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Restos mortais de Waldick Soriano são enterrados em Caetité: ‘Emocionante’

No sereno da madrugada da última sexta-feira, onde boêmios possuem a lua e a bebida como heranças, os restos mortais do cantor apaixonado Waldick Soriano chegavam na cidade baiana de Caetité, a 645 km de Salvador. A última serenata do cantor baiano terminou diferente de suas músicas sofridas e de corações partidos: com final feliz. Os restos mortais do cantor, sem o devido cuidado no túmulo número 53817, no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro, agora descansam na boêmia eterna do cemitério de sua cidade natal. Agora com lápides de granito, flores regadas e justas homenagens, Waldick recebeu carinho dos fãs e de familiares que moram em Caetité. Seu mais novo túmulo promete ser um local de frequente visita de diversos fãs da região. 

“Preferimos algo mais familiar e decidimos não avisar sobre a chegada dos restos mortais de Waldick, do meu pai e avô. Mesmo assim, vazou sua chegada e teve muita gente da região e até de outras cidades acompanhando o enterro. Foi muito gratificante e emocionante. Teve um fã de Brumado que soube ontem de noite e acordou cedo para chegar a tempo para a  missa e o sepultamento”, disse o advogado João Soriano, sobrinho de Waldick. Seu pai e xará também estava enterrado no mesmo túmulo do Rio de Janeiro, assim como o pai de Waldick, Manoel Sebastião Soriano. Os três foram enterrados juntos novamente. 

“É uma forma de reconhecer o artista da terra. Tivemos o apoio de muita gente quando decidimos trazer os restos mortais de nossos familiares para Caetité. A família, amigos e fãs agora poderão prestar suas homenagens ao cantor da terra, que agora descansa com o devido merecimento”, completa João. Segundo o advogado, filhos do cantor foram consultados, mas ninguém se mostrou interessado em fazer algo pelos restos mortais de Waldick. Foi aí que começou a missão de trazê-lo para a cidade baiana. 

Outra parente do artista teve um papel decisivo na transferência. Sobrinha de Waldick, Waldelita Soriano, carinhosamente conhecida como Dona Litinha, morava no Rio de Janeiro e convivia diariamente com o rei do brega, até sua morte, em 2008, em decorrência de um câncer de próstata, aos 75 anos. 

“Ele vivia lá em casa, convivemos e crescemos juntos. Ele era 11 anos mais velho que eu. Eu também morava no Rio de Janeiro e comprei uma lápide para meu avô. Waldick morreu e foi enterrado lá também. Enquanto estava lá, cuidava do túmulo, que nunca esteve mal cuidado, era apenas rústico. Quando retornei a Caetité, não pude mais cuidar e ficou lá. A família dele nunca cuidou. A mulher [viúva] dele não cuidou. Quem recebe todos os direitos autorais é ela, mas nunca cuidou do túmulo dele e nunca visitava o túmulo. Então foi isso. Os familiares dele daqui o trouxeram de volta para Caetité. Missão cumprida”, disse Waldelita, que providenciou toda burocracia para a transferência. Waldick deixou cerca de 800 músicas compostas e 80 discos gravados.

Como é proprietária do túmulo no Rio, além de providenciar as papeladas, Litinha foi até o Rio acompanhar a exumação do boêmio e conseguir o translado da capital fluminense até Caetité. Apesar da oferta de ajuda financeira da prefeitura de Caetité, de amigos e políticos da região, Litinha não aceitou e preferiu arcar com todos os gastos. Mesmo assim, alguns moradores de Caetité não pretendem parar por aí.

“Era um desejo antigo de todos aqui na cidade. Vamos agora providenciar um busto de Waldick Soriano na praça, com direito a chapéu e óculos tradicionais. Caetité precisa valorizar seus filhos ilustres que levavam nosso nome pelo país. Eu mesmo já tomei uma pinga com Waldick e guardo isso com muito orgulho. Não aguentei acompanhá-lo, era novo na época e nosso cantor já tinha bastante experiente na boemia, né?”, lembra o prefeito de Caetité, Valtécio Aguiar. “Agora demos um lugar digno para este grande ícone da história da música brasileira”, completa.

O dia de homenagens neste segundo velório e sepultamento foi mais comedido. Primeiro, uma missa apenas para familiares, políticos e alguns fãs que souberam da chegada dos restos mortais. O monsenhor Adhemar Cardoso, de 93 anos, celebrou a missa.  A celebração terminou com o sepultamento e uma salva de palmas. Agora, a homenagem fica a cargo de cada boêmio caetiteense, em cada brinde no bar ou no lamento do amor perdido. “Embriagado, passo as noites pelas ruas! Só tenho a lua e a bebida como herança / E hoje dela só me resta uma lembrança / A torturar a minha alma de boêmio”. Sextô, Waldick!

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