São Paulo – Um dos episódios mais emblemáticos da biografia de Abilio Diniz, morto neste domingo (18/2) aos 87 anos, foi o sequestro que ele sofreu em 1989, em São Paulo, por um grupo de guerrilha chileno que protestava contra a ditadura de Augusto Pinochet.
Em 11 de dezembro de 1989, Abilio dirigia no Jardim Europa, bairro da zona oeste, a caminho de seu escritório quando precisou frear ao avistar uma ambulância atravessada na rua.
Abílio Diniz
O empresário Abilio Diniz Reprodução/ Youtube
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Abilio Diniz foi presidente do Grupo Pão de Açúcar, fundado a partir do supermercado de seu pai, aberto em 1948 em São Paulo Reprodução/Facebook
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Abilio Diniz (criança) era o filho mais velho do imigrante português Valentim Diniz e da brasileira Floripes Pires Reprodução/Facebook
Abilio Diniz
A fortuna de Abilio Diniz é estimada em R$ 12 bilhões @abilio_diniz/Reprodução/Instagram
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Em 1989, Abilio Diniz foi sequestrado em São Paulo. Na foto ele havia acabado de deixar o cativeiro e aparece junto do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns (atrás) e Luís Carlos Bresser Pereira (de boné) Divulgação/Site Abilio Diniz
Abílio Diniz e João Paulo
Abílio com o filho João Paulo, morto em 2022 Reprodução/Redes sociais
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Torcedor do São Paulo, Abilio posa ao lado do jogador Lucas Moura Reprodução/Facebook
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Abilio Diniz conversa com o governador Tarcísio de Freitas Reprodução/Facebook
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Entusiasta dos esportes, Abilio Diniz praticava diversas modalidades, entre elas o boxe Reprodução/Facebook
O veículo havia sido usado pelos criminosos para rendê-lo e levá-lo a um cativeiro em uma casa no bairro Jabaquara, na zona sul. Lá, Abilio Diniz passou seis dias dentro de um caixote com um buraco em cima que dava para um cano de ar.
“Tinha certeza que iria morrer, já sentia de cara. Para poder respirar melhor eu tinha que me levantar, não dava para ficar em pé, encostar o nariz lá no cano e puxar o ar”, disse o empresário em entrevista ao podcast Flow em setembro de 2021.
Na época, sequestros de autoridades e pessoas com influência eram frequentes. Os sequestradores de Abilio pediam 30 milhões de dólares em resgate, valor que não foi pago.
A polícia descobriu o local onde ele era mantido e Abilio só foi liberado após um cerco de 36 horas (foto em destaque), no qual chegou a ser usado como escudo humano por seus captores.
Participaram do crime dez pessoas: um brasileiro, cinco chilenos, dois argentinos e dois canadenses. Todos eram membros do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR).
Anos depois, o MIR admitiu que o sequestro foi um erro e que, inclusive, pode ter prejudicado a esquerda nas eleições presidenciais de 1989 – o sequestro foi feito às vésperas do segundo turno entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva.
Abilio Diniz morreu em São Paulo neste domingo (18/2), no hospital Albert Einstein, após passar duas semanas tratando uma pneumonia.
“O empresário deixa cinco filhos, esposa, netos e bisnetos, e irá ao encontro do seu filho João Paulo, falecido em 2022. Desde já, a família agradece a todas as mensagens de apoio e carinho”, diz nota enviada pela família do empresário.
História no varejo Filho mais velho de Valentim Diniz, imigrante português, com a brasileira Floripes Pires, Abilio nasceu em 28 de dezembro de 1936 em São Paulo e fez carreira no setor de varejo, trabalhando com o pai em um mercado fundado por ambos, que depois se tornaria a rede de supermercados Pão de Açúcar.
Em seu site, Abilio cita três episódios que o marcaram negativamente entre as décadas de 1980 e 1990: a briga com os irmãos pelo controle acionário do GPA, o seu sequestro e a quase falência do grupo.
Valentim Diniz havia deixado a maior parte das ações do GPA para Abilio, em uma divisão que, segundo o empresário, considerava o envolvimento de cada um dos seis filhos com os negócios. Os irmãos e a mãe questionaram a partilha em um processo que se arrastou por anos na Justiça e só chegou ao fim em 1994, quando houve um acordo para que Abilio mantivesse o controle da companhia.
Durante o período de disputa, no entanto, a empresa quase foi à falência e adotou um sistema de cortes para se manter em pé. Somente em 1995, já estabilizada, fez sua estreia na Bolsa de Valores de Nova York após um acordo com a rede francesa Casino, a quem cedeu o controle do grupo em 2013.