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O que se sabe sobre atentado a mercado de Natal na Alemanha

Após o ataque ao mercado de Natal em Magdeburgo, na Alemanha, que deixou ao menos cinco mortos e centenas de feridos, muitas questões permanecem sem resposta, principalmente sobre o que motivou o suspeito a atropelar uma multidão.

A quatro dias do Natal, a feira típica montada em uma praça da cidade estava cheia de famílias, que desfrutavam dos estandes de comidas e bebidas quentes para espantar o frio e de artesanato.

Pouco depois das 19h, o carro avançou cerca de 400 metros entre os corredores de barracas de madeira, como é possível ver nos vídeos gravados por celular compartilhados logo após a tragédia. Em gravações posteriores, pessoas aparecem cuidando e confortando feridos.

Quem é o suspeito

O suspeito do crime é um médico psiquiatra de 50 anos, da Arábia Saudita, que mora na Alemanha desde 2006. Ele vive e trabalha em Bernburg, cidade a 45 quilômetros de Magdenburgo, ambas no estado da Saxônia-Anhalt. O local do crime fica aproximadamente 150 quilômetros a oeste de Berlim.

Vídeos mostram como vários policiais o cercaram em uma parada de bonde nas proximidades do mercado de Natal. Ele se deitou no chão ao lado do veículo envolvido no crime, um BMW X5 preto tipo SUV, alugado e com placa de Munique, e depois foi levado embora.

Em 2016, o suspeito teve um pedido de refúgio reconhecido. Em uma entrevista publicada pelo jornal Frankfurter Zeitung em 2019, ele afirma que foi ameaçado de morte por ter abandonado o islã como religião.

Ele trabalhava desde 2020 no sistema prisional, com pessoas que sofrem de dependência química. À emissora alemã MDR, a clínica psiquiátrica, uma instituição estadual, afirmou que ele estava afastado da função, por ter sido avaliado como inapto para o trabalho.

Um vizinho do suposto agressor em Bernburg ouvido pela emissora descreveu o homem como muito “retraído”, mas com comportamento “normal”.

A notícia de que o suspeito era um imigrante refugiado saudita gerou reações imediatas de grupos políticos radicais anti-imigração. Publicações nas redes sociais rapidamente classificaram o caso como um atentado de motivação terrorista, vinculando-o a medidas de acolhimento a refugiados, sobretudo sírios, adotada pela então chanceler Angela Merkel em 2015.

O bilionário Elon Musk, que no começo do dia havia elogiado a Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de ultradireita que promove discursos anti-imigração, compartilhou publicações na sua rede social X que associavam o ataque à imigração.

Pouco depois do crime, mais informações sobre o perfil do suspeito vieram à tona: autodenominado “crítico do Islã”, com falas a favor da AfD e restrições à imigração, o que contraria a hipótese de motivação islamista. Até o momento, acredita-se que ele agiu sozinho.

Motivos do ataque

Os investigadores examinam agora as razões pessoais, políticas ou psicológicas que poderiam ter levado o homem a cometer o crime.

Segundo a publicação alemã Spiegel, ele nasceu na cidade saudita de Hufuf e veio para a Alemanha em 2006, inicialmente para treinamento. Ele alega ter sido ameaçado de morte na Arábia Saudita por sua renúncia à fé islâmica, o que é crime passível de prisão e até pena de morte.

Em 2016, ele foi reconhecido pelo governo alemão como refugiado, e desde então teria atuado ativamente para orientar pessoas em condições semelhantes a obter asilo.

Em uma entrevista para a emissora britânica BBC, em 2019, o médico saudita aparece falando do serviço que criou para ajudar ex-muçulmanos a fugir de perseguição em seus países de origem, sobretudo no Golfo Pérsico. Ele alegou que 90% das pessoas que o procuravam eram mulheres entre 18 e 30 anos.

Em entrevista ao jornal Frankfurter Rundschau, em 2019, ele disse que as mulheres da Arábia Saudita recorriam a ele em busca de protecção “porque foram violadas pelo seu tutor masculino”. O sistema de asilo alemão, disse ele, era “um caminho para as mulheres alcançarem a liberdade”.

Nos últimos anos, seu discurso se radicalizou. Oito dias antes do ataque, ele publicou em sua conta no X uma entrevista que deu a um blog islamofóbico americano. Entre as teorias conspiratórias que compartilha, está a de que o Estado alemão tem conduzido uma “operação secreta” para “caçar e destruir vidas” de ex-muçulmanos sauditas em todo o mundo ao dar asilo a “jihadistas sírios”.

Além de simpatizar abertamente com a AfD, ele queria criar uma “academia para ex-muçulmanos” em cooperação com o partido, segundo o Spiegel.

Em novembro, ele publicou em suas redes sociais quatro “exigências da oposição liberal saudita”, sendo a primeira que a Alemanha “deve proteger suas fronteiras contra a migração ilegal”.

Ele afirma ainda que a política de fronteiras abertas era um plano da ex-chanceler alemã Angela Merkel para “islamizar a Europa”.

O tom paranoico de algumas de suas mensagens sugerem, segundo a imprensa alemã, que o homem sofreria de instabilidade psíquica.

Diversas pessoas teriam procurado as autoridades alemãs para alertar sobre o conteúdo das postagens do suspeito, que até então não estava no radar das forças de segurança como islamista ou potencial ameaça à segurança pública.

O suspeito também procurou no passado a DW. Em março de 2021, ele afirmou via Twitter que era espionado por sauditas e pela Arábia Saudita, e acusou as autoridades alemãs de não tomar providências e não levá-lo a sério. Em outubro de 2023, ele escreveu à DW que as autoridades alegaram que o caso dele não seria de interesse público.

“[As autoridades] Permitem que um refugiado saudita esteja exposto a intimidação, vigilância e perseguição”, escreveu.

Muitas de suas alegações, porém, não puderam ser confirmadas pela DW.

Em novembro e dezembro deste ano, o suspeito voltou a procurar a DW, com a promessa de oferecer provas. Depois disso, não houve mais contato.

Houve falha na segurança?

A segurança dos tradicionais mercados natalinos tem sido um tema importante desde 2016, quando um extremista islâmico tunisiano dirigiu um caminhão contra uma multidão de visitantes de um mercado em Berlim, deixando 13 mortos e dezenas de feridos. Uma cerimônia em memória aos oito anos da tragédia havia acontecido na noite anterior, no local do crime.

A ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, havia dito em novembro que não via sinais de perigo para os mercados de Natal este ano, mas que era prudente ficar atento.

Muitas dessas feiras, inclusive a de Magdeburgo, contam com barreiras de proteção para evitar tragédias como a de 2016. Especialistas em segurança manifestaram surpresa com o fato de o homem ter conseguido entrar no mercado de carro, apesar das barreiras contra carros.

Nos últimos meses, a Alemanha também viveu uma série de ataques a faca em que o suspeitos eram islâmicos. Três pessoas foram mortas e oito ficaram feridas durante um festival de rua na cidade de Solingen, no oeste do país, em agosto. A polícia prendeu um suspeito sírio, e o ataque foi reivindicado pelo “Estado Islâmico”.

Em junho, um policial foi morto em um ataque com faca em Mannheim, e um cidadão afegão foi considerado o principal suspeito.

Ainda é um mistério o que motivou o crime em Magdeburgo. No momento em que foi imobilizado pela polícia, o suspeito não parece ter feito qualquer declaração.

Nenhum dispositivo explosivo foi encontrado no veículo usado no crime, segundo informou a polícia. A área ao redor do carro foi isolada logo após o atentado.

Reações e próximos passos

Um serviço memorial acontecerá na Catedral de Magdeburg nesta noite. O chanceler alemão Olaf Scholz estará presente.

De acordo com funcionários do governo, Scholz avaliará a situação e discutirá as medidas necessárias para as investigações e medidas de segurança.

A Arábia Saudita condenou o atentado em Magdeburgo e expressou a sua solidariedade com a Alemanha. O governo de Riade expressou “sua solidariedade com o povo alemão e as famílias das vítimas” e reiterou a sua “rejeição à violência”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores saudita, no X.

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