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Chacina: veja como o IC descobriu autor de bilhete que atraiu vítimas

Análise de traçado, proporcionalidade e habilidade de punho. Essas foram algumas das estratégias buscadas pelo Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do DF (PCDF) para descobrir a autoria de um bilhete que teria servido de esboço para atrair Thiago Belchior, 30 anos; a esposa dele, Elizamar da Silva, 39; e os filhos do casal ao crime brutal que ficou conhecido como a maior chacina do Distrito Federal.

O Metrópoles esteve no IC/PCDF e constatou, em primeira mão, como funcionou o procedimento que apontou Horácio Carlos, 49 anos, como o responsável pelo manuscrito. Durante duas semanas, equipes do Instituto de Criminalística compararam, minuciosamente, elementos gráficos que ajudaram a esclarecer a autoria do esboço e indicar a presença de quatro caligrafias diferentes em um caderno utilizado pelos suspeitos do crime. O objeto continha dados pessoais das vítimas, como senhas e agências bancárias.

Três dos quatro escritos foram ligados aos seguintes criminosos: Gideon Batista de Menezes, 55; Fabrício da Silva Canhedo, 34; e Horácio. A autoria da pessoa responsável pelo quarto grafismo, no entanto, não foi identificada, podendo pertencer a uma das vítimas ou até mesmo a um novo suspeito.

“Chefe, como está o seu dia? Vou precisar de ajuda urgente”, começa a mensagem. “Thiago, tem como você vir à chácara? Vou explicar o que está acontecendo. Se puder, venha hoje com a Liza [Elizamar] e os meninos”, termina a carta

Durante os exames descritos como grafotécnico e documentoscópico, peritos apuraram, ainda, que o caderno utilizado pelos criminosos era, na verdade, de Ana Beatriz de Oliveira, 19 anos.

Segundo apontou a perícia, um dos envolvidos na chacina teria rasgado as folhas utilizadas pela jovem para deixar apenas páginas em branco – utilizadas no decorrer do crime. No entanto, como Ana escrevia com “certa força”, o formato das palavras registradas por ela ficaram marcadas nas folhas anteriores – o chamado “suco”. Ao estudar o comportamento de escrita da vítima, agentes constataram que o objeto era, de fato, da moça.

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No cativeiro foram encontrados cartões de crédito e um caderno com dezenas de anotações com informações pessoais das vítimas, tais como: número de documentos, senhas e agências bancáriasDivulgação/ PCDF

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Os objetos reforçam a teoria da polícia de que uma das maiores chacinas da história do DF teria como motivação o dinheiro arrecadado pela família nos últimos mesesDivulgação/ PCDF

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Pertences dos membros de família desaparecidaDivulgação/ PCDF

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Divulgação/ PCDF

O procedimentoEm 9 de fevereiro, peritos da Polícia Civil do DF receberam no Instituto de Criminalística Gideon e Horácio para dar início aos exames que identificaram a quem pertencia cada escrita. Cinco dias depois, em 14 de fevereiro, foi a vez de testar as habilidades gráficas de Fabrício e Carloman dos Santos Nogueira, 26 anos.

Carlos Henrique Alves da Silva, 27, o galego, não foi levado pela polícia ao instituto. Indagados, peritos disseram acreditar que os criminosos teriam “passado por uma análise prévia na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá)” antes de serem encaminhados para a perícia.

No IC, os suspeitos reescreveram mensagens encontradas em objetos deixados no cativeiro, no Vale do Sol, em Planaltina (DF) e demais informações solicitadas pelos agentes. O processo, segundo os peritos, durou horas e precisou da ajuda de toda a seção de documentoscopia do instituto para que o laudo fosse concluído o quanto antes.

“O exame grafotécnico parte do princípio de que a escrita é única. Ou seja, não existe, no mundo, duas pessoas que escrevam da mesma forma. Dessa maneira, a gente consegue vincular uma determinada escrita a um único escritor”, comentou Caren Caixeta, perita criminal que atuou no caso da chacina. “No decorrer do exame, comparamos materiais, características e qualidades gerais de escrita, bem como elementos individualizadores que nos ajudaram a chegar em cada autoria”, finalizou.

Peritas criminais do Instituto de Criminalística da PCDF demonstram passo a passo da perícia que constatou o responsável por escrever o bilhete para atrair família para a chacina. Brasília (DF),

No IC, os suspeitos reescreveram mensagens encontradas em objetos deixados no cativeiro, no Vale do Sol, em Planaltina (DF) e demais informações solicitadas pelos agentesBreno Esaki/Especial Metrópoles

Peritas criminais do Instituto de Criminalística da PCDF demonstram passo a passo da perícia que constatou o responsável por escrever o bilhete para atrair família para a chacina. Brasília (DF),

O processo, segundo os peritos, durou horas e precisou da ajuda de toda a seção de documentoscopia do instituto para que o laudo fosse concluído o quanto antesBreno Esaki/Especial Metrópoles

Peritas criminais do Instituto de Criminalística da PCDF demonstram passo a passo da perícia que constatou o responsável por escrever o bilhete para atrair família para a chacina. Brasília (DF),

