InícioRecuperado de crise financeira e sob novo comando, Muncab reabre em março

Recuperado de crise financeira e sob novo comando, Muncab reabre em março

Em julho de 2020, o CORREIO noticiou que o Museu da Cultura Nacional Afro-Brasileira – Muncab, inaugurado em 2011 no Pelourinho, corria risco de ser fechado, por falta de verba. Passados pouco mais de dois anos, a situação da instituição está longe de ser tranquila, mas, ao menos, ganhou um fôlego. 

É que, finalmente, o governo federal liberou a terceira parcela do contrato que foi assinado para a implantação do museu. Com os R$ 2 milhões recebidos, foram resolvidos os problemas de contas atrasadas – incluindo salários – e de degradação física do espaço. 

Além do fôlego financeiro, o Muncab passou por uma mudança em sua gestão e, desde fevereiro deste ano, Jamile Coelho e Cintia Maria estão no lugar de José Carlos Capinan. Cintia, que é empresária e gestora cultural, passa a ocupar a função de direção institucional do Muncab, enquanto Jamile, que é cineasta e foi conselheira cultural de Camaçari, assume a gestão artística.

Capinan, entre Jamile e Cintia (divulgação)

Segundo Cintia, a previsão é que a visitação ao acervo seja reaberta em março do ano que vem. Mas, até lá, serão realizadas atividades internas, como formação de gestores culturais e artistas. A diretora afirma que Capinan se tornou uma espécie de conselheiro da nova dupla:

“Conversamos com ele, que passou a ser o presidente de honra do Muncab, e entendemos que a gente precisa trazer o museu para a atualidade, absorver novas tecnologias, como realidade virtual e aumentada, com um acervo que dialogue mais com o momento atual. Os museus estão se modernizando e hoje têm uma acervo híbrido, que mistura a museografia tradicional e o futuro”.

Campanha
Uma das conquistas do Muncab nesta nova gestão foi ter sido selecionado para receber gratuitamente a consultoria da RG/A, uma agência de comunicação que vai idealizar e executar uma campanha para que o museu baiano arrecade fundos para sua manutenção. “Foram selecionadas dez instituições no mundo e apenas duas são brasileiras, sendo que uma delas é o Muncab. Eles idealizam uma campanha com a finalidade de obter recursos através de empresas que possam apoiar o museu. Mas será muito importante também a contribuição de pessoas físicas”, ressalta Cintia.

Segundo Jamile, o objetivo da RG/A será ajudar o Muncab a captar R$ 8 milhões, para que o museu possa se manter por dois anos. A gestora artística destaca que recentemente o Muncab foi contemplado em um edital da Setre (Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da  Bahia), no valor de R$ 150 mil. A verba será usada para implantar cursos na área de gestão para artistas e produtores culturais.

Missão
Aos 81 anos, Capinan resolveu se afastar após passar por problemas de saúde durante a pandemia. Mas defende que o Muncab tem a importante missão de dar relevo à cultura afrobrasileira, que, segundo ele sempre foi menosprezada: “Por ser um dos maiores usuários da mão de obra escrava, a Bahia tem uma contribuição negra e africana incalculável, totalmente desconhecida”, afirma. Capinan defende que o Muncab tem a importante missão de dar relevo à cultura afrobrasileira, que, segundo ele sempre foi menosprezada:

“Por ser um dos maiores usuários da mão de obra escrava, a Bahia tem uma contribuição negra e africana incalculável, totalmente desconhecida”. 

A terceira parcela do contrato com o governo federal foi recebida ainda na gestão de Capinan e o recurso foi usado, segundo Cintia, para a instalação do piso no segundo andar, revisão da parte elétrica, reforma da cúpula do prédio, pintura da fachada e outros itens. Nos próximos dois meses, devem ser liberados mais R$ 2 milhões, referentes à última parcela.

Comunidade Local
Cintia diz que pretende aproximar o museu da população local, para que o espaço não seja visitado apenas por turistas. Para isso, pretende promover atividades também fora da sede: “Pensamos em um museu expandido. Vamos a comunidades para realizar atividades formativas ou promover, por exemplo, exposições no metrô”. 

O Muncab também pretende retomar parcerias com escolas que ficam em seu entorno, como a João Lino, que, antes da pandemia, levava à sede do museu crianças de três a cinco anos para participar de contação de histórias afrobrasileiras.

Cintia diz que em breve o Muncab também deve promover residências artísticas e já negocia com dois grupos artísticos que em breve devem se tornar parceiros do museu: um é de dança e o outro, de teatro. “As pessoas podem se surpreender ao ver grupos de dança e teatro em um museu, mas a gestão tem sido pensada para promover essa diversidade e fazer dele um espaço vivo”, garante a diretora.

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