação penal, “a forma de operação do crime organizado está cada vez mais sofisticada. Uma quadrilha, do interior do estado de Rondônia, patrocinando, ilegalmente, a entrada de pessoas nos Estados Unidos e movimentando milhões neste negócio. É um esquema surreal e criminoso. Os responsáveis terão que responder na Justiça”.
Crimes – O MPF requer à Justiça o recebimento da denúncia e a posterior condenação dos denunciados pelos seguintes crimes:
- promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa;
- promover migração ilegal, nesse caso, a entrada ilegal de brasileiro em país estrangeiro; e
- lavar ou ocultar bens e valores.
Agentes infiltrados – A investigação foi a primeira e única no Brasil, até o momento, que utilizou a infiltração de agentes policiais, com autorização judicial, em organizações criminosas que atuam na migração ilegal de brasileiros. Os policiais infiltrados conversaram por meio de mensagens via WhatsApp com dois dos envolvidos e conseguiram indícios suficientes da autoria e participação dos denunciados, além de informações sobre a divisão de tarefas na organização, valores cobrados, logística do transporte e dados do processo de lavagem do dinheiro.
Operação Yankee – As investigações tiveram início em 2021, a partir de documento enviado pela agência americana US Border Patrol sobre a abordagem a um cidadão brasileiro em El Paso, no Texas. Ele informou receber ajuda de outras pessoas para entrar ilegalmente no país.
A operação, que levou à prisão e desmantelamento da organização, foi deflagrada em 13 de fevereiro deste ano nos estados de Rondônia, Amazonas, Goiás e Tocantins para o cumprimento de mandados de busca e apreensão e prisão preventiva. Dos oito denunciados, três encontram-se em prisão preventiva, um em prisão domiciliar e um com monitoração eletrônica. Há, ainda, um mandado de prisão preventiva decretado e ainda não cumprido para um dos denunciados.