InícioEntretenimentoCelebridade'Vamos emocionar essa cidade', diz João Jorge sobre Olodum no Carnaval

‘Vamos emocionar essa cidade’, diz João Jorge sobre Olodum no Carnaval

A duas semanas do Carnaval, o Olodum já tem planos para comandar a retomada da festa com o objetivo de deixar o ano marcado na história. Após o show apoteótico no Festival de Verão ao lado da banda Baiana System, João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum e nome indicado do novo governo para presidir a Fundação Palmares, diz que já há discussão para que os dois grupos musicais possam fazer uma turnê juntos no Brasil e em alguns países ao redor do mundo. 

Prestes a ter uma nova geração no comando do Olodum, João Jorge se colocou à disposição para ajudar os mais jovens, mas reforçou que seu compromisso de agora em diante será com o renascimento da Fundação Palmares. Ao CORREIO, deu detalhes sobre a agenda do Olodum no Carnaval e falou sobre como a tradição pode ser uma aliada na inovação musical.

Quem é 
João Jorge Rodrigues é o atual presidente da Fundação Palmares, indicado pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, e presidente do Olodum. Ele é produtor cultural, advogado e mestre em direito público, e militante do movimento negro, filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Foi um dos fundadores, em 1979, do bloco Olodum. Dirigiu a Fundação Gregório de Matos, órgão de gestão cultural da Prefeitura de Salvador, entre 1986 e 1998. Entre 2009 e 2016, integrou o conselho da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). 

Olodum e Baiana System no Festival de Verão. O que foi aquilo? 

Um encontro da juventude com os mais velhinhos. Foi um ajuste de contas entre a luta contra o racismo, a discriminação e, ao mesmo tempo, um empoderamento da juventude. Então, o Olodum se permitiu, aos 43 anos, encontrar com alguém que parece muito com a gente começando. Tem força, dinâmica, beat. E ainda aproveitou para botar os beats dos tambores do Olodum, que são os tambores ancestrais, instrumentos de comunicação que vieram da África para o mundo, que é a matriz e o coração do Olodum, dos blocos afro e da percussão baiana, para juntos dar um recado muito bom que foi: A América Latina quer justiça, os Yanomami precisam de justiça, a mulher negra precisa de justiça. Isso caiu tão bem que as milhares de pessoas que estavam lá foram à loucura com essas mensagens diretas e as indiretas. Acho que foi um grande momento do festival essa possibilidade de inovação. 

Podemos esperar esse encontro novamente no Carnaval? 

Vai haver esse encontro em vários lugares do Brasil e em alguns lugares do mundo. Eu falei com eles logo depois [do show] e disse ‘olhe, nós temos que ir juntos à África, ao Caribe, aos Estados Unidos e à Europa, porque nós temos uma carreira internacional’. A ideia é dar as mãos para fazer isso em outro momento. Russo [Passapusso] falou uma coisa interessante, que é que nós precisamos criar mais e melhores músicas. Naquele dia do festival, o que houve foi música. Houve uma troca, uma simbiose e um envolvimento que talvez quem pensou o festival nem imaginava. E foi o melhor momento do festival. Eu diria que foi um recado do tema do Olodum para esse dia 17 de fevereiro, que é Tambores: a batida do coração, os caminhos da eternidade. Aos poucos, o Olodum vai ficando eterno. 

O senhor objetiva que o Olodum alcance um público local e nacional ainda maior? 

Tudo que nós fizemos nesses 43 anos foi isso. Ensaio no Pelourinho domingo, ensaios na terça-feira, show no Brasil inteiro, shows em 43 países. Se há algo mais democrático da música da Bahia, é o Olodum. 

Quais os planos para o Carnaval? 

Nós vamos emocionar essa cidade na sexta-feira (17), dois anos depois de uma dureza incrível sem Carnaval. Nós vamos sair do Pelourinho 16h, na Casa do Olodum, cumprindo um ritual de partida. Domingo (19), na Barra, somos o primeiro bloco, porque somos o primeiro bloco e banda a vir para Barra quando ainda não tinha Carnaval. Na segunda-feira (20), um bloco só com crianças e adolescentes, o bloco Olodum Mirim. Na terça-feira (21), o bloco afro Pipoca, que já sai há seis anos, quer todo mundo 13h no Campo Grande em direção ao Castro Alves. Ou seja, estaremos no Carnaval com força total e contando a nossa própria história. 

Como será conciliar essa carreira a frente do Olodum com o papel de presidente da Fundação Palmares? 

A Fundação Palmares vai viver um renascimento. Ela foi devastada por um espírito muito ruim, que tentou perseguir a própria comunidade e, de onde essa pessoa estava, prestava serviço a um senhor de escravo. Então, eu vou cuidar da Fundação Palmares, e nove mulheres e três diretores vão tocar o Olodum. É uma nova geração que ascende necessariamente por competência no trabalho, tanto que foi essa geração que fez o encontro do Olodum com Baiana System. 

Esse encontro mostrou que a juventude também curte e pode curtir o Olodum, não é verdade? 

Sim, basta se livrar dos conceitos de tradição como velho, antagonismo ao jovem. No mundo Ocidental, o velho se descartava. Na nossa tradição, os mais antigos são sabedoria, dengo, carinho e amor. O Olodum, aos 43 anos, é jovem, mas muita gente acha que o Olodum parou no tempo. O Olodum não parou no tempo, pelo contrário, o que há de mais moderno na Bahia hoje é a escola do Olodum, é o fato de as mulheres estarem fazendo o Carnaval do Olodum. Se há um jovem na cultura afro-baiana é o Olodum. 

O senhor estará afastado da direção do Olodum para presidir a Fundação Palmares, mas pretende continuar por dentro dos projetos da banda? 

Eu serei uma espécie de conselheiro, desses que a gente falava de sabedoria e de antiguidade. Enquanto eu estiver vivo, tento transmitir a sabedoria e o conhecimento aos mais jovens, dar força espiritual, estimulá-los, sofisticá-los para eles acertarem mais. Mas, na realidade, eu vou tratar, nos próximos quatro anos, de reerguer a Fundação, botar ela para cima e devolver ela para todo o povo brasileiro. 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela

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