O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), conseguiu fechar com saldo positivo sua primeira atuação como cabo eleitoral desde que assumiu o comando do Estado. Apesar de ter amargado uma derrota em Guarulhos, ele foi peça fundamental na passagem do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para o segundo turno da disputa na capital, o que garante ao ex-ministro do governo Jair Bolsonaro uma posição de independência de seu padrinho político.
Além disso, Tarcísio viu seu partido quadruplicar de tamanho no interior, elemento-chave para suas pretensões políticas futuras.
Nunes avançou para a próxima etapa do pleito paulistano, apesar da diferença de apenas 81 mil votos para Pablo Marçal (PRTB), expondo a divisão do eleitorado de centro e direita na capital. Por outro lado, ponderam analistas, o resultado conferiu a Tarcísio um status de liderança independente do bolsonarismo.
A campanha em São Paulo foi a principal aposta do governador em sua estreia como cabo eleitoral em pleitos municipais. O prefeito fez questão de reconhecer o papel do aliado em seu primeiro discurso após o anúncio do resultado, sinalizando que Tarcísio deve seguir engajado na disputa.
Estratégias
Durante o primeiro turno, o governador teve protagonismo na estratégia de Nunes: ajudou a costurar a coligação, anunciou o vice da chapa, esteve ao lado do prefeito em uma série de agendas e, na reta final, coordenou pessoalmente uma mobilização de última hora, acionando deputados e vereadores em busca de apoio frente ao avanço dos adversários.
Na avaliação de Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor de administração pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), “Tarcísio foi o maior vencedor dessas eleições, em uma disputa na qual se pensava que os principais cabos eleitorais seriam Lula e Bolsonaro. Ele abraçou a candidatura de Nunes com um vigor que talvez nunca tivesse demonstrado antes, contrariando, inclusive, a perspectiva de seu padrinho, Bolsonaro. Qual o saldo? Ele não só conta agora com um aliado, caso Nunes seja reeleito prefeito, para os seus projetos políticos em 2026, como se livra da dependência exclusiva de Bolsonaro, na medida em que, com autonomia, tomou a decisão de apoiar Nunes à revelia de alguém que supunha controlar seus passos”, disse o professor. “Daqui para frente, Tarcísio decide se vai ou não ao PL sem essa sombra de Bolsonaro, e provavelmente não irá, porque essa ida poderia significar o controle do próprio Bolsonaro sobre seus projetos políticos”, pontuou.
Derrota, vitória
Se a vitória na capital foi apertada, em Guarulhos, o segundo maior colégio eleitoral do Estado, Tarcísio amargou uma importante derrota. Seu candidato, Jorge Wilson (Republicanos), o “Xerife do Consumidor”, terminou em terceiro lugar, com 20,12% dos votos. Ex-líder do governo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), ele era uma das principais apostas do governador na disputa municipal e levou o governador a negociar até o apoio do ex-presidente Bolsonaro.
No balanço geral, no entanto, Tarcísio tem mais que a vitória de Nunes para celebrar: o Republicanos, seu partido, quase quadruplicou a presença no Estado, passando de 22 para 80 prefeituras, conquistando cidades estratégicas como Sorocaba, onde Rodrigo Manga se manteve no poder, e Campinas, com a reeleição de Dário Saadi – que agora aguarda o julgamento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) sobre uma ação de cassação.
Em Santos, o governador está em uma posição favorável, pois dois de seus aliados avançaram para o segundo turno: o atual prefeito, Rogério Santos (Republicanos), e a deputada federal Rosana Valle (PL). Embora Rogério seja do Republicanos, Tarcísio decidiu se manter neutro na disputa, já que Rosana era a candidata apoiada por Jair Bolsonaro. Assim, a vitória de qualquer um dos dois será vantajosa para o governador.
Em São José dos Campos, principal município do Vale do Paraíba e onde Tarcísio também optou por não se envolver na campanha, o segundo turno será entre dois de seus aliados: o atual prefeito Anderson Farias (PSD), que conta com o apoio do vice-governador paulista Felício Ramuth (PSD), e o ex-prefeito Eduardo Cury (PL), apoiado por Jair Bolsonaro.
‘Equilíbrio’
Tarcísio, contudo, não foi o principal vencedor da eleição no Estado. O destaque foi seu secretário de Governo, Gilberto Kassab, presidente do PSD ( mais informações nesta na página), que elegeu 201 prefeitos de sua legenda no primeiro turno do pleito em São Paulo.
Para o professor da FGV, a vitória de Kassab equilibra as forças e impede que o bolsonarismo se torne hegemônico em SP. “O bolsonarismo não pode hegemonizar o governo com alguém que possui a força política de Kassab servindo como contraponto.”
Leia Também: Estudo do Senado sobre bets já apontava riscos sociais e efeitos negativos sobre consumo