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A ‘última chance’: descubra o que fazer para reduzir os efeitos negativos da idade

O estopim para a mudança foi uma perda familiar. Cinco anos atrás, o pai do empresário Humberto Oliveira, 47 anos, morreu em decorrência dos problemas causados pelo diabetes – esse, por sua vez, resultado de uma vida de hábitos alimentares desregrados. A doença afetou os rins e, nos últimos anos de vida, seu genitor já dependia de hemodiálise. 

Quando morreu, tinha 80 anos.

“Ele tinha a cabeça de uma pessoa jovem, mas o corpo, infelizmente, não acompanhava o mesmo ritmo. Eu falei para mim mesmo que não podia me dar esse direito de não me cuidar. Não queria ficar condicionado àquela máquina de hemodiálise”, lembra o empresário, que define a si mesmo naquele período como “obeso”. 

Assim, de lá para cá, Humberto se tornou outra pessoa – ou, ao menos, alguém com uma rotina bem diferente. Trocou o sedentarismo por musculação diária. As refeições cheias de embutidos, frituras, gorduras e açúcar deram lugar a pratos balanceados e cheios de ingredientes naturais. E ele garante que é uma mudança permanente. “Mesmo que amanhã eu não tenha mais o corpo que tenho hoje, vou levar esses hábitos que adquiri até o último dia da minha vida”, diz. 

Humberto mudou radicalmente num período decisivo. É nessa faixa etária – entre 40 e 50 anos – que o corpo começa a sentir o peso da idade. Ainda que o envelhecimento esteja presente desde os primórdios da vida de qualquer pessoa, é justamente nesse momento que esse processo começa a trazer consequências que vão desde a perda de algumas funções até o aparecimento de doenças crônicas.

Em alguns casos, porém, os sinais começam a vir bem antes. Isso vai depender de cada órgão, como ressalta a médica geriatra Juliana Rocha Queiroz, doutora em Medicina e Saúde e professora da Escola Bahiana de Medicina. 

“Essa questão da idade é muito polêmica. Muitos estudos apontam a partir dos 40 anos, mas o pico de massa óssea que a gente faz é até 18 anos. Depois disso, se não fizer nada para ter aumento, começa a ter declínio de reserva de massa óssea. A partir dos 25 anos, a pele já começa a dar sinais de envelhecimento.  Dependendo dos nossos hábitos, isso pode ser antes ou acelerado”, explica ela, que é preceptora da residência de geriatria das Obras Sociais Irmã Dulce. 

Tipos
O envelhecimento é um processo fisiológico que acontece desde que as pessoas nascem. Mas ele pode acontecer da forma conhecida como “usual” e o chamado envelhecimento saudável. 

“O usual, ou, como algumas pessoas chamam de ‘puro’ ou ‘normal’, é com as mudanças esperadas para acontecer: o envelhecimento de determinados órgãos e sistemas sem intervenção nesse processo. São processos internos, intrínsecos. Já o envelhecimento saudável é o que todos almejamos”, diz a geriatra Juliana Rocha Queiroz. 

Nesse segundo caso, é quando os efeitos indesejados do envelhecimento são postergados. O objetivo seria manter a saúde física e mental, além de evitar impactos funcionais nos órgãos. 

Mas é a partir dos 40 anos que começa aumentar a frequência de algumas doenças ou que as pessoas se tornam mais suscetíveis a outras enfermidades, a exemplo das crônicas ou degenerativas. Por isso, de acordo com a médica oncologista e paliativista Isabela Oliva, professora do curso de Medicina da Unifacs, essa é uma idade para exames de rastreio de doenças específicas, como o câncer. 

É por isso que, quanto mais precoce for o início dos hábitos de vida saudável, mais o organismo fica condicionado a diminuir a frequência dessas doenças. Isabela explica que pessoas mais ativas podem conseguir adiar os efeitos do envelhecimento. 

“Você acaba retardando a velocidade tanto da perda de funções orgânicas como da mobilidade, da força muscular, força cognitiva. Esses estudos também mostram que isso aumenta o limiar para o desenvolvimento de algumas doenças como diabetes, hipertensão, doenças neurológicas e psiquiátricas, que podem ser comuns de aparecer em idosos”, diz. 

