A despolitização das Forças Armadas, pregada pelo futuro ministro da Defesa José Múcio Monteiro, será testada já no dia seguinte à posse de Lula: acampados em áreas militares, os bolsonaristas que defendem o golpe poderão permanecer onde estão? E até quando?
Atos hostis à democracia são investigados pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro Alexandre de Moraes mandou prender um empresário do Mato Grosso que incitava colecionadores de armas a engrossar os protestos à porta do QG do Exército, em Brasília.
Bolsonaro voltou a dizer que os protestos são legítimos:
“Estamos nos manifestando de acordo com as nossas leis. Vocês são cidadãos de verdade. Está na hora de parar de ser tratado como outra coisa. Acredito em vocês. […] Tudo dará certo, no momento oportuno.”
É falso. Uma coisa é manifestar-se contra atos governamentais. Outra, clamar pela anulação de eleições que a Justiça considerou regulares e avalizou seus resultados. Em um Estado de Direito Democrático, a anulação só seria possível por meio de um golpe.
O que Bolsonaro disse a um grupo de devotos na última sexta-feira que nos jardins do Palácio da Alvorada gritavam “Eu autorizo” foi endossado de certa maneira há duas semanas em nota assinada pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.
A jornalista Julia Dualibi, da GloboNews, considerou a nota “bastante dúbia” e perguntou a Múcio: “O senhor não achou?” Resposta dele:
“Achei, mas também acho o seguinte: chegamos a 15 dias das eleições [ele quis dizer: da posse]. Estávamos conversando aqui antes do programa e eu disse que esses serão os dias mais difíceis que vamos atravessar”.
A jornalista Eliane Cantanhede insistiu com o tema: “Quando o senhor diz que os próximos 15 dias serão os mais difíceis, quais são os riscos?” Resposta de Múcio depois de uma longa introdução:
“Se nós tivermos um golpe neste país não sabemos quanto tempo vamos passar nisso. Será que vamos ter a sorte de uma redemocratização com 33 milhões de famintos, 12 milhões de desempregados? A elite não resolveu o problema da pobreza”.
A jornalista Natuza Nery interveio: “Bolsonaro está se despedindo, desesperado ou não, está se despedindo”. Ao que Múcio retrucou:
“Será que está se despedindo? O tempo está se exaurindo, o tempo está acabando. […] Essa manifestação foi estranha. Na hora em que o presidente diz que cada um se manifeste, que vá para rua, não posso dizer que estamos em céu de brigadeiro”.
Antes, Múcio dissera para o jornalista Gerson Camarotti:
“Esses militares dos quartéis não querem golpe. Foram instados, estimulados, mas nunca houve manifestação das Forças Armadas. São figuras isoladas que tentam politizar as Forças Armadas”.
A situação exige que Múcio morda e assopre. Sua escolha para ministro da Defesa foi um claro sinal dado por Lula de que não quer confusão com a farda. Infelizmente, a questão da tutela do poder civil pelo poder militar ainda não será enfrentada desta vez.
The post O que será dos golpistas à porta dos quartéis depois da posse de Lula first appeared on Metrópoles.