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Agora é muito tarde, Bolsonaro, e Inês é morta

Bolsonaro foi ao Congresso, e mais tarde à CNN, dizer em entrevista amigável que sua eventual condenação pelo Tribunal Superior Eleitoral “será péssima para a democracia”. (Não seria o inverso?). Cobrou ao tribunal que o absolva como fez em 2017 com a chapa Dilma-Temer, acusada de abuso de poder político.

Naquela ocasião, havia excesso de provas para condenar Dilma que já não era presidente, e Temer que a sucedeu. Mas por 4 x 3, os dois acabaram se safando. Prevaleceu o entendimento de que era preciso garantir “a governabilidade”. O voto decisivo foi dado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

No Congresso e na CNN, Bolsonaro afirmou que foi graças àquela decisão que Alexandre de Moraes pôde tornar-se ministro do Supremo, indicado por Temer. Mentiu, é claro. Seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também mentiu ao repetir o que o pai disse. Moraes já era ministro do Supremo.

Se Bolsonaro perder os direitos políticos por 7 x 0, irá para o lixo seu discurso de vítima do sistema. Se perder por 6 x 1, ainda será ruim. Daí a pressão sobre o ministro Nunes Marques, nomeado por ele. Não basta que Marques vote para absolvê-lo: terá de pedir vista do processo para suspender o julgamento por até 90 dias.

Quem sabe assim, um dia desses, por exemplo, Moraes não é fulminado por um raio disparado do céu? Ou dois ou três ministros não se arrependem do voto que deram ou dariam a favor da condenação de Bolsonaro? Mesmo que tenham votado, poderão mudar de opinião até a retomada do julgamento.

A tornar-se inelegível por oito anos, o ideal para Bolsonaro seria perder por um placar apertado. Então,diria que um único voto, ou dois, ou três foram capazes de derrotar os milhões de votos que recebeu em outubro de 2022 para se reeleger presidente. Na verdade, Bolsonaro cometeu um erro que Lula soube evitar.

No caso da Lava-Jato, Lula intuiu que sua defesa deveria ser mais política do que jurídica. Recusou a sugestão de exilar-se para não reforçar a suspeita de que era culpado pelos crimes que lhe atribuíam. Recusou também outra sugestão – a de fazer um acordo com a Justiça para não ter que amargar tanto tempo preso.

Lula ficou preso 580 dias, mas deixou a cela em Curitiba por decisão do Supremo, e seu principal algoz, Sérgio Moro, que atuou em dobradinha com a acusação, foi considerado um juiz parcial. Bolsonaro, não, preferiu calar-se. Só voltou a abrir a boca a poucas horas de começar a ser julgado. Agora, é tarde, Inês é morta.

Desagradou aos aliados que recomendaram o silêncio para não piorar sua situação. Continuará a desagradá-los. Às pressas, encomendou uma manifestação popular para o recepcionar, hoje, no aeroporto de Porto Alegre. Não tinha nenhuma viagem marcada para visitar o Rio Grande do Sul. Ali, sente-se em casa.

Vá gostar no inferno de atirar seguidas vezes no próprio pé como se ele fosse blindado. Que infelicidade! Bolsonaro está destinado a passar à história como o único governante de extrema-direita do mundo que na segunda década do século XXI simplesmente não conseguiu se reeleger e ainda por cima foi punido.

Desgraça pouca é bobagem.

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