Um dos grandes estudiosos da música brasileira, o carioca Rodrigo Faour, de 50 anos, levou muito tempo se dedicando àquele que ele considera seu projeto mais ambicioso, que é o livro História da Música Popular Brasileira sem Preconceitos. Autor de biografias de artistas como Angela Maria, Dolores Duran e Cauby Peixoto, Faour achou que era hora de realizar um amplo registro da história da nossa música.
E hoje se orgulha do resultado, tendo recebido elogios espontâneos de Roberto Menescal, um dos fundadores da Bossa Nova e dos mais requisitados produtores e arranjadores brasileiros. “Recebi uma mensagem dele dizendo que o livro é o maior documento já escrito sobre a história da nossa música. Disse que estava chocado com tudo que aprendeu e que tinha que aprender sobre a música brasileira”, conta Faour, com o devido orgulho.
O jornalista e escritor está em Salvador para lançar nesta terça-feira, às 19h, , na Varanda do Sei, os dois volumes do livro, que, juntos, somam mais de 1200 páginas. Faour justifica o tamanho do livro: “Não tinha no Brasil um livro que incluísse todas as tribos musicais mais importantes, sejam elas experimentais, conceituais, ou mais comerciais… bregas, chiques, música de raízes mais estrangeiras…”.
Armandinho participa de show no lançamento do livro (foto: Lara Lins/divulgação) |
Há algum tempo, Faour já percebia a escassez de registros sobre a música que ele chama de “popularzona” e isso foi uma das razões que o levou a embarcar nesse projeto. “Essas músicas eram odiadas pelos críticos. Então, resolvi fazer um livro acima do meu gosto pessoal e contemplar todas as tribos possíveis. Fiz dois volumes porque não caberia num só. Quis fazer uma coisa para que o jovem pudesse entender por que estamos nessa fase atualmente”, diz Faour.
Brega
Entende-se daí por que a expressão “sem preconceitos” está no título do livro. Isso quer dizer que Faour dedica também parte dos livros à música brega, termo que ele usa sem nenhum constrangimento nem receio de soar preconceituoso. “A palavra ‘brega’ foi ressignificada. Era uma coisa de mau gosto, mas depois as pessoas começaram a assumir que gostavam dessa música. Então, hoje é até um gênero que se chama brega. E o brega é uma estética, como a bossa nova é uma estética. Eu uso o termo ‘brega’ no livro, porque não o vejo de forma pejorativa”, explica o autor.
O primeiro volume aborda a música produzida no Brasil desde o início da história do país e vai até meados dos anos 1970. Nesta publicação, estão gêneros como choro, samba, marchinha, a música caipira e artistas que tiveram destaque no rádio, como Francisco Alves (1898-1952).
A Era do Rádio tem um importante destaque e Faour diz que tem um olhar espacial sobre as mulheres daquele período: “Talvez por eu ser LGBT, sempre tive olhar muito carinhoso pelas cantoras. Mas, por um certo machismo, a crítica sempre valorizou o “cantautor” [cantor e compositor], que, até os anos 1970, eram mais homens”. O destaque que Faour sempre deu às mulheres em sua carreira é, portanto, uma resposta ao machismo que por muito tempo reinou na indústria musical e também na crítica.
Axé
Novamente atento à presença da mulher em nossa música, o escritor ressalta o papel que elas tiveram na axé music. Ele observa que movimentos anteriores, como o sertanejo, eram machistas e somente Roberta Miranda se destacou. Depois, na onda do pagode romântico, não havia mulheres que protagonizassem aquela cena. “Mas o axé foi catapultado por uma mulher, que é Daniela Mercury. Depois, vem várias outras, como as vocalistas das bandas, Ivete, Margareth… Achei que devia destacar isso”.
A festa de lançamento em Salvador, nesta terça-feira, terá a presença de uma dessas mulheres, que foi protagonista da explosão do axé music: Sarajane. A cantora vai participar de um bate-papo após a sessão de autógrafos do autor. Além de Sarajane, participam da conversa Armandinho, Alexandre Leão, Juliana Ribeiro, Márcia Castro e outros que vão fazer uma breve apresentação. O evento fará também uma homenagem a Gal Costa, que morreu em novembro do ano passado, aos 77 anos.
SERVIÇO
Lançamento do livro História da Música Popular Brasileira sem Preconceitos
O quê: Sessão de autógrafos do autor, seguida de bate-papo e apresentação de artistas como Sarajane, Márcia Castro e Armandinho
Local: Varanda do Sesi (Rua Borges dos Reis, 9, Rio Vermelho)
Horário: 19h
Entrada gratuita
Festival de Verão: Faour indica encontros entre Ney e Criolo e entre BaianaSystem e Olodum
A pedido do CORREIO, Rodrigo Faour deu uma olhada nos shows que vão acontecer neste final de semana no Festival de Verão e apontou duas apresentações que ele considera imperdíveis. Na primeira noite, sábado, ele destaca Criolo convida Ney Matogrosso: “Eu acho que que o rap é muito machista e uma figura do hip hop abraçar o Ney, que sempre teve essa coisa plural da sexualidade, é interessante. É um grande avanço essa junção”.
No domingo, Faour recomenda atenção especial ao encontro entre Olodum e BaianaSystem: “Vai ser interessantíssimo porque são duas gerações muito fortes de negritude da música baiana, com linguagens completamente diferentes que vão se juntar”.
O Festival de Verão deste ano acontece com uma proposta diferente do que ocorreu em edições anteriores: quase todos os shows promovem encontros entre, pelo menos, duas atrações. Em alguns casos, há até três no mesmo palco, como é o caso de Carlinhos Brown, que vai receber Duda Beat e Attooxxa, no sábado. “Duda Beat também faz parte dessa nova geração brasileira pulsante e importante em várias vertentes. Eles [Duda e Attooxxa são uma garantia de que a música brasileira está viva”, disse Brown ao CORREIO.
Depois de ser realizado na Fonte Nova por cinco edições, o Festival de Verão retorna ao seu ponto original, o Parque de Exposições. Nas duas noites em que será realizado, o FV vai ter 16 shows, com artistas dos mais variados gêneros e gerações. Um encontro que resume bem isso é entre Luisa Sonza e Alcione, na segunda noite. Os ingressos estão à venda no site Sympla e assinantes Clube CORREIO têm desconto de até 55%.