Dificilmente Bolsonaro conseguiria nesta reta final de campanha dar um passo mais desastroso do que voar a Londres para fazer um comício enquanto os ingleses enterravam sua rainha.
Por isso, pareceu uma coisa normal, ou quase normal, ele em seguida voar para fazer campanha em Nova Iorque, aproveitando a abertura de mais uma Assembleia-Geral da ONU.
Sempre haverá Londres quando no futuro se quiser relembrar o que foram os quatro anos do pior presidente da história do Brasil. Ali, ele pôs pilha em seus devotos e sorriu para um rei enlutado.
Havia o temor de que na próxima escala, Bolsonaro elevasse o tom do seu discurso a ponto de chocar a plateia de diplomatas e de chefes de Estado, mas tal coisa não aconteceu. Menos mal.
Para alívio do Itamaraty, salvo um escorregão aqui e outro acolá, a fala seguiu o padrão da política externa brasileira. Verdade que Bolsonaro cedeu à tentação de dizer que Lula é um ex-condenado.
Exaltou o próprio governo, como de resto o fazem todos os que ocupam aquela tribuna; exagerou nas afirmações em proveito próprio, mas mentiu menos do que estamos acostumados.
Disse que o nosso agronegócio alimenta hoje mais de um bilhão de pessoas no mundo, sem fazer menção aos 33 milhões de brasileiros famintos que disputam ossos em portas de açougues.
Cancelou uma audiência que marcara com o Secretário-Geral da ONU, algo que não deveria ter feito. Abandonou a Assembleia e foi almoçar em uma churrascaria com devotos que o aclamaram.
Os gritos de Mito que então ouviu compensaram a projeção noturna de sua imagem no prédio da ONU, acompanhada das expressões “Vergonha brasileira”, “Mentiroso” e “Desgraça”.
Bolsonaro valeu-se da ocasião para referir-se aos nordestinos como “cabras da peste”, e a si mesmo como “imbrochável”. Não se sabe se Michelle, a primeira-dama, estava ao seu lado.
À saída do Brasil, pesquisas mostravam que estava atrás de Lula, embora fosse certa a realização de um segundo turno. Na volta, pesquisas mostram que Lula poderá liquidar a fatura no primeiro.
Faltam 11 dias para as eleições. Nos três maiores colégios eleitorais do país, Lula derrota Bolsonaro em dois (São Paulo e Minas Gerais) e empata tecnicamente em um (Rio de Janeiro).
No quarto maior colégio eleitoral (Bahia), Lula nada de braçada e Bolsonaro pede socorro. No Rio Grande do Sul, onde em 2018 ele derrotou Fernando Haddad (PT) com folga, Lula lidera.
No tabuleiro onde movem suas peças, Lula joga com as brancas, Bolsonaro com as pretas. Lula está armando um xeque-mate, Bolsonaro tenta escapar e prorrogar a partida.
Nunca antes neste país um presidente candidato à reeleição perdeu. Mas nunca antes enfrentou um ex-presidente. O principal adversário de Bolsonaro é ele mesmo.
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