Moradores do Santo Antônio Além do Carmo, além de curiosos e turistas seguiam em direção à igreja do Santo Antônio para acompanhar a lavagem da escadaria do templo religioso na manhã deste domingo (4). Com músicas de religiões de matrizes africanas, misturadas com canções do catolicismo, o público apreciou mais 8ª edição do evento.
O cortejo saiu do Quartel do Barbalho, passou pela Rua Siqueira Campos, Rua dos Adobes, Rua dos Marchantes, Cruz do Pascoal e Rua Direita do Santo Antônio, chegando na igreja em frente à praça, onde ocorreram os shows para a comunidade e visitantes.
O coordenador do bloco cultural Luzes da Ribalta, José Lenilson, que estava à frente da organização, explicou que a lavagem aproveita o primeiro domingo de junho para fazer o evento, e segue até o dia 13, mantendo a tradição da trezena de Santo Antônio.
“A igreja sempre tem um representante no evento que fica lá no início do cortejo e atrás tem pessoas do candomblé, fazendo essa mistura de religiões que só Salvador tem e respeita. As baianas chegam na igreja e lavam as escadarias, tem todo o movimento também das bandas, que hoje tem Os Filhos de Gandhy”, explica.
Para os moradores, o evento é importante para mostrar que a comunidade se mantém viva com as tradições locais. Para quem nunca soube do cortejo, como Carolina Santos, dona de uma agência de turismo, a lavagem é essencial para o respeito da miscigenação de religiões.
“É bom que tenha esses eventos, misturando as religiões, porque estamos vivenciando momentos de muito preconceito, muita intolerância religiosa, então é necessário que a população ajude a quebrar esses preconceitos. Também é importante que os próprios soteropolitanos passem a fazer mais turismo na cidade, conhecendo mais do povo e as manifestações culturais”, diz.
O início de tudo
O padre Ronaldo Magalhães, da Paróquia Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador, explicou que o começo do evento foi a pedido dos próprios moradores. A igreja abraçou a celebração e permanece fazendo a organização todos os anos. Neste ano, apenas dois grupos estiveram no cortejo, as baianas e poucas pessoas da banda dos Filhos de Gandhy, já que, segundo o religioso, “as despesas são altíssimas”.
“A igreja apoia no que pode. A organização começa a partir de abril, começam a reunir, se vão colocar poucos ou mais grupo. A comunidade acaba ajudando comprando as camisas, indo para os eventos que fazemos no próprio bairro também”, explica o padre, que reforçou também a ajuda de terreiros que ficam ao redor da comunidade.
Humberto Guimarães, professor de biologia pai de santo, se juntou com o padre Ronaldo Magalhães para iniciar os primeiros festejos, conseguindo unir o catolicismo e o candomblé, unindo as religiões, deixando de lado qualquer tipo de preconceito.
“Aqui no bairro não tinha nada, eu abri com um bloco e a lavagem tem oito anos. Começou como uma brincadeira mesmo, e agora fazemos rifa, forró, tudo para angariar fundos para fazer o que fazemos aqui. Este ano veio pouca gente, mas já teve anos que o bairro ficava completamente tomado de pessoas”.
Aos 80 anos, Humberto pretende se aposentar da organização do festejo, principalmente porque, segundo ele, acaba ficando com toda responsabilidade para si, o deixando ainda mais cansado. “Não estou aguentando tanto, eu gosto muito fazer tudo isso, mas devo deixar para os próximos organizadores”.