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Meirelles critica possibilidade de Lula pedir remoção do presidente do BC: ‘Contradição enorme’

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, o ex-ministro da Fazenda comentou os ataques que o presidente da República tem feito à autonomia da instituição e à manutenção da taxa de juros em um patamar alto

Luiz Cláudio Barbosa/Estadão Conteúdo

Henrique Meirelles é ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda

Divulgada nesta semana, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) piorou a percepção fiscal do país. As declarações dúbias do presidente Lula (PT) a respeito do Banco Central (BC) e a falta de sinalização concreta sobre uma nova regra para substituir o teto de gastos têm elevado os riscos de aceleração da inflação no país, que pode manter os juros altos por mais tempo. Para detalhar este panorama, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Para o economista, não existe justificativa plausível para que o presidente da República peça a remoção de Roberto Campos Neto da presidência do BC: “O presidente da República está falando em exercer uma cláusula legal e solicitar ao Senado a retirada do presidente do Banco Central. Só que isso seria uma contradição enorme. Porque essa cláusula legal permite que se questione o mandato do presidente do Banco Central se ele não cumprir a meta de inflação, se a inflação estiver elevada. Isto é, não tiver subido os juros o suficiente”.

“Temos muitos problemas, então é justificável que a inflação no Brasil tenha ficado mais dois anos acima da meta. Mas o presidente iria argumentar que o presidente do Banco Central não subiu os juros o suficiente e que, portanto, a inflação está abaixo da meta. Em função disso, ele vai pedir a remoção do presidente do Banco Central quando, ao mesmo tempo, ele está atacando os juros altos. As duas coisas não batem. É uma argumentação muito frágil, para dizer o mínimo. É uma discussão política, à medida que será discutida com o Senado Federal”, argumentou. Meirelles classificou a queda de braço entre Lula e o BC como uma “controvérsia desnecessária” e defendeu que a atuação do banco está correta: “O Banco Central simplesmente está fazendo o trabalho dele, normal, não está polemizando com o governo, não está respondendo o governo, não está discutindo com o governo. O Banco Central simplesmente está fazendo o trabalho dele e colocando a taxa de juros no local adequado e em um nível adequado exatamente para combater a inflação, que é a sua função, a sua missão legal. Nada mais do que isso”.

Na opinião do ex-ministro da Fazenda, o presidente da República pode ter certa desconfiança com o atual presidente do BC e ainda está apegado a visões econômicas que deram errado nos governos petistas: “Ele entende que o Banco Central deveria também seguir as opiniões daqueles economistas que prevaleceram muito, inclusive no governo da Dilma, que propõem abaixar a taxa de juros e deixar a inflação subir porque isso é bom para a economia. Não é verdade, isso não funciona em lugar nenhum. O presidente também possa talvez ter alguma preocupação com essa ideia do presidente do Banco Central ter sido nomeado pelo governo anterior. Não sei, isso não está muito claro. O que ele está discutindo objetivamente é a questão da taxa de juros. Agora, ele usa palavras fortes, diz que o presidente do Banco Central está ‘traindo o governo’, e aí tem uma conotação totalmente política. É normal, o presidente da República é um político eleito, enquanto o presidente do Banco Central é o presidente de uma instituição, aprovado pelo Senado Federal”.

Meirelles também ponderou que a promessa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até dois salários mínimos pode não ser uma medida que melhore as condições econômicas do país: “É tudo uma questão fiscal. O governo tem incluído um pacote de gastos muito grandes. Para contrabalancear isso, o ministro Haddad apresentou um programa fiscal, inclusive com aumento de arrecadação e corte de algumas despesas. Só que a isso aí nós iríamos adicionar uma medida política, beneficiando aquele que ganha menos. Só que isso vai adicionar o problema fiscal do país, que já é grave e uma das razões que está mantendo a taxa de juros elevada. Fica muito claro isso na ata do Banco Central divulgada, que mostra claramente que as incertezas fiscais e essa questão da subida da dívida é uma das razões de não poder cortar a taxa de juros”. Por fim, o ex-ministro da Fazenda deu seu palpite sobre o que o governo deveria fazer para criar um ambiente propício à redução da taxa de juros.

“Para começar, tinha que eliminar a polêmica com o Banco Central, o governo tinha que esquecer o Banco Central, deixar o Banco Central fazer o seu trabalho. Convencer a economia, os agentes econômicos, de que o Banco Central vai conseguir controlar a inflação. Um dos aspectos muito importantes da inflação é exatamente essa chamada expectativa de inflação. Quanto que cada pessoa que está formando o preço, seja o padeiro, seja a grande empresa fabricante de automóvel, todos esses formadores de preço precisam acreditar que a inflação vai ser controlada. Com isso, já controla um pouco o preço e isso facilita a queda de juros. Na medida em que o Banco Central possa sair do noticiário, facilita isso e facilitaria a própria queda de juros”, declarou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.

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