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Guerra entre Israel e Hamas vira combustível para oposição em meio a esforço do governo para condenar terrorismo

Uma pesquisa divulgada ao longo desta semana pela Quaest revelou que a guerra entre Israel e o Hamas só não superou os atos do 8 de Janeiro em mobilização política nas redes sociais. Entre os dias 7 e 16 de outubro, a empresa detectou mais de 10 milhões de menções ao conflito. O pico de citações ao conflito no Oriente Médio ocorreu no dia 10, quando uma série de conteúdos com notícias falsas ganhou força – entre os exemplos, a decapitação de bebês por terroristas. A avalanche de publicações é uma espécie de pano de fundo do que ocorreu entre os parlamentares brasileiros. No Congresso Nacional, a guerra virou combustível para a oposição, que explorou antigos posicionamentos de figuras centrais do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apresentou requerimentos de convocações de ministros do petista. Nesta sexta, o chefe do Executivo subiu o tom contra o grupo terrorista, em mais uma demonstração de como o Planalto tem agido para evitar a impressão de que há conivência com a barbárie. “Fico lembrando que 1.500 crianças já morreram na Faixa de Gaza. Que não pediram para o Hamas fazer o ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel, mas que também não pediram que Israel reagisse de forma insana e os matassem”, disse o presidente durante evento em comemoração aos 20 anos do Bolsa Família.

Parlamentares do Novo e do PL, como Marcel van Hattem (Novo-RS) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), respectivamente, apresentaram requerimentos de convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim. O filho do ex-presidente da República assina dois pedidos. Um deles visa explicar “que medidas estão sendo adotadas após o ataque terrorista do grupo Hamas e qual é a posição oficial do Brasil em relação ao grupo terrorista e às violações que estão sendo praticadas contra o povo israelense”. Em paralelo, um grupo de parlamentares coleta assinaturas para que tramite em regime de urgência um decreto legislativo que susta o Acordo de Cooperação Técnica entre o governo brasileiro e a Organização para a Libertação da Palestina, em nome da Autoridade Nacional Palestina, firmado em Ramallah, em 17 de março de 2010. Por fim, líderes da oposição também passaram a repercutir uma nota em apoio ao Hamas assinada ainda em 2021 por alguns deputados do PT, entre eles Alexandre Padilha (SP) e Paulo Pimenta (RS), ministros das Relações Institucionais e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), respectivamente. Também pelas redes sociais, uma publicação na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro afirma que o Hamas apoia o governo Lula recebeu mais de 1,9 milhão de visualizações e mais de 70 mil curtidas.

A declaração de Lula sobre o Hamas proferida nesta sexta-feira é considerada um ponto de inflexão pelo cientista político e especialista em relações internacionais Leandro Consentino. “A mudança na retórica presidencial é justamente porque [o Brasil] ficou muito mal perante à opinião pública”, iniciou. “Pegaria muito mal se continuasse com a retórica de que o Hamas não é um grupo terrorista. É uma tentativa de correção dos rumos que pode ou não surtir um efeito, depende de como a oposição vai explorar isso”, acrescentou. Até aqui, o Planalto batia na tecla de que vinha adotando a mesma classificação da Organização das Nações Unidas (ONU), que ainda não classifica o Hamas como um grupo terrorista. Apesar disso, o governo agiu para evitar um desgaste relacionado à guerra no Oriente Médio. Um exemplo desta preocupação foi a demissão do então presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Hélio Doyle, que, como a Jovem Pan mostrou, foi destituído do cargo após endossar uma publicação anti-Israel nas redes sociais. Ele repostou a seguinte mensagem: “Não precisa ser um sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”. Segundo o próprio Doyle, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT), informou o descontentamento com a repercussão do caso.

A força-tarefa do governo vai de encontro com uma corrente em alta nas redes sociais. Dados divulgados pela empresa Palver, que monitorou mais de 40 mil grupos públicos de Whatsapp e Telegram, mostram que mais de 15 mil mensagens trocadas versam sobre a guerra no Oriente Médio. Destas, 20,8% afirmam, de forma equivocada, que Lula apoia o grupo terrorista Hamas. Em uma das mensagens que propagam desinformação, um remetente afirmou que o chefe do Executivo brasileiro teria supostamente financiado os ataques ao povo israelense. A organização palestina de direitos digitais “7amleh” constatou mais de 19 mil casos de discurso de ódio contra palestinos na rede social X (antigo Twitter), incluindo referências ao ataque ocorrido no hospital Al-Ahli. A entidade criticou a permissividade da rede social X em não proibir esse tipo de conteúdo. A brasileira Quaest, por sua vez, revelou que três em cada quatro menções nas redes foram categorizadas como pró-Israel, o que corresponde a 78% das publicações que fazem menção ao conflito. Entre os dias 7 e 16 de outubro, mais de 10 milhões de menções à guerra foram realizadas por cerca de 530 mil usuários de diferentes redes sociais.

“As manifestações em apoio a Israel predominaram no campo político da direita, de acordo com os dados da Quaest, assim como uma reprovação da posição de Lula em demonstrar solidariedade ao povo palestino”, escreveu Felipe Nunes, diretor da empresa, em seu perfil no X. “Entre a esquerda, o monitoramento detectou maior tendência de defesa à criação de um Estado da Palestina, repúdio às políticas de Israel para os territórios e elogios às ações do presidente e do governo no debate diplomático e no resgate de brasileiros que estão nas áreas de conflito. Mas Lula enfrenta críticas também nesse campo ideológico, entre os mais radicais, por associação entre o Hamas e o terrorismo”, finalizou.

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