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Segundo suspeito por matar mulher trans no oeste da Bahia é preso e confessa crime

Um segundo suspeito de matar a mulher trans Lorena Fox foi preso nesta quarta-feira (19), em Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano. O homem de 27 anos confessou o crime, segundo a Polícia Civil. Outro envolvido no assassinato foi preso no último dia 15. Lorena foi achada morta no dia 1º de março, seis dias depois de desaparecer na cidade.

Segundo a Polícia Civil, o suspeito preso hoje disse que matou Lorena depois de um desentendimento por conta de valores cobrados por um programa sexual. Ele e o comparsa a agrediram até a morte usando diferentes instrumentos. Depois, atearam fogo ao corpo da vítima.

“Com a prisão dele, nós concluímos as investigações policiais a respeito do crime, que chocou a sociedade luiseduardense e principalmente a comunidade LGBTQIAPN+, que desde o início das investigações vinha cobrando junto ao Ministério Público e entidades não-governamentais uma atuação incisiva da Polícia Civil no tocante à identificação dos autores”, disse o delegado Joaquim Rodrigues de Oliveira, titular da delegacia do município.

O preso, que não teve nome divulgado, passou por exames de lesões corporais e está custodiado em uma unidade policial, aguardando transferência para o sistema prisional.

Relembre o caso
Lorena vivia em uma casa de prostituição dividida entre oito mulheres trans e travestis na cidade, onde moram 108 mil pessoas. A 2,5 mil quilômetros de distância, no Rio Grande do Sul, Thaynara Sabbath, 30, recebeu uma mensagem que falava sobre o desaparecimento da irmã, enviado por uma colega dela. 

“Minha irmã morava lá há anos, a pessoa morre de forma tão brutal e ninguém se comove?”.

A notícia chegou à Delegacia, mas ninguém encontrou Lorena, moradora da cidade há dez anos. Às 15h do dia 1º de março, um operador de máquina roçadeira encontrou o corpo de Lorena.

Sapato encontrado ao lado do corpo de Lorena (Foto: Acervo Pessoal/Sigi Valares)

Na certidão de óbito, a causa da morte é citada como “traumatismo e fratura do crânio”. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 131 pessoas trans e travestis foram assassinadas no Brasil em 2022 – 7 na Bahia e 52% com idade entre 18 e 29 anos. A organização afirma, baseada no projeto norte-americano Trans Murder Monitoring, que vivemos no país onde mais pessoas trans são mortas violentamente, seguido pelo México. 
 
Quando soube da morte da irmã, Thaynara teve medo: das circunstâncias da morte nunca serem esclarecidas e dos culpados continuarem livres. Contra isso, como não podia deixar os dois filhos sozinhos, pediu ajuda do ex-marido, que saiu de São Paulo rumo a Luís Eduardo Magalhães.
 
A investigação paralela e o contexto de violência
Duas semanas antes do sumiço de Lorena, uma notícia correu entre as garotas de programa: uma delas, mulher trans, teve as costas atingidas por um tiro, às 4h do dia 9 de fevereiro. Sobreviveu porque a costela protegeu os pulmões.

O atentado contra a mulher, a quem chamaremos de Nina, não foi reportado à polícia pelas equipes de saúde, que tinham obrigação legal de fazê-lo.

“Já estive à beira da morte várias vezes lá. Deus já me livrou várias vezes. É uma cidade violenta, eles [clientes homens] saem com a gente, todo mudo gosta de trans, da madrugada, e depois querem bater”, conta ela, que só lembra de correr ao ver a proximidade de dois homens e ser atingida, próximo à antiga rodoviária.

Ao receber alta da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Lorena quem a ajudou na mudança de casa. Ainda se recuperava ao ser informada do desaparecimento da amiga, no dia 23 de fevereiro: ela deixou o terminal de transportes onde Nina foi baleada e entrou no carro de dois homens. 

Luís Eduardo Magalhães vista de cima (Foto: Agusto Isensee/Divulgação) 

Passados três dias do sumiço, o ex-cunhado de Lorena, Sérgio da Silva Filho, desembarcou na cidade para ajudar, informalmente, nas buscas. Foi quando descobriu o contexto de exploração, violência e dívidas que envolviam o cotidiano de Lorena. Por lá, também conversou com colegas da vítima.

“O que acontece ali onde ela mora é muita exploração sexual”, afirma o gerente de um restaurante na capital paulista.

A prostituição não é ilegal, mas quem cobra porcentagem do trabalho das prostitutas pode responder por exploração sexual e ser preso por até cinco anos.  
 
Na delegacia, após a descoberta do corpo de Lorena, Sérgio ouviu que os únicos pertences da ex-cunhada eram o Registro Civil e um cachorro, Jhon – agora ele está na casa de Thaynara.

“Lorena só tem uma roupa do corpo. Nem celular ela tinha, em 10 anos? Eu e a cafetina dela chegamos a discutir, mas ficou assim. Não sei se é porque ela é trans, ou o quê, mas nada é explicado”, conta Sérgio. 

A morte de Lorena intensificou o medo entre mulheres trans e travestis que se prostituem na cidade. Motivada pelo temor de ataques futuros, Nina voltou para casa na última semana. “Estou levando desse lugar, nesse corpo, só cicatriz”.
 

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