Durante duas semanas, equipes do Instituto de Criminalística compararam, minuciosamente, elementos gráficos que ajudaram a esclarecer a autoria do esboçoBreno Esaki/Especial Metrópoles

Peritas criminais do Instituto de Criminalística da PCDF demonstram passo a passo da perícia que constatou o responsável por escrever o bilhete para atrair família para a chacina. Brasília (DF),

O exame identificou, ainda, a presença de quatro grafados diferentes em um caderno utilizado pelos suspeitos para anotar dados pessoais das vítimas, como senhas e contas bancáriasBreno Esaki/Especial Metrópoles

Peritas criminais do Instituto de Criminalística da PCDF demonstram passo a passo da perícia que constatou o responsável por escrever o bilhete para atrair família para a chacina. Brasília (DF),

Três dos quatro escritos foram ligados aos seguintes criminosos: Gideon Batista de Menezes, 55; Fabrício da Silva Canhedo, 34; e HorácioBreno Esaki/Especial Metrópoles

Peritas criminais do Instituto de Criminalística da PCDF demonstram passo a passo da perícia que constatou o responsável por escrever o bilhete para atrair família para a chacina. Brasília (DF),

A identidade da pessoa responsável pelo quarto grafismo, no entanto, não foi identificada, podendo pertencer a uma das vítimas ou até mesmo a um novo suspeitoBreno Esaki/Especial Metrópoles

Peritas criminais do Instituto de Criminalística da PCDF demonstram passo a passo da perícia que constatou o responsável por escrever o bilhete para atrair família para a chacina. Brasília (DF),

Bilhete escrito por Horácio Carlos Ferreira Barbosa para atrair Thiago Belchior, 30 anos; a esposa dele, Elizamar da Silva, 39; e os filhos do casal ao crime brutal que ficou conhecido como a maior chacina do DFBreno Esaki/Especial Metrópoles

À reportagem, Larissa Naves, uma segunda perita que atuou no caso, esclareceu que o exame grafotécnico é “essencialmente comparativo”. “O utilizamos quando uma escrita questionada, no caso o bilhete e o caderno, por exemplo, é comparada com um material padrão – colhido dos suspeitos aqui no instituto”, explicou a servidora.

“Além disso, analisamos, ainda, agendas e cadernos pessoais trazidos pela polícia. Esses materiais foram muito úteis, pois teriam derrubado quaisquer tentativas de fraude, o que não foi o caso, uma vez que os suspeitos colaboraram. Depois de muito trabalho, conseguimos finalizar os procedimentos que indicaram a participação de cada um dos envolvidos testados”, pontuou.

Segundo o laudo, concluído com 110 páginas, as principais convergências entre a caligrafia de Horácio com o texto do bilhete encontrado no cativeiro são “a qualidade geral do traçado, o grau de habilidade de punho, a proporcionalidade, os espaçamentos adotados, a inclinação axial, o calibre, os ataques e remates, o andamento gráfico, os aspectos angulares e curvilíneos, bem como as ligações e a morfogênese das unidades e conjuntos gráficos”.

O esboço, que teria sido feito momentos antes de uma mensagem enviada a Thiago por meio do aplicativo WhatsApp, teria sido escrita pelo criminoso baseado no linguajar de Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54 anos, sogro da cabeleireira Elizamar. O intuito, segundo relato dos criminosos, era atrair toda a família de Marcos Antônio para eliminá-los um por um. A motivação do crime seria o terreno de uma chácara, avaliado em R$ 2 milhões, que sequer pertencia a alguma das vítimas.

Maior Chacina do DFSegundo a PCDF, Gideon Batista e Horácio Carlos, que eram funcionários de Marcos, queriam o terreno para vender em seguida. O plano, então, era assassinar toda a família para tomar posse do imóvel.

Os criminosos começaram a planejar a chacina em outubro. No dia 23 daquele mês, alugaram o cativeiro onde manteriam as vítimas. Em dezembro, a ex-mulher de Marcos Antônio, Cláudia Regina Marques de Oliveira, 55, vendeu uma casa por R$ 200 mil. Assim, o plano dos criminosos passou a envolver, também, o restante da família de Marcos.

Em 28 de dezembro, Marcos Antônio, a esposa dele, Renata Juliene Belchior, 52, e a filha do casal, Gabriela Belchior de Oliveira, 25, foram rendidos. O primeiro a ser morto foi Marcos Antônio, no mesmo dia, segundo a PCDF.

Na data, o plano dos criminosos — Gideon; Fabrício Silva Canhedo, 34; Carlomam dos Santos Nogueira, 26; e um adolescente de 17 anos — era render as vítimas e as encaminharem ao cativeiro.

Gideon, então, permitiu a entrada de Carlomam e do adolescente, para simular um roubo à chácara. Horácio Carlos estava no local e fingiu ser vítima. No entanto, Marcos Antônio teria reagido ao suposto assalto e foi baleado na nuca por Carlomam.

Depois disso, o grupo criminoso enrolou Marcos Antônio em um tapete. A vítima estava ofegante e foi levada, com Renata Juliene e Gabriela, para a casa usada como cativeiro, em Planaltina (DF).

