Ao contrário de Joice Hasselmann, João Doria e Alexandre Frota, que viraram desafetos de Bolsonaro e persona non grata na direita, Pablo Marçal deixa uma ferida aberta no bolsonarismo. Esta é a primeira vez que a ruptura de Bolsonaro com um aliado divide seus eleitores e o próprio grupo político do ex-presidente.
Das outras vezes, o campo conservador interpretou que o cenário era Bolsonaro versus “oportunistas” que mudaram de lado. Agora, parte dele atribui a pecha de oportunista ao ex-presidente, que optou por manter o apoio a Ricardo Nunes (MDB), de centro, em vez de apoiar Pablo Marçal, que carregou no discurso ideológico contra a esquerda.
O eleitorado conservador via em Joice, Doria e Frota figuras que poderiam ajudar Bolsonaro. Uma vez que mudaram de lado, foram descartados e taxados de traidores.
Com Pablo Marçal, há uma diferença. Entre apoiadores de Bolsonaro, há quem veja no ex-coach potencial de substituir o capitão a médio e longo prazo. A retórica afiada e o discurso antissistema e antiesquerda, adotado originalmente por um e replicado por outro, contribuíram para essa percepção.
No grupo político do ex-presidente, deputados bolsonaristas que caminharam com Nunes contabilizam o estrago que a campanha no primeiro turno causou. Esses parlamentares colecionaram comentários hostis nas redes sociais.
E, embora Pablo Marçal recorra a robôs para turbinar sua atuação na internet, a maioria dessas mensagens é de eleitores reais. Entre os atingidos, está o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, político que mais criticou o ex-coach nos últimos meses.
Ainda não se sabe se Bolsonaro vai recuperar o apoio da maioria daqueles que reprovaram a adesão à candidatura de Nunes. Mas o fato é que o ex-presidente teve, pela primeira vez, sua liderança contestada no campo conservador.
Até mesmo políticos de peso que já trocaram farpas com Bolsonaro, como Ronaldo Caiado e Romeu Zema, não conseguiram desgastar o ex-presidente e dividir o eleitorado da forma como Pablo Marçal conseguiu.