Em sua vitoriosa corrida à Presidência nas últimas eleições, o então candidato Jair Bolsonaro pegou carona em uma popular campanha publicitária sobre um estabelecimento onde seria possível resolver todo tipo de problema e apelidou o economista Paulo Guedes de “Posto Ipiranga”.
Célebre no mercado financeiro, Guedes foi importante como fiador da candidatura de Bolsonaro entre os endinheirados da Faria Lima e representou a promessa de um governo liberal na economia. Quatro anos depois, porém, o “superministro” perdeu o brilho mesmo entre os bolsonaristas.
Em uma campanha que tem temas econômicos como centrais, o ministro responsável pela área não aparece nas propagandas eleitorais do candidato à reeleição, não sobe em palanques nem viaja com o chefe para agendas como a Assembleia Geral da ONU, onde o discurso de Bolsonaro tratou dos resultados econômicos do país.
O encolhimento do homem que assumiu sendo considerado um dos nomes mais poderosos do governo é consequência de mudanças no balanço de poder dentro do bolsonarismo.
Ao longo da gestão, a agenda liberal e de defesa das privatizações foi sendo soterrada pela necessidade de investimentos públicos imposta pela pandemia. Além disso, o fortalecimento da aliança de Bolsonaro com os partidos do Centrão tornou a vida de Guedes muito mais difícil.
Para os aliados mais pragmáticos de Bolsonaro, falta a Guedes habilidade política e mesmo capacidade técnica de fazer o governo andar. Principalmente nos últimos dois anos, o ministro da Economia foi apontado por seus detratores como alguém que atrapalhava a execução de medidas com potencial para alavancar a popularidade do presidente e como um “falastrão” que deu munição para os adversários.
Veja cenas das campanhas de Bolsonaro e Lula:
Episódios como quando Guedes chamou servidores públicos de “parasitas” ou quando criticou a época em que empregadas domésticas podiam viajar para a Disney, “uma festa danada”, são lembrados tanto na campanha dos demais candidatos quanto por colegas do ministro na administração federal.
O racha entre Guedes, defensor da responsabilidade fiscal, e os “desenvolvimentistas” ficou evidente em abril de 2021, quando o chefe da pasta econômica atacou, em discurso, “ministros fura-teto”. Guedes nunca disse nomes publicamente, mas todos no governo sabem que se referia a Rogério Marinho, então ministro do Desenvolvimento Regional.
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Lula chama o Meirelles Críticas à gestão econômica no governo Bolsonaro e promessas de retorno de um cenário de mais fartura e melhor renda são a base da campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto o longo de toda a corrida eleitoral.
Em discursos e entrevistas, Lula critica as bandeiras defendidas por Guedes, como o Teto de Gastos e as privatizações. A campanha de Bolsonaro rebate essas críticas com resultados positivos na economia, como a redução do desemprego para um índice de 9,1%, o menor desde 2015. Essa defesa, porém, é feita por narradores profissionais ou pelo próprio Bolsonaro, nunca por Guedes, que reduziu suas aparições em público na última semana.
Nos bastidores, integrantes do governo e da campanha seguem batendo no ex-superministro, a quem acusam de continuar atrapalhando em episódios como o envio, ao Congresso, da proposta de Orçamento para o ano que vem, que não previu a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600. Desde então, quando questionado, Bolsonaro fica sem uma resposta objetiva sobre a fonte de recursos para cumprir sua promessa.
Enquanto isso, foi Lula quem conseguiu melhorar sua interlocução com o mercado financeiro ao atrair o apoio do economista Henrique Meirelles, que já havia emprestado seu prestígio ao petista ao ser ministro da Fazenda em seu governo, mas que virou herói da Faria Lima principalmente na gestão de Michel Temer, ao criar a regra do Teto de Gastos.
“Guedes é resiliente, mas se tornou uma figura menor” O cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, elogia a resistência de Paulo Guedes apesar de todas as dificuldades impostas inclusive por aliados. “Ele foi muito atacado e, mesmo sem apoio incondicional de Bolsonaro, seguiu ministro e manteve o discurso. Mas o discurso perdeu força e hoje Guedes é uma figura menor, com menos influência”, avalia ele, em entrevista ao Metrópoles.
“Uma perda de poder que se reflete nesse sumiço na campanha e que vai inclusive se aprofundar caso Bolsonaro consiga a reeleição, porque ele já disse que pretende desmembrar o que hoje e o Superministério da Economia e recriar o Ministério da Indústria e Comércio”, completa o cientista político.
Para César, Guedes perdeu a queda de braço com o Centrão e teve que aceitar a derrota. “Quando se aliou a PP, PL e demais partidos do Centrão, Bolsonaro foi obrigado a limitar o discurso privatista, porque o interesse desses partidos é em cargos, em presença numa máquina pública que gere influência política. E quando o governo fala em privatizar grandes empresas públicas, o que o Centrão ouve é que vai perder seus preciosos cargos”, explica o especialista.
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