Na mesma noite, Marcos Antônio foi esquartejado, ainda vivo, por Gideon e Horácio Carlos. A dupla enterrou a vítima em uma cova improvisada no terreno.

Durante a madrugada, no cativeiro, o adolescente entrou em pânico ao ver a brutalidade da ação, pulou o muro e fugiu do local.

4 de janeiroOs criminosos levaram Cláudia Regina e a filha dela, Ana Beatriz Marques de Oliveira, 19, para o local do cárcere.

O grupo conseguiu render a vítima ao simular — com o celular de Marcos Antônio — que Gideon e Horácio Carlos ajudariam na mudança para a nova casa de Cláudia Regina, pois ela havia vendido o imóvel anterior.

Quando Cláudia Regina e a filha Ana Beatriz entraram na casa nova, acabaram rendidas por Carlomam, enquanto os demais também fingiam ser vítimas.

As duas foram levadas para cativeiro: Renata Juliene e Gabriela ficaram em um cômodo; Cláudia Regina e Ana Beatriz, em outro.

12 de janeiroThiago Gabriel recebeu um bilhete que o chamava, com a esposa Elizamar da Silva, 39, e os filhos do casal, até a chácara no Itapoã. Os criminosos escreveram um termo usado por Marcos Antônio para tornar a mensagem convincente.

Lá, Thiago acabou rendido. A cabelereira Elizamar foi para o endereço só após sair do trabalho, à noite. Ao chegar, também foi feita refém.

Sem apoio do adolescente, que não quis mais participar do crime, o grupo precisou de um novo ajudante: Carlos Henrique Alves da Silva, 27, conhecido como “Galego”.

De lá, os criminosos seguiram para Cristalina (GO), com Elizamar e os três filhos dela, onde asfixiaram as vítimas e queimaram o carro da cabeleireira. Thiago Gabriel ficou no cativeiro.

“Sempre nas ações de queimar corpos e levá-los para fora do DF, estavam presentes Carlomam, Horácio e Gideon. O Fabrício ficava cuidando do cativeiro”, disse Ricardo Viana, delegado responsável pelo caso.

De madrugada, Carlomam, Horário Carlos e Gideon dirigiram com Renata Juliene e Gabriela, no carro de Marcos Antônio, até Unaí (MG). Lá, eles as asfixiaram e incendiaram o veículo com os corpos das vítimas dentro.

Devido às queimaduras, Gideon não participou dos outros assassinatos.

15 de janeiroThiago Gabriel, Cláudia Regina e Ana Beatriz deixaram o cativeiro, no Vale do Sol, em Planaltina (DF) ainda com vida. No entanto, foram levados com os criminosos para um terreno no Núcleo Rural Santos Dumont, a cerca de 5km de onde estavam, onde foram esfaqueados perto de uma cisterna. Em seguida, os assassinos jogaram os cadáveres das vítimas dentro do poço.

“Os criminosos sabiam exatamente o local onde esses corpos ficariam. A vítimas saíram da chácara com vida, e quando chegaram ao local dos assassinatos, foram mortas por objeto cortante”, afirmou o delegado Ricardo Viana.

“[Os corpos de] Ana Beatriz, Cláudia Regina e Thiago Gabriel foram jogados no interior da cisterna e, depois, cobertos com pedras, calhas e terra”, completou.

A execução do plano durou 18 dias. Para a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), os executores da chacina formam uma associação criminosa armada.

PenasAo todo, cinco pessoas estão presas por envolvimento na morte de 10 pessoas da mesma família. Os crimes pelos quais foram denunciados, de acordo com a participação de cada um, são:

Gideon Batista de Menezes: homicídio triplamente qualificado, homicídio duplamente qualificado, ocultação e destruição de cadáver, corrupção de menores, sequestro e cárcere privado, extorsão mediante sequestro, constrangimento ilegal com uso de arma, associação criminosa e roubo.Horácio Carlos Ferreira Barbosa: homicídio quadruplamente qualificado homicídio triplamente qualificado, homicídio duplamente qualificado, ocultação e destruição de cadáver, corrupção de menores, extorsão mediante sequestro, sequestro e cárcere privado, constrangimento ilegal com uso de arma, associação criminosa, roubo e fraude processual.Carlomam dos Santos Nogueira: homicídio quadruplamente qualificado, homicídio triplamente qualificado, extorsão mediante sequestro, corrupção de menor, ocultação e destruição de cadáver, sequestro e cárcere privado, ameaça com constrangimento ilegal com uso de arma e roubo. uso de arma, associação criminosa.Carlos Henrique Alves da Silva: homicídio duplamente qualificado e sequestro e cárcere privado.Fabrício Silva Canhedo: extorsão mediante sequestro, associação criminosa, roubo e fraude processual.Um adolescente de 17 anos foi apreendido por suspeita de participação no crime. No entanto, ele não é alvo da denúncia do MPDFT. Somadas, as penas dos cinco acusados podem chegar a 380 anos de prisão. Contudo, no Brasil, o prazo máximo para permanência na cadeia é de até 40 anos.

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