A partida de Gilberto Dimenstein foi precoce. O jornalista e escritor ainda tinha muito por fazer aos 63 anos, quando morreu vítima de um câncer no pâncreas, em 2020.Àquela altura, ainda tinha projetos, inquietações e histórias para contar. A família, mesmo na dor do luto, entendia que era preciso manter o espírito do premiado jornalista vivo e decidiu criar um instituto com seu nome. No próximo domingo (29), data de dois anos de sua morte, nasce o primeiros projetos dessa iniciativa.
Fundado pela esposa de Dimenstein, a jornalista baiana Anna Penido, e pelos filhos dele, Gabriel e Marcos, o Instituto Gilberto Dimenstein foi criado para jogar luz sobre as ideias e ações inovadoras do escritor, jornalista e ativista social. O primeiro projeto é uma plataforma digital hospedada no portal Catraca Livre, uma de suas criações, como forma de inspirar novas gerações de comunicadores, pesquisadores, empreendedores sociais e cidadãos a promoverem iniciativas para melhorar o seu entorno.
“Logo que meu pai faleceu, ainda durante o luto, decidimos que precisávamos fazer com que Gilberto permanecesse aqui em forma de ideias”, afirma Gabriel Dimenstein. Para isso, diz, era necessário arrumar um lugar para reunir tudo que o pai fez. “Semanas depois que ele faleceu a gente falou que tinha que ter um lugar para reunir pensamentos, projetos, intervenções, o mar de coisas que ele criou, um lugar para as pessoas trocarem e beberem dessa fonte”, explica.
A plataforma reúne 79 artigos escritos pelo jornalista, principalmente para o Catraca Livre e para a Folha de S. Paulo, jornal em que trabalhou por 28 anos. Além disso, será possível acessar resumos dos 23 livros que publicou e dos principais projetos sociais em que esteve envolvido, como a Cidade Escola Aprendiz, da qual foi idealizador e fundador, e a Orquestra Sinfônica Heliópolis, para a qual contribuiu como Presidente do Conselho de Desenvolvimento do Instituto Bacarelli.
As ideias de Dimenstein também se fazem presentes em comentários de rádio e vídeos com depoimentos e palestras, bem como em diversas entrevistas em que foi entrevistador, entrevistado ou pauta. O acesso às informações será facilitado através de um quiz, capaz de identificar o interesse do internauta e direcioná-lo para os diferentes temas por meio dos quais o acervo foi catalogado.
“A gente pegou a essência do que ele fazia e arrumou um lugar para juntar tudo isso numa plataforma onde a pessoa consiga, a partir de sua vivência, se conectar com pontos do Gilberto que faça sentido pra ela. Ele atuava em vários setores e o próprio app/site dá esse direcionamento a partir do que você deseja”, explica Gabriel.
A primeira fase da pesquisa compreendeu o mapeamento e curadoria do acervo pessoal de Dimenstein e de materiais produzidos por e sobre ele ou com sua participação, como livros, colunas, reportagens, campanhas, comentários, programas de rádio e TV, publicações sobre projetos sociais e fotos, entre outros.
Em um segundo momento, foram realizadas entrevistas com familiares, amigos e companheiros de jornada, pessoas chave que acompanharam a trajetória e seu impacto no jornalismo, na opinião pública, na política e nas organizações sociais, como o maestro João Carlos Martins, a empresária Luiza Trajano, o jornalista Josias de Souza e o jornalista e ilustrador Alexandre de Maio.
Todas as profissionais que participaram do projeto trabalharam e/ou conviveram com Gilberto e foram inspiradas por suas ações. Estão entre elas: Clara Rocca, produção executiva; Raíssa Albano, coordenação de pesquisa; Susana Camargo, pesquisa documental; Erika Vieira e Keila Baraçal, pesquisa de mídia; Juliana Linhares e a baiana Lana Scott ficaram com as entrevistas.
Premiado e amante do ofício
Formado em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Dimenstein começou sua trajetória na comunicação jogando luz sobre escândalos políticos e casos de corrupção na Folha de S. Paulo, onde trabalhou entre 1985 e 2013. Passou pelos principais veículos de comunicação nacional e ganhou prêmios de destaques como o Esso (Categoria Principal, em 1988, e Informação e Política, em 1999) por suas reportagens.
Posteriormente, começou a escrever e atuar mais profundamente nas causas dos direitos humanos, principalmente nos direitos de infância e juventude. Com a jornalista Âmbar de Barros criou a Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI.
Criado em 2009, o Catraca Livre – que agrupava oportunidade gratuitas em São Paulo – foi eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle em 2012 e apontado pela Universidade de Oxford, BBC e Financial Times como uma das mais importantes inovações digitais de impacto social no mundo, em 2013.
Dimenstein é autor de diversos livros, como A República dos Padrinhos: Chantagem e Corrupção em Brasília (1988); As Armadilhas do Poder – Bastidores da imprensa (1990); A Guerra dos Meninos – Assassinatos de Menores no Brasil (1995); A Democracia em Pedaços (1996); O Aprendiz do Futuro (1997); O Mistério das Bolas de Gude (2006); Fomos Maus Alunos (2009) e Mundo de REP (2002). É também coautor de A Aventura da Reportagem (1990), com Ricardo Kotscho; A História Real – Trama de uma Sucessão (1994), com Josias de Souza; O Brasil na Ponta da Língua (2002), com Pasquale Cipro Neto; Prazer em Conhece” (2008), com Miguel Nicolelis e Drauzio Varella; É Rindo que se Aprende (2011), com Marcelo Tas, entre outros.