Renato Paiva representa a nova era do Bahia Cidade, na qual o investidor manda porque pode e têm juízo os obedientes, para protegerem seus rendimentos.
Uma piada de português, ó pá, o prof. faz seu estoque de óleo de peroba, resistindo ao bombardeio pueril de quem não se pode esperar preparo na representação do suposto “real”.
Tricolores gritam “burro!” quando deveriam respeitar o companheiro muar, pois deixaram-se engrupir pela fantasia de glórias em troca da escravização, agredindo a ancestralidade do Dois de Julho.
Comovente o esforço de Guilherme, ao ocupar generosos espaços midiáticos, produzindo sensação de vestígio da velha ordem extinta com o transfer de 90% das ações para os invasores.
A mecânica de mercado, ora em vias de exterminar os últimos valores morais do desporto como o conhecíamos, precisa destes jovens dirigentes para fazer-lhe as honras.
Há, porém, equívoco no método, o metá-hodós grego (algo como “através do caminho”, o “lugar de passagem”): a torcida não é passiva, engana-se quem tem como tática mentir à exaustão.
O campeonato “Bai-anããão” está no papo (obrigação!, Cristóvão Contreiras) mas a Série A vem aí: não se revelam mais talentos… o tempo todo é contratação, se metade delas se confirmasse… não teria como calcular…
O fluxo incessante de “fakes” em reforços “fantasmas” chega à beira da obscenidade. É o jeito adaptar Ruy Barbosa: “de tanto ver reinar o desvio de pix, o homem tem vergonha de ser honesto”…
Por outro lado, o Vitória, já subindo ao cadafalso, sente-lhe a corda apertar o pescoço, escapando ao radar do lucro, em espantoso desperdício, graças às escolhas pelo suicídio.
Não fosse o amor incondicional de sua torcida, e o Barradão, símbolo da reinvenção do Decano, já teria virado um condomínio, um supermercado ou um templo da Universal.
O olho é gordo na área onde os rubro-negros reviviam a velha Boa Terra das festas de largo. O processo de ypiranguização vai avançando rápido rumo ao crepúsculo dos ídolos.
A redução ao Bahia produz renúncia à geração de emprego e renda, pois sabe-se o quanto o Vitória é capaz de mobilizar recursos, mas não se ouve falar de nada consistente desde o acerto com o site de mulheres-maravilha…
O leão, coitado, só esteve tão galinha em três ocasiões: 1912, ao romper com a primeira liga, afastando-se até 1920; 1937, quando filou o certame da cidade; e em 1990, o presidente despachava sentado em banco de kombi.
Nossa bola vai murchando (ou já estaria furada…), basta lembrar a insistente recusa em subir de divisão dos valentes times das séries C e D, lutando quando muito para não caírem os da A e da B.
Não se pode comprovar causa e efeito, mas é instigante a coincidência no declínio do futebol baiano e o perfil atual da CBF, ocupada por talentoso conterrâneo. Procura-se treinador para tão luxuosa vitrine.
Restou ao escrete a morte horrível (chore, Jerry): o manto canarinho sequestrado pelo projeto “Breu-zil Fascista”; a Seleção deixou de ter finalidades desportiva, cívica e de união da cidadania.
Única psicoterapia capaz de nos curar do complexo de vira-latas, a Seleção hoje é o próprio vira-latas…
Toca Caê: triiiste Bahia, triiiiste Vitória, triiiste CBF… ó quão semelhantes…
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.
A opinião do autor não necessariamente reflete o posicionamento do Correio.