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O teste de fogo de Jerônimo, a popularidade de Neto e Bruno no Bonfim e o caos da segurança na Bahia

Teste de fogo
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) enfrenta seu primeiro teste de fogo na articulação política nestes primeiros dias de gestão. Se as definições para o secretariado deixaram alguns aliados insatisfeitos, as negociações para o segundo escalão estão provocando a ira de muitos integrantes da base, entre líderes partidários e parlamentares. Entre os chateados estão PV e PSB que, segundo analisam integrantes das duas legendas, foram pouco contemplados no primeiro escalão e esperam mais espaços no segundo. Socialistas se queixam que o Avante, por exemplo, ficou com uma secretaria muito mais robusta (Agricultura) do que a destinada ao PSB (Desenvolvimento Econômico). Parlamentares dizem que a equação é difícil de ser resolvida, pois muitos espaços foram prometidos e dificilmente poderão ser cumpridos. Em outras palavras: muita gente para pouco cargo. 

Um a um
Lideranças ouvidas pela coluna pontuaram que Jerônimo preferiu adotar uma postura muito perigosa de negociação política para os espaços no governo. O governador petista tem conversado individualmente com deputados, o que, na avaliação de lideranças, enfraquece o poder dos partidos. Jerônimo, por enquanto, tem procurado assumir ele mesmo as conversas. 

A volta dos que não foram
Envolvida no escândalo do financiamento de festas de São João na Bahia pela Petrobras, Cesira Maccarinelli Ferreira foi nomeada pelo governador Jerônimo Rodrigues para um cargo de assessora especial em seu próprio gabinete. Ela foi uma das organizadoras dos festejos pela Associação de Apoio e Assessoria a Organizações Sociais do Nordeste (Aanor), cuja contratação ocorria sem licitação e beneficiava aliados. Na época, em 2009, o caso envolvia montantes em torno de R$ 3 milhões e ganhou repercussão nacional. Cesira já havia atuado nos governos de Jaques Wagner e Rui Costa e trabalhou também com Jerônimo quando ele foi secretário da Educação. 

Ano novo, velhos problemas
Enquanto a propaganda do governo destaca a construção de novas escolas (ocorrida apenas na véspera das eleições), a realidade da educação da Bahia continua deplorável. Em Juazeiro, quinta maior cidade do estado, por exemplo, o Ministério Público estadual (MP-BA) instaurou um inquérito para apurar a falta de professores na rede de ensino controlada pelo governo. Pelos relatos à 11ª Promotoria do município, faltam docentes das disciplinas de Matemática, Biologia, Física, História, Geografia, Química e Educação Física no ensino médio. A dúvida agora é: Jerônimo não resolveu como secretário, vai resolver como governador? O povo quer saber. 

Crise das águas
O MP-BA intensificou o cerco contra a Embasa, cujos serviços são muito criticados – tanto na capital quanto no interior. A 5ª Promotoria de Candeias decidiu prorrogar um inquérito para investigar a suspeita de poluição ao meio ambiente devido ao lançamento de resíduos de sulfato de alumínio oriundos de tanques da Estação de Tratamento de Água (ETA) da cidade. A substância, embora tenha índices de toxidade baixos, provoca danos à saúde das pessoas. 

Popularidade alta
Se a Lavagem do Bonfim é considerada um termômetro político, então o prefeito de Salvador, Bruno Reis, e o ex-prefeito ACM Neto, ambos do União Brasil, registraram índices elevados de popularidade durante a festa. Eles foram acompanhados por uma multidão, entre aliados políticos, apoiadores e pessoas que seguiram o cortejo até a Basílica do Senhor do Bonfim. Foi tanta gente que, no início do trajeto, na saída da Conceição da Praia, tiveram dificuldade para caminhar e acabaram fazendo o trajeto em tempo maior do que o normal. E olhem que ACM Neto nem anunciou que iria ao evento. 

Sintonizados
Errou quem disse que Bruno tinha medo de ser ofuscado e preferia que ACM Neto não fosse ao Bonfim. Ao contrário, o prefeito foi principal entusiasta da ida de Neto, que por sinal não esconde de ninguém que hoje o principal projeto dele é reeleição do aliado.

Mudança de postura
Pelo lado governista, é preciso reconhecer: Jerônimo Rodrigues se esforçou bastante para passar uma imagem de simpático, diferente do seu antecessor, Rui Costa, que em algumas ocasiões nem fazia o trajeto inteiro. Jornalistas que cobrem a festa lembraram que Rui tinha o costume de “apertar o passo” e evitava parar demais ao longo do caminho, o que mudou com Jerônimo. 

Autoestima
Já o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) decidiu alçar voo solo e fez boa parte do percurso sozinho, literalmente. Petistas criticaram a postura do vice-governador e acreditam que foi uma tentativa (frustrada) de tirar os holofotes de Jerônimo. Uma figura política, ao perceber a cena, não perdeu a oportunidade: “Na próxima vida eu quero nascer com essa autoestima de Geraldo”, brincou. 

Prioridades invertidas
A ligeireza de Jerônimo em enviar tropas da polícia baiana a Brasília escancarou o contraste com a falta de resposta do governo à escala da violência que se viu no interior do estado um dia antes da quebradeira na capital federal. Em Feira de Santana, por exemplo, seis pessoas foram assassinadas entre a noite de sexta-feira (6) e a madrugada de sábado (7) num intervalo assustador de apenas quatro horas. Também em Feira, naquela mesma madrugada, três internos do Conjunto Penal foram mortos, dois deles decapitados, depois de um racha numa facção criminosa. Nesse período, não se ouviu nenhuma manifestação do novo governador, cuja pauta se concentrou em questões fora de sua alçada no plano nacional. A Bahia ficou em segundo plano. 

Cifras apertadas
De perfil técnico e com competência elogiada pelo segmento, o novo secretário de Segurança Pública da Bahia tem o desafio de virar a chave da política de enfrentamento à criminalidade, a começar pelo orçamento dedicado ao investimento na pasta. Ao longo dos últimos 16 anos os governos Rui e Wagner anunciaram aplicação de valores em segurança pública que pareciam ser expressivos quando estampados nas placas de publicidade, mas que na realidade eram bem pequenos diante do que realmente poderia ser feito. Só para se ter uma ideia, o valor destinado a investimento em segurança pública de 2007 a 2021 não chegou nem a 5% do total de recursos que o estado teve em mãos para aplicar. Do universo de R$ 32 milhões de despesas em investimentos, só R$ 1,3 milhão foi para a Segurança, o que representa 4,07% em 15 anos. 

Consequências trágicas
Os resultados dessa condução desastrosa atingem diretamente a rotina dos baianos com uma onda de insegurança e violência, que praticamente consolidou o Estado como o mais violento do Brasil. Em 2022, segundo o Monitor da Violência – levantamento feito pelo G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública -, a Bahia liderou o ranking dos estados em todas amostras trimestrais que levava em conta homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. A Bahia também viu disparar no ano passado a quantidade de roubos (71.389 ocorrências), que foram 44% em maior número do que os registrados em 2021 (49.601), de acordo com a Polícia Civil.

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