Mudança
No caso do empresário Humberto Oliveira, a primeira decisão foi de emagrecer. Queria se livrar dos remédios de pressão e até dos problemas para dormir, porque já tinha até um quadro de apneia do sono. Naquela época, pesava cerca de 130 quilos. Teve indicação médica de cirurgia bariátrica e, após o procedimento, chegou aos 76. 

Logo, porém, Humberto percebeu que não se tratava apenas de emagrecer ou não. “Constantemente, as pessoas me perguntavam se eu estava doente. Quando você começa a perder peso como eu, perde massa magra também e fica com aparência de doente”, lembra. 

Foi quando ele começou a praticar atividade física. Entrou numa academia para fazer musculação e, desde então, pegou gosto pela coisa. Hoje, malha praticamente todos os dias. A alimentação já tinha mudado e começou a fazer acompanhamento com um médico especializado na área ortomolecular. 

Atividade física virou rotina para Humberto (Foto: Paula Fróes/CORREIO)

“Não adianta ter o corpo bonito e a saúde toda deteriorada. Eu tinha consciência que precisava mudar meus hábitos e, associado a isso, tentar manter um corpo agradável para mim”, explica. 

A professora Fernanda Pires, 47, também mudou o estilo de vida por completo após os 40 anos. Ela sentiu que precisava mudar quando notou um caroço na mama. “Foi desespero e alerta, mas graças a Deus era só um cisto e nada grave. Mas o mastologista me informou que tudo de ruim no nosso corpo era alimentado por açúcar”, lembra. 

Sedentária e acostumada a comer massas, bolos, pães e chocolate, decidiu eliminar por completo qualquer derivado de açúcar refinado, assim como alimentos com glúten, carboidratos vazios e bebidas alcoólicas, que costumava beber socialmente. Ela até se assustou quando percebeu que, em três meses, tinha perdido 18 quilos.

“Meu organismo reagiu no terceiro mês pela abstinência do açúcar. Provocou uma hemorragia e parecia que eu estava abortando. Fui ao médico e ele não acreditava no que estava acontecendo”, conta. Depois de uma série de exames e sem nenhum problema que pudesse ter causado aquele quadro, foi liberada. 

Como tinha emagrecido muito, por estímulo dos filhos, ela decidiu começar a frequentar uma academia. Assim, passou a se exercitar diariamente e pratica yoga, pilates, treinamento funcional e fitdance, além dos treinos elaborados pelos professores. Na alimentação, os alimentos pouco saudáveis e industrializados deram lugar a frutas, verduras e leguminosas. 

Mas ela se cuida de forma geral. “Não sou muito vaidosa. Faço o básico como uso diário de hidratante e protetor solar quando estou exposta ao sol. Me sinto com muito mais energia, durmo melhor e me hidrato bastante”, explica. Para Fernanda, o segredo para um envelhecimento saudável é ter consciência e constância. “Não desejo que meu marido e filhos paguem por consequências pelas quais os responsáveis somos cada um de nós”, reforça. 

Exercício
De fato, a prática regular de atividade física tem um papel muito importante no processo de retardar a perda de funções corporais pelo envelhecimento, de acordo com o professor de Educação Física Francisco Pitanga, docente do programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal da Bahia (Ufba). 

“É como se você jogasse para frente a questão da sarcopenia, que é a redução da massa muscular que acontece naturalmente. Nas pessoas mais ativas, essa redução sempre vai ser depois daquelas que não são ativas. Não tem como reverter, mas tem como minimizar”. 

Quem tem uma vida ativa também evita doenças como diabetes e cardiovasculares, já que o bom sistema cardiorrespiratório por meio de atividade aeróbica é considerado imprescindível para manter o envelhecimento saudável. Além disso, estudos desenvolvidos nos dois últimos anos, no contexto da pandemia da covid-19, reforçam que a atividade física reduz a imunossenescência, que é o envelhecimento da capacidade imunológica. “A gente sabe que novos vírus podem acometer a sociedade e tem que manter o sistema imunológico desenvolvido para evitar”, acrescenta Pitanga. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda no mínimo algo entre 150 e 300 minutos de atividade física moderada por semana. Segundo o professor, na hora de escolher qual atividade física vai fazer, a pessoa deve levar em conta tanto a necessidade de treinamento para o sistema cardiorrespiratório quanto para o fortalecimento do sistema muscular. Isso inclui possibilidades que vão desde a musculação e a natação como esportes coletivos e individuais. 

