InícioEditorialPolítica NacionalSob Lula, Brasil muda posição na COP28 e pede compromisso com floresta

Sob Lula, Brasil muda posição na COP28 e pede compromisso com floresta

Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente Lula (PT) 08 de dezembro de 2023 | 20:30

O Brasil tenta emplacar na COP28, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a decisão de zerar o desmatamento ilegal no mundo até 2030. A meta já compõe o compromisso brasileiro no Acordo de Paris, mas o Itamaraty mantinha posição histórica contrária a intervenções internacionais sobre a conservação do território.

A proposta consta no rascunho do texto em negociação, divulgado nesta sexta-feira (8) pela presidência da COP28, que acontece em Dubai até o próximo dia 12. Há três opções de texto para o compromisso.

A primeira coloca 2030 como prazo para combater e reverter o desmatamento, citando também a necessidade de alinhamento com o novo marco global de biodiversidade, aprovado pelos países no final do ano passado em um processo paralelo às negociações climáticas, a Convenção de Diversidade Biológica da ONU.

A segunda opção vai direto ao ponto dos recursos financeiros, enfatizando sua importância para a implementação de medidas como o combate ao desmatamento, enquanto a terceira linguagem proposta pelos países é ainda mais genérica e se limita a “convocar a comunidade internacional a apoiar a restauração de ecossistemas”.

A diversidade de alternativas reflete a falta de consenso em torno do tema. Segundo observadores das negociações, o Brasil tem encontrado resistência à proposta entre os vizinhos amazônicos e outros países detentores de grandes florestas, que, assim como o Brasil no passado, resistem a aderir a um compromisso que gerará cobranças internacionais sobre a gestão do território nacional.

Em agosto, em Belém, ao conduzir a Cúpula da Amazônia, o Brasil ensaiou a proposta com os países florestais, mas não teve sucesso e os dois compromissos assinados durante o evento —um com os vizinhos amazônicos e o outro com os gigantes florestais do Congo, da República do Congo e da Indonésia— evitaram se comprometer com o desmatamento zero, citando de forma mais vaga o compromisso com o combate ao desmate e a conservação dos ecossistemas.

A reportagem apurou que a virada de posicionamento acontece por conta da nova conjuntura criada pelo governo Lula (PT), que mudou o cenário climático para o país.

Historicamente, o Itamaraty vinha defendendo em conferências ambientais que uma determinação internacional sobre a gestão dos territórios feriria a soberania nacional. A conservação dos ecossistemas naturais, portanto, deveria ser decidida por cada país.

Nas conferências do clima, a diplomacia brasileira ficava confortável em apontar o setor energético como o principal causador da crise do clima, já que, diferentemente da maior parte do mundo, o Brasil tem uma matriz energética altamente renovável e pouco dependente de combustíveis fósseis.

O Itamaraty repetiu nos últimos 30 anos que o problema do clima é energia, não florestas. Sob Lula, o jogo virou.

Lula passou a usar o mote do desmatamento zero dentro e fora de casa, como forma de conquistar apoios desde a campanha eleitoral, marcando oposição ao governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), justamente em um dos temas que mais lhe custou escândalos internacionais.

O compromisso também buscou reagir aos movimentos da União Europeia, em um contexto de negociação do acordo comercial UE-Mercosul, da legislação contra importação de desmatamento e também à taxa de carbono na fronteira. O recado que Lula tentou passar aos países ricos é que eles não precisariam se valer de medidas mais duras, pois o Brasil já garantiria a conservação da amazônia, maior floresta tropical do mundo.

Por outro lado, o Brasil de Lula passou a apostar na abertura de novas fontes de exploração de petróleo, como na Foz do Amazonas, criando uma nova frente de disputa com ambientalistas e cientistas dentro e fora do país.

Embora ainda não seja parte do problema, por não depender dos combustíveis fósseis, o Brasil propõe nas negociações da COP28 que o abandono da matriz fóssil seja iniciada pelos países desenvolvidos, de modo que os países em desenvolvimento possam apostar nas fontes fósseis por um período maior.

O calendário diferenciado é sinérgico aos planos do governo atual de estender a exploração petrolífera, de modo que o país esteja entre os últimos da fila a abandonar as fontes fósseis —embora já seja um dos primeiros da fila das renováveis.

Ana Carolina Amaral/Folhapress

Você sabia que o Itamaraju Notícias está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.

Últimas notícias

Adex, Sebrae, APES e UPB realizam encontro de gestores e lideranças pelo desenvolvimento no Extremo Sul

O Sebrae foi parceiro do Encontro com Novos Gestores para o quadriênio 2025-2028, promovido...

Dinheiro no bolso: pagamento do 13º coincidirá com dia da black friday

Neste ano, um fato raro acontece: o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro...

Prima da Antibaixaria? Vereador apresenta projeto de lei para vetar contratação de artistas com músicas explícitas

Um projeto de lei proposto pelo vereador Alexandre Aleluia (PL) pode dar fim a...

Naiara Azevedo diz ter sido excluída de especial de música sertaneja

A cantora Naiara Azevedo afirmou que foi excluída do especial Amigas, que reuniu nomes...

Mais para você