Em 1996, um ano antes de morrer, o grande Osmar Macêdo – que completaria 100 anos em 2023 -, recebeu uma homenagem muito especial. A produtora musical e artística, Marilia de Aguiar, que trabalhou com a banda Capital Inicial e com a cantora Simone e em diversos projetos culturais e é autora do livro Caí na Estrada com os Novos Baianos, produziu um disco muito especial: o álbum comemorativo Filhos da Alegria.
O álbum reuniu grandes artistas baianos cantando o repertório de Osmar Macêdo um dos criadores do trio elétrico. A saber: Durval Lélys, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Bell Marques, Alceu Valença, Ricardo Chaves, André Macêdo, Daniela Mercury, Moraes Moreira, Elba Ramalho, Armandinho Macêdo, Luiz Caldas, Tonho Matéria e Margareth Menezes.
O resultado foi tão bom que o velho Osmar ia correr o Brasil lançando e divulgando esse trabalho. Mas, no ano seguinte ele veio a falecer. Pelo menos, teve a oportunidade de ser homenageado em vida e ficou muito feliz .
Agora, em 2023, quando seus filhos vão comemorar o centenário durante o desfile no Carnaval, o Baú do Marrom foi ouvir a produtora responsável por esse trabalho que registrou a obra genial desse homem, que, ao lado de Dodô, criou o trio elétrico que revolucionou o Carnaval da Bahia. Entre muitas revelações, ela confessou ter realizando um desejo de Osmar Macêdo que perguntou: “Minha filha, será que eu vou morrer sem ver minhas músicas gravadas?”
A produtora Marilia de Aguiar |
BAÚ DO MARROM- O que a motivou a produzir o disco Filhos da Alegria em homenagem a Osmar Macêdo?
MARÍLIA DE AGUIAR – Eu já era amiga dos filhos do seu Osmar quando produzi alguns shows do Trio Elétrico Armandinho Dodô & Osmar na campanha do Brizola à presidente em 89 .Durante essas viagens nos tornamos próximos. Seu Osmar, além de grande artista, era amoroso e carinhoso. Nos carnavais seguintes ele sempre me convidou para sair junto com eles no trio.
Em 96, enquanto esperávamos o trio elétrico sair, seu Osmar me falou exatamente assim: “Minha filha, será que eu vou morrer sem ver minhas músicas gravadas?” Isso mexeu muito comigo. Uma obra daquela importância! Eu queria dar esse presente a ele. Fui a São Paulo e consegui aprovar o projeto com a gravadora Eldorado. É um dos trabalhos que mais gostei de fazer e do qual me orgulho.
Capa do disco gravado em homenagem ao grande mestre do Carnaval – foto: Reprodução |
Quero ainda ressaltar que o Durval Lélys foi muito generoso. Gravamos durante quase dois meses no seu estúdio e quando eu fui acertar o pagamento ele não aceitou. Fez questão de dar o valor de presente para o seu Osmar, dizendo que se não fosse a criação do trio elétrico ele nem seria artista. E ainda bancou o técnico!!
BAÚ DO MARROM- Qual foi o critério de escolha dos convidados?
MARÍLIA DE AGUIAR – Priorizamos os artistas que seu Osmar gostaria de ouvir cantando determinada música. Ele sabia exatamente quem faria melhor cada uma delas. Só a do Moraes Moreira foi uma surpresa para ele, uma homenagem, que só ouviu um pouco antes da gravação.
BAÚ DO MARROM- Algum artista que você queria que participasse do disco não pode atender ao chamado?
MARILIA DE AGUIAR – Caetano Veloso.
BAÚ DO MARROM- Como se deu a seleção do repertório?
MARÍLIA DE AGUIAR –Seu Osmar me apresentou suas doze composições e todas foram gravadas.
BAÚ DO MARROM- Quando ouviu o disco pronto qual a reação do homenageado?
MARÍLIA DE AGUIAR – Ele ficou muito feliz com o resultado. Mas não gostou da capa. Estava animadíssimo com a agenda de divulgação, que começaria em março de 97, no programa do Jô. Ele queria dar o pau elétrico para o apresentador. Infelizmente não foi possível.
BAÚ DO MARROM- O disco foi lançado em 1996. Em 2023 comemora-se o centenário de Osmar Macêdo. Você pensa em relançar esse disco mesmo que seja nas plataformas digitais?
MARÍLIA DE AGUIAR – Seria maravilhoso, mas só idealizei e produzi. Não tenho os direitos sobre a obra e a Eldorado nem existe mais. Talvez Aroldo Macêdo (um dos filhos de Osmar) possa fazer isso. Torcendo aqui.