“Já as atividades de alta intensidade já foram mal faladas no passado, mas hoje sabemos que elas podem ser bem desenvolvidas se você for capacitado para tal. Uma pessoa que nunca fez nada não pode começar pela de alta intensidade”, diz, referindo-se a exemplos como Crossfit. O ideal é que a pessoa busque a orientação de um profissional de educação física. 

O sedentarismo é um problema comprovado não apenas para habilidades motoras, mas também para prevenir doenças oncológicas, segundo a oncologista e paliativista Isabela Oliva. “A perda funcional é esperada para qualquer pessoa. A gente tem esse marco dos 40 anos que as doenças começam a aparecer, mas mesmo que seja uma pessoa que já tenha predisposição, com hábitos de vida saudáveis, pode retardar”, acrescenta. 

Ela cita, ainda, dados do Ministério da Saúde de que ao menos 38% das pessoas idosas têm pelo menos um tipo de doença crônica. Além disso, 30% delas têm duas enfermidades ou mais. A pesquisa foi divulgada pelo órgão federal em 2018. 

O cuidado com o envelhecimento deve, segundo a médica, vir desde cedo. Isso porque existe uma memória no corpo desde a infância. Daí vem a importância do estímulo à amamentação e de outros aspectos, como a diminuição da exposição das crianças ao açúcar. 

“Quanto antes tivermos adoção de hábitos de vida saudáveis, melhor para que, no futuro, tenhamos adultos e idosos plenamente saudáveis. Hoje, a gente fala de saúde não só como a ausência de doença, mas como saúde plena e autonomia para contribuir com a nossa sociedade”, completa Isabela. 

Tempo 
Mas não quer dizer que quem passou muitos anos sem esses cuidados não possa se beneficiar de uma mudança de hábitos. O gestor comercial Elielson Baixo, 53, teve uma juventude com muita atividade física. Militar do Exército até os 24 anos, chegou a ser atleta de pentatlo. Depois, porém, foi deixando a atividade física e descuidando da rotina. 

“Quando você chega aos 50 anos, começa a sentir o peso. Às vezes sua mente está bem, acelerada, boa, mas o corpo não acompanha. Você começa a ter insônia, a pressão sobe, vem o estresse do trabalho no dia a dia. Você acaba sentindo esse envelhecimento”, diz ele. 

Esses aspectos fizeram com que, em dezembro do ano passado, ele desse início a uma nova rotina. Começou fazendo caminhadas e, agora, já neste início de ano, passou também para o ciclismo. “Estou começando devagar, 12, 13 quilômetros por dia e a tendência é ir aumentando. Hoje, já sinto vontade de ir mais longe”, conta. 

A dieta antes era repleta de massas, frituras, sanduíches e refrigerantes praticamente todos os dias. Aos poucos, ele começou a tornar esses itens cada vez mais esporádicos. “Eu decidi começar 2023 assim, porque o foco não é somente emagrecer, mas envelhecer mais saudável, sem precisar tomar tantos remédios”, diz. 

De acordo com os diferentes profissionais ouvidos pela reportagem, nunca é tarde demais para dar o primeiro passo. A nutricionista e fisioterapeuta Carolina Dias explica que, enquanto a redução da produção de colágeno e a perda de massa magra começam por volta dos 30 anos, na faixa etária dos 50 isso é acentuado, inclusive com acúmulo de gordura abdominal. Isso é ainda mais frequente em mulheres, devido à menopausa. 

“É muito necessário, a partir dos 30, 40 e 50 anos, fazer suplementação. A gente não tem, na nossa alimentação, todos os minerais e vitaminas necessários para o dia a dia, principalmente quando você acaba restringindo por restrição calórica querendo perder peso”, diz ela, que é sócia da Clínica Carolina Dias. 

Uma das mais indicadas para suplementação é a vitamina D, que além de ajudar na imunidade ajuda a prevenir o envelhecimento cutâneo. Ela orienta ainda que alimentos menos inflamatórios e mais antioxidantes sejam priorizados na dieta. Esse é o caso de itens como o limão, a cúrcuma, o gengibre, a canela, o chá verde e as pimentas.

