O professor de Sociologia da unidade de Salvador do Instituto Federal da Bahia (IFBA), Luis Antônio Papa, fez declarações alarmantes sobre as condições estruturais oferecidas aos docentes, estudantes e funcionários da instituição de ensino. Em agosto deste ano, o instituto sofreu uma contenção de 18% no orçamento repassado pela União, o que representou um pouco mais de R$ 16 milhões a menos para o IFBA.
“O contingenciamento no orçamento fez com que professores pagassem com seus próprios recursos insumos para aulas de Química, que não foram repostos pela instituição. As poucas salas climatizadas foram interditadas, sob alegação de cortes de verbas. Contudo, a pior situação é a retirada de verbas do programa de Assistência Estudantil, que impacta a alimentação e o transporte de estudantes em estado de vulnerabilidade socioeconômica. Portanto, a falta de recursos impacta negativamente na qualidade de ensino do IFBA”, disse o docente.
Luis, que é doutor em Ciências Sociais pela UFBA, relatou as dificuldades enfrentadas pelos alunos do Instituto com a carência de itens básicos de aprendizagem, e alertou que as perspectivas não são auspiciosas.
“Uma das perdas significativas se deu na recomendação de contenção de material didático. Então, cada vez mais temos que disponibilizar para os alunos materiais de leitura em meio digital, o que torna a leitura e o estudo mais cansativo. Outro aspecto que chama atenção é o estado físico das salas de aula, com cadeiras e mesas quebradas ou se deteriorando. Veja, se os cortes continuarem e tendência é que todas as áreas do conhecimento sejam afetadas mais gravemente de alguma forma”, lamentou.
Segundo o docente, recentemente o IFBA passou por um processo de expansão que não primou pela organização dos investimentos, o que gerou prejuízo para toda a comunidade educacional da instituição.
“Há unidades que até hoje não possuem refeitório. Outros campi no interior do estado vivem um cotidiano de transporte irregular ou precário, o que sacrifica além da comunidade discente, os docentes, técnicos administrativos e terceirizados. Outras queixas recorrentes dizem respeito a falta de conforto acústico das salas de aula, que incide negativamente no trabalho do docente e, consequentemente, no aprendizado; e a conectividade errante, que oscila bastante”, pontuou o doutor.
Ele afirmou que a classe tratou da questão orçamentária no último movimento grevista. “Uma das pautas da recente greve dos professores do ensino federal foi a recomposição do orçamento da educação. Essa demanda continua bem viva, ainda mais com a perspectiva de mais cortes de gastos para as áreas estratégicas. Enquanto isso, a dívida pública continua sem a necessária e legítima auditoria, o que é inconstitucional”.
Para o intelectual, o contingenciamento que ocorre na educação é uma consequência do sequestro dos recursos financeiros pela dívida pública, bem como pelas emendas PIX.
“Precisaríamos ter gestões que lutem pela manutenção da qualidade do ensino, pesquisa e extensão no IFBA, bem como engaje a comunidade escolar e a sociedade baiana em defesa da educação pública, gratuita. Entretanto, o que observamos nos últimos anos é o desinteresse por essas demandas e uma fuga de iniciativas com o álibi dos cortes orçamentários da União”, protestou.