Depois de Einstein, aprendemos a olhar a relatividade sob a perspectiva da relação entre velocidade e referencial. Na verdade, outros conceitos se aplicam ao termo, como o que atribui ao conhecimento um caráter que é, em sua essência, limitado, pois depende de fatores variáveis como a particularidade individual do sujeito que o detém.
Os indivíduos podem ser diferenciados sob os mais diferentes aspectos. Características físicas como a íris do olho ou a digital são personalíssimas, sendo, inclusive, utilizadas pela biometria como fatores de identificação de uma pessoa. Já as características comportamentais e psicológicas, ainda que diversas, são mais limitadas e, geralmente, as utilizamos para enquadrar pessoas em grupos. Dentre as diversas possibilidades de enquadrar o ser humano em congregações que os distingam, duas se apresentam como especialmente relevantes: a relativização entre os valores atribuídos ao presente e o futuro e entre o seu bem e o bem dos demais.
Há pessoas que superprecificam o presente e subprecificam o futuro. Nesses casos, não há a compreensão de que o presente de hoje é o futuro de ontem e que se esse último não tiver sido bem projetado ou for ignorado, cobrará hoje aquilo que não lhe foi oferecido em atenção no passado. Para um país, educação, cultura, esporte e ciência e tecnologia, por exemplo, são áreas que demandam esforços contínuos e prolongados. Os frutos demoram a amadurecer. Por essa razão, aqueles que sofrem de imediatismo agudo não atribuem significado suficiente a essas áreas quando estão atribuindo pesos no processo avaliativo de gestões governamentais.
Querer o que é bom para si é não somente natural, mas é também o sustentáculo do amor-próprio, tão essencial a qualquer ser humano. No entanto, ninguém será verdadeiramente feliz se não se faz feliz fazendo outros felizes. Como na visão aristotélica, o amor ao outro é querer o bem do outro enquanto outro. Na perspectiva da avaliação política seria aprovar um governo ou medidas não governamentais, não pelo que ele ou elas trazem para si, mas sim pelo que eles constroem para outros, sobretudo, aqueles que mais precisam.
É importante observar, ainda, que as duas formas de relativização estão absolutamente imbricadas. Valorizar o futuro é não somente uma forma de atribuir um valor ao próprio porvir, mas também de mostrar preocupações com aqueles outros que continuam a chegar ao nosso planeta. Por isso mesmo, a questão mais decisiva para o futuro da humanidade, em geral, não recebe a necessária atribuição de valor, nem pelos curto-prazistas, nem pelos ególatras. A valorização da agenda ambiental requer, ao mesmo tempo, empatia e atribuição de valor ao amanhã, qualidades escassas na estranha nação que nos tornamos.
Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado e coordenador de inovação da PRPPG/UFBA