“Todos são alimentos que ajudam nossas células a combater radicais livres que provocam o envelhecimento. Já os alimentos inflamatórios são os industrializados, aqueles que têm muitos ingredientes na composição na tabela nutricional, além do excesso de leite animal e de açúcar”, acrescenta. 

Outros hábitos importantes são evitar o tabagismo – inclusive o cigarro eletrônico, que se tornou uma febre entre jovens e adolescentes nos últimos anos – e ter horas de relaxamento na rotina. “Quantas horas do seu dia você dedica a você? Além da atividade física, a leitura vai aumentar as sinapses dos neurônios e prevenir o envelhecimento mental”, diz Carolina. 

A geriatra Juliana Rocha Queiroz cita, ainda, evitar o consumo excessivo de álcool e frequentar o dentista de forma regular. Coisas simples como usar fio dental e fazer limpezas necessárias ajuda a prolongar a vida útil da arcada dentária e evitar que os dentes sejam perdidos quando se envelhece. 

“Eu diria que sempre é tempo de se instituir medidas saudáveis, porque ainda que não se resgate o que já perdeu, é possível colocar o pé no freio e diminuir a evolução do envelhecimento. No momento em que você muda a rotina, vai ter muito mais saúde. Melhorando a saúde, vai ter impacto na expectativa de vida”, reforça.

Protetor solar é o principal aliado para evitar envelhecimento da pele

A pele é uma das primeiras a denunciar o envelhecimento. Por isso, a recomendação da Sociedade Brasileira de Dermatologia é pelo uso diário de filtro solar com, no mínimo, fator 30, como destaca a médica dermatologista Renata Pedreira. 

Segundo ela, além da exposição à radiação UV, há radiações como a infravermelha e das luzes branca e azul. Essa última, inclusive, é a luz das telas de computadores e celulares. “Ela leva à maior produção de radicais livres e tudo vai aumentar a degradação de colágeno, que é quem dá estrutura para a pele”, explica. 

Como os raios UV (ou ultravioleta) são cancerígenos, o ideal é usar protetor solar desde cedo. A queimadura solar – ou seja, por exposição solar crônica – na infância já é associada ao maior risco de melanoma, um dos tipos de câncer de pele. 

“A luz azul, apesar de não ser carcinogênica, traz danos ao colágeno e vai acelerar o envelhecimento pela produção de radicais livres, além de propiciar manchas. Na pandemia, muitos melasmas escureceram por maior exposição às telas e pelo aumento de luz branca. O fato de você não estar no sol não quer dizer que não existe radiação”, enfatiza. 

O filtro solar pode ser aplicado desde cedo, assim que a pessoa acordar. Aquela recomendação de que os raios solares de antes das 10h da manhã eram benignos já não vale mais, devido ao processo de aumento da radiação. Além disso, o produto deve ser aplicado no rosto e no pescoço. 

No ano passado, viralizou a foto de uma mulher de 92 anos que tinha aplicado protetor solar apenas no rosto por quatro décadas. A diferença entre o rosto e o pescoço era marcante, com muito mais marcas e manchas no pescoço. A imagem fazia parte de um estudo publicado originalmente em 2021, no Journal of the European Academy of Dermatology and Venerology. 

“O rosto e o pescoço se apresentam junto. A mesma radiação que atinge o rosto também atinge o pescoço, que entrega a idade”, diz a dermatologista. 

Há, ainda, outras orientações que podem ajudar a reduzir o envelhecimento da pele, a exemplo de hidratá-la e beber bastante água. De acordo com Renata, a partir dos 25 anos, é possível dar início aos cuidados anti-idade, com uso de antixoxidantes, a exemplo da vitamina C, e da ácidos renovadores. Na faixa dos 30 anos, quando a produção de colágeno é diminuída, pode ser indicado partir também para procedimentos injetáveis, como botox e preenchimento.

“A gente fala hoje em gerenciamento do envelhecimento. A ideia é envelhecer da forma mais saudável e natural possível para que, no futuro, precise de cada vez menos intervenções. Mas tem que usar o protetor como primeira forma. Se a pessoa não tiver dinheiro para mais nada, compre só o protetor solar”, recomenda. 

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