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Praça Cayru recebe de volta Monumento da Cidade de Salvador criado por Mário Cravo Jr.

O Monumento da Cidade de Salvador ou Fonte da Rampa do Mercado, como é conhecido, foi devolvido à Praça Cayru, no Comércio, ontem, durante um ato realizado pelo prefeito Bruno Reis. A obra do artista Mário Cravo Júnior sofreu um incêndio em 2019, e retorna ao lugar de origem quatro anos depois. 

Idêntica ao monumento original em tamanho e aparência, se diferencia 
apenas pela adição de uma proteção anti chamas à fibra de vidro que o compõe. Ao todo, foram investidos R$ 4 milhões na nova construção, que conta com fonte luminosa na cor azul ao seu redor. 

Para dar ritmo a celebração pelo retorno de um dos mais importantes cartões postais da capital baiana, o grupo percussivo Swing do Pelô marcou presença, com direito a fogos de artifícios. Ao lado de outras autoridades, o prefeito destacou a importância da nova construção. 

“É um dos principais símbolos da nossa cultura e da nossa arte. Sem sombra de dúvidas representa um marco para a história da Bahia. Então é muita felicidade entregar este monumento um dia antes da volta da festa do Senhor do Bonfim”, destacou o Bruno Reis. 

Um impasse entre a prefeitura e alguns membros da família de Mário Cravo, no entanto, quase impediu a reinauguração do espaço. Simbolizando a resolução do problema e como um representante da figura do artista, o filho dele, Otávio Cravo, também esteve presente na inauguração. 

“Pude ajudar na obra junto com todo o time da Desal [Companhia de Desenvolvimento Urbano] e quero agradecer a Fernando Guerreiro, por todo apoio e ao nosso prefeito, Bruno Reis, que levou a cabo muito importante para a cidade”, agradeceu. Além dele, três bisnetas do artistas prestigiaram o evento.

A obra  foi reconstruída pela Desal, com o apoio da Fundação Gregório de Matos (FGM). Para o diretor da FGM, Fernando Guerreiro, esse é o retorno de um monumento quase natural entre a paisagem da cidade. “Foi abraçado pela população e pelos turistas. Já virou um marco para Salvador, mais que um monumento, é quase um monumento natural”, definiu Guerreiro. 

Construída em 1970, o incêndio que causou a destruição do monumento ocorreu em 21 de dezembro de 2019. O que representa um hiato de quatro anos em sua história, que completa 53 anos em 2023. Na ocasião trágica, o fogo se alastrou rapidamente, consumindo toda a fibra de vidro que formava a peça, restando apenas as estruturas de metal que a sustentavam.

Além do fogo alto, muita fumaça se alastrou pela Praça Cayru, no Comércio, onde ficava localizada a obra original. O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-Ba) esteve no local, mas, segundo testemunhas, o fogo apagou antes mesmo da ação, depois de destruir a fibra.

A causa do incêndio estava sendo investigada pela Polícia Civil (PC-Ba). Questionado pela reportagem, o órgão informou que a causa do incêndio seria definida pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), mas não houve retorno até o fechamento desta matéria. Na época, o diretor da Fundação Gregório de Matos (FGM), Fernando Guerreiro, chegou a sugerir uma fogueira acesa por usuários de drogas, destacando que a situação era corriqueira. 

A escultura era uma das mais conhecidas de Mário Cravo Júnior e um dos principais cartões-postais da capital baiana. À época, o então prefeito de Salvador, ACM Neto, prometeu reconstruir a obra, mas um impasse entre a prefeitura e alguns membros da família do artista responsável pelo monumento atrasou a nova construção em pelo menos 7 meses. 

À princípio, a família havia se comprometido a disponibilizar o projeto para a reconstrução sem cobrar pelos direitos autorais. No entanto, dois membros não foram favoráveis ao acordo. Um deles, Ivan Cravo, entrou com uma notificação extra-judicial em janeiro de 2020, pedindo R$ 1 milhão pelos direitos autorais da obra do pai.

“Eu estava à frente das tratativas com a prefeitura e com a Fundação Gregório de Matos (FGM) para refazer a obra. Os herdeiros de Mário Cravo tinham dado carta branca para a reconstrução e o retorno da obra o quanto antes às características feitas pelo autor, mas meu irmão Ivan e meu sobrinho Christian não assinaram o documento permitindo a obra”, contou, na época, Otávio Cravo, outro filho do artista. 

Diante do impasse, o ex-prefeito chegou a cogitar a substituição do monumento por outra obra. “Só não começamos a reconstruir porque houve um desalinhamento de posições entre a prefeitura e a família de Mário Cravo. Meu desejo é que o monumento seja reconstruído exatamente como era […] Mas não vou aceitar pedidos absurdos”, afirmou Neto

A medida não foi necessária graças a um parecer da Procuradoria Geral do Município (PGM), favorável à prefeitura. A decisão concedeu aval para a construção sem a necessidade do pagamento por direito autoral, por considerar o solicitação ilegal, em outubro de 2020. No final do mesmo ano o processo de licitação foi aberto. A vencedora foi a empresa RC Restauração e Construções. 

Memória 
Além da devolução da obra de Mário Cravo à Praça Cayru, a prefeitura realizou a entrega do Monumento em Memória às Vítimas da Covid-19 e em Homenagem aos Profissionais da Saúde, na Praça Cayru, em frente ao Terminal Marítimo de Salvador. 

A escultura em tom marrom e elementos dourados foi a última obra esculpida pelo artista Tatti Moreno, falecido em julho do ano passado, aos 77 anos. Além da homenagem às vítimas da Covid e aos profissionais da saúde, a inauguração também marca a celebração da genialidade do escultor. 

“Era um desejo da prefeitura realizar um monumento que pudesse ficar registrado na nossa história, para servir de inspiração e, acima de tudo, para dar força e coragem para que a cidade seguir avançando, enfrentando suas adversidades e fatalmente outros momentos difíceis que podem ocorrer em sua história”, disse o prefeito Bruno Reis. 

Foi no início de um dos momentos mais difíceis, como a pandemia, que o condutor socorrista, Vanderson Cardoso, entrou para a equipe do Samu, no final de 2019. Ao ver a escultura inaugurada, seu sentimento é de gratidão por ter contribuído para amenizar as adversidades provocadas pela crise sanitária. 

“Quem está aqui hoje sobreviveu a uma guerra, então essa homenagem nos deixa felicíssimos”, afirmou o socorrista. Em ressonância, o secretário municipal de Saúde, Décio Martins, concordou. “Não podemos deixar de homenagear as 8 mil vítimas que faleceram na nossa capital, então é de uma sensibilidade ímpar a construção desse monumento”, destacou. 